Todas as doenças possuem sintomas que as caracterizam. Quando estão presentes, algo não está bem na saúde das pessoas. Por meio de exames mais apurados e de uma boa investigação clínica, é possível diagnosticar e tratar as causas da doenças.
Reduzir e eliminar os sintomas é muito necessário para aliviar o sofrimento e prejuízo que tais manifestações causam na vida da pessoa. Mas não podemos ficar só por aí. Sem tratar as causas da doença, quando estas são conhecidas, nosso tratamento fica incompleto, abrindo a possibilidade para cronificação, volta da doença ou a morte.
Não é de hoje que o nosso Brasil vem sofrendo de uma doença muito grave, um câncer, chamado corrupção político-partidária. Um conluio entre vários partidos políticos e seus integrantes com o objetivo de roubar o dinheiro dos contribuintes, a modo de enriquecer e se manter no poder. Essas metástases políticas se espalham pelas estatais e agências “reguladoras”, criando pontes com grandes empresas privadas para viabilizar desvios de recursos.
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O modelo de funcionamento desta doença hedionda é relativamente simples e circular. O dinheiro dos impostos é destinado às empresas “parceiras” através de financiamentos, obras e serviços superfaturados contratados pelo Executivo que, por sua vez, devolve parte deste dinheiro em forma de propinas e/ou “doações” oficiais aos candidatos e partidos políticos. Quando necessário alterar emendas e leis, parte do Legislativo entra nessa. Se precisa “olhar” para o outro lado, alguns agentes do Judiciário são prospectados. Em resumo, as empresas são “gafanhotos” de políticos e partidos e quem paga a conta sou eu e você.
Tudo vinha funcionando muito bem para esta vil doença, num equilíbrio entre o câncer e o hospedeiro. Ainda sobrava um pouco para pagar salários e construir uma coisinha aqui, outra ali. Mas ultimamente nestes 15 anos a doença ficou agressiva demais. Consumiu todos os nossos recursos. O hospedeiro agoniza. Saúde, educação e segurança pública em colapso. Canteiros de obras abandonados. Salários do funcionalismo atrasados. Futuro incerto para aposentados. A morte do Estado é iminente.
Eis que surge um tratamento. Começou muito acanhado em 2007 com o julgamento e condenações do Mensalão. Ganhou considerável reforço com a Lava Jato e tantas outras operações que visam expor as entranhas da corrupção à luz do conhecimento público. Delações, prisões, condenações, repatriamentos e várias medidas na tentativa de conter a avidez dos corruptos e corruptores.
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Todos esses tratamentos, porém, são sintomáticos e paliativos. Dão um alento, mas não revolvem nada. A causa da doença ainda está livre, leve e solta. É o sistema que elege, concentra recursos e administra o Estado que perpetua a doença. Se não mudar as regras, troca-se os nomes, troca-se as legendas e a roubalheira continua. Enquanto não diminuirmos o Estado, restringindo sua fome de impostos; acabarmos com o financiamento público de partidos (fundo partidário); descentralizarmos os recursos, mantendo-os nas cidades onde moramos para fiscalizarmos melhor (modificando o pacto federativo) e banirmos os condenados por corrupção da política estaremos somente aliviando sintomas e não tratando a doença.
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