Polícia

“Sinto um misto de frustração e raiva”, afirma santa-cruzense que foi vítima de Nego Di

Júlio Silveira comprou aparelhos de ar-condicionado, celulares e TV que nunca recebeu | Foto: Divulgação

No início de 2022, o objetivo do santa-cruzense Júlio Cézar Silveira, de 38 anos, era trocar de carro. Pensava em vender o veículo que tinha e fazer um financiamento para quitar o novo. Contudo, viu na internet uma oportunidade de agilizar a aquisição. Amplamente divulgada pelo influenciador, humorista e ex-BBB Dilson Alves da Silva Neto, o Nego Di, a loja Tá Di Zueira oferecia produtos com preços muito abaixo do mercado.

Para se ter uma ideia, um ar-condicionado de 12 mil BTUs que, nas lojas brasileiras, custa cerca de R$ 2 mil – e nos freeshops uruguaios, por volta de R$ 1,1 mil – estava sendo vendido a R$ 799,90. Isso poderia gerar desconfiança, mas o fato de uma pessoa pública, que trabalha com publicidade, estar anunciado e tratando como sua a loja, dava uma certa credibilidade.

LEIA MAIS: Nego Di é preso por golpe com loja virtual

Publicidade

Foi acreditando nisso que Júlio adquiriu 23 aparelhos de ar condicionado; dois iPhones 13 e uma televisão modelo smart, 4K, de 70 polegadas, da marca Samsung. Mal sabia que não receberia produto algum, terminaria com um prejuízo de R$ 30,5 mil e ficaria a pé, pois não conseguiria o dinheiro para adquirir o novo carro. “Pretendia revender os aparelhos por um preço justo, mais barato do que nas lojas, a amigos e conhecidos”, disse o morador do Bairro Santo Inácio à Gazeta do Sul.

“Essa margem de lucro, vendendo para pessoas próximas, ajudaria na aquisição do carro sem precisar do financiamento. Hoje sinto um misto de frustração e raiva”, ressaltou. O gerente administrativo de um laboratório de patologia é um dos denunciantes do caso na Justiça e um dos principais organizadores de um grupo de WhatsApp nacional, chamado Di Preso Oficial, que reúne vítimas dos crimes de estelionato investigados pela Polícia Civil e Ministério Público, que têm como alvos Nego Di e Anderson Boneti.

LEIA MAIS: VÍDEO: Polícia Civil divulga momento da prisão de Nego Di

Publicidade

“Fiquei um ano a pé, mas consegui me reestabelecer com o meu trabalho. Fica uma sensação ruim. É como tu ser enganado por um conhecido, uma pessoa próxima, pois acompanho ele desde os primeiros trabalhos.”

Santa-cruzense Júlio Cézar Silveira gastou mais de R$ 30 mil na loja virtual divulgada pelo influenciador, que está preso. Produtos não foram entregues | Foto: Divulgação

Estratégia de entregar alguns produtos

Júlio era um seguidor de Nego Di e acompanhava as suas publicações nas redes sociais. “O cara é uma figura pública. Desde o início ele falava que os clientes não estavam comprando de outras pessoas, a loja era dele, comprando dele, e caso os produtos não chegassem, ele estornava do dinheiro dele”, relatou o santa-cruzense. As compras efetuadas por ele ocorreram no início de abril de 2022.

LEIA MAIS: “Ele também foi uma vítima”, diz advogada que defende Nego Di em caso de estelionato

Publicidade

A desconfiança de que pudesse cair em um golpe ficou amenizada quando o santa-cruzense viu vídeos de compradores recebendo seus produtos. Pelo que descobriu depois, tudo não passava de uma estratégia. “Ele comprou alguns aparelhos de ar-condicionado na Frigelar em Porto Alegre e os entregou sem nota, nem nada, para pessoas que foram buscar. Com isso, mesmo pagando mais caro por esses, ao mostrar essas entregas ele iria gerar o dobro de vendas, porque a desconfiança iria acabar”, explicou.

Houve tentativas de contato via rede social, e Nego Di chegou a responder afirmando que iria estornar o valor para quem não quisesse esperar o produto chegar. Mas depois de um tempo, ele passou a bloquear as vítimas. Nesse período, Nego Di fez posts que mostravam bens de luxo, como uma BMW Z4 conversível branca, supostamente debochando das vítimas.

Nego Di está preso em cadeia de Canoas

LEIA MAIS: Entenda o que levou a Polícia a prender o influenciador Nego Di

Publicidade

Ex-sócio teria aplicado golpe de R$ 30 milhões na Gerdau

A Tá Di Zueira operou entre 18 de março e 26 de julho de 2022, data em que a Justiça determinou que ela fosse retirada do ar. Nego Di e Anderson Boneti são acusados de terem lesado pelo menos 370 pessoas com a venda de produtos por meio da loja virtual que nunca chegaram a clientes. A investigação da Polícia Civil aponta que a movimentação financeira em contas bancárias ligadas a Nego Di, em 2022, passou de R$ 5 milhões.

Em uma live antes de ser preso, apesar de dizer em muitos momentos que a loja era dele, o humorista chegou a dizer que a Tá Di Zueira não lhe pertencia, que só fazia publicações, e revelou que o sócio era Anderson Boneti. “Assim que soubemos disso, fomos para a internet, colocamos o nome do Anderson e apareceu ‘golpe Gerdau 30 milhões’. Como o Nego Di diz que não sabia que estava se envolvendo com alguém que já tem histórico?”, questionou Júlio.

LEIA MAIS: Advogada Tatiana Borsa assume defesa de Nego Di em caso de estelionato

Publicidade

Boneti já responde a um processo na Justiça da Paraíba por estelionato, que teria sido cometido em uma empresa que atuava no ramo de rastreamento veicular. Ele chegou a ser preso em 2022 por causa disso, mas logo foi solto. Também é um dos investigados por ter lesado em 2021 a Metalúrgica Gerdau em R$ 30 milhões, ao burlar o sistema de segurança digital do Banco Santander. O dinheiro desviado teria sido empregado em criptomoedas.

Depois de estar foragido, Boneti foi preso

“Nós compramos por causa do Nego Di, não do Boneti. Se tivesse falado no início que era sócio dele, ninguém ia comprar”, complementou o santa-cruzense, que abriu um processo contra Nego Di e Anderson e aguarda a sequência do caso na Justiça, agora que ambos estão presos. Nessa terça-feira, 30, a juíza Patrícia Pereira Krebs Tonet, da 2ª Vara Criminal da Comarca de Canoas, negou o pedido de revogação da prisão preventiva do humorista.

LEIA MAIS: Justiça nega pedido de revogação da prisão de Nego Di

De acordo com a magistrada, a defesa não apresentou novos argumentos capazes de afastar os fundamentos considerados pela Justiça. Em nota, a advogada Tatiana Borsa, que defende Nego Di, afirmou que não há fundamentos sobre os fatos narrados na denúncia para a manutenção da prisão. “Cabe ressaltar, ainda, que a juíza de Direito da 2ª Vara Criminal da Comarca de Canoas não considerou que já há uma grande quantia paga às supostas vítimas”, diz parte da nota.

LEIA MAIS SOBRE POLÍCIA

Chegou a newsletter do Gaz! 🤩 Tudo que você precisa saber direto no seu e-mail. Conteúdo exclusivo e confiável sobre Santa Cruz e região. É gratuito. Inscreva-se agora no link » cutt.ly/newsletter-do-Gaz 💙

Cristiano Silva

Cristiano Silva, de 35 anos, é natural de Santa Cruz do Sul, onde se formou, na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), em 2015. Iniciou a carreira jornalística na Unisc TV, em 2009, onde atuou na produção de matérias e na operação de programação. Após atuar por anos nos setores de comunicação de empresas, em 2013 ingressou no Riovale Jornal, trabalhando nas editorias de Geral, Cultura e Esportes. Em 2015, teve uma passagem pelo jornal Ibiá, de Montenegro. Entre 2016 e 2019, trabalhou como assessor de imprensa na Prefeitura de Novo Cabrais, quando venceu o prêmio Melhores do Ano na categoria Destaque Regional, promovido pelo portal O Correio Digital. Desde março de 2019 trabalha no jornal Gazeta do Sul, inicialmente na editoria de Geral. A partir de 2020 passou a ser editor da editoria de Segurança Pública. Em novembro de 2023 lançou o podcast Papo de Polícia, onde entrevista personalidades da área da segurança. Entre as especializações que já realizou, destacam-se o curso Gestão Digital, Mídias Sociais para Administração Pública, o curso Comunicação Social em Desastres da Defesa Civil, a ação Bombeiro Por Um Dia do 6º Batalhão de Bombeiro Militar, e o curso Sobrevivência Urbana da Polícia Federal.

Share
Published by
Cristiano Silva

This website uses cookies.