Ele é desastrado, esquecido e dificilmente sabe dizer não. Para ajudar os parceiros e roncar o som da cordeona, seu Luis Borges não pensa duas vezes: só quer gaita! Nessa hora não importa se a tocata é indiada ou evento dos bons, basta ele abrir o fole para qualquer um paralisar. Gaiteiro mais talentoso que eu conheço, meu paizinho é uma peça. Nunca vi ser tão querido pelos outros.
Músico, empresário, cozinheiro e pau pra toda obra, ele é versátil. Essa multifuncionalidade conquistou na roça. Depois de ajudar meus avós na lavoura ao longo da infância, decidiu que era hora de seguir o próprio rumo. Aos 16 anos, colocou a gaitinha nas costas e saiu batendo perna pelo interior de Fontoura Xavier para ganhar o dinheirinho próprio. “Tu não imaginas em cada lugar que eu me meti, minha filha”, lembra ele dando risada.
Seu Luisinho é amor puro. É amor mesmo quando incomoda. Até pouco tempo atrás, bastava eu sentar no sofá, para ele chegar de mansinho e começar a mexer nos meus cabelos. Daí ele começa a enrolar, enrolar, até eu me irritar. “Pai, tá enosando”. Nessa hora, a atenção é direcionada para outro entretenimento.
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Meu pai não bebe e não fuma. Só tem dois vícios: a gaita e o controle remoto. Como adora trocar de canal! Lá em casa essa disputa eu perdi faz tempo, tanto que nem ouso tentar me apropriar. “Me passa o controle, por favor, cadê o controle.” De imediato entrego e não tarda muito para que ele durma com o aparato na mão. “Pai, como foi o jogo ontem?” “Tu acreditas que bem na hora do gol do Grêmio eu caí no sono?”
Com a Kiki, nossa cachorrinha Shitzu, a história é outra. Para ele, lugar de cachorro sempre foi no pátio. “Cusco é do mato, Natany, não tem que adular”. Bom… Experimentem ir lá em casa hoje. O “galo veio” vira criança quando brinca com a nossa pequeninha. Coloca ela para cima e para baixo, atira bolinha e às vezes até arrisca um carinho. “Tu não merece, mas vou fazer uma cosquinha aqui na barriga, ó.”
Sou suspeita, mas, para mim, seu Luis é o mais parceiro de todos. Quando eu era pequena, ele mesmo puxava o esconde- esconde. Hoje, escuta as minhas histórias, vibra e bate palma comigo. Aliás, não posso esquecer, pra tudo o que eu falo, ele já tem uma expressão conhecida até pelos meus amigos: “mas não é “possívi”. Quando precisa, também segura meu ombro e disfarça uma lagriminha quando me vê meio deprê. Aliás, acho que a choradeira eu puxei dele. Papi e eu não temos muito controle quando o assunto é emoção.
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Mas a brincadeira, vish, essa ele não esquece. Vez que outra eu chego em casa, e lá está ele me esperando, pronto para dar um susto. Seu Luisinho só esquece que tem um espelho em frente à porta. “UAAH”. “Credo, que susto, pai!” É desse jeito doidinho que, mesmo sem saber, ele só quer me mostrar que agora, além de pai, também é mãe. Te amo, Borginho.