Fiquei uma semana sem carro. Isso me obrigou a usar transporte de aplicativo, o popular Uber. A mudança de rotina, além do aumento das despesas, permitiu trocar muitas ideias com pessoas que passam o dia rodando pela cidade e que têm episódios incríveis para narrar.

Aos 62 anos, e com mais de 40 de jornalismo, mantenho acesa a chama de repórter que gosta de conhecer histórias e aumentar a coleção de histórias incríveis de superação, solidariedade. Por isso, sou um perguntador profissional, sempre em busca de detalhes e nuances.

Por volta das 7 horas de quarta-feira da semana passada, pedi um carro pelo celular. Assim que me acomodei, chamaram logo a minha atenção diversos detalhes internos do veículo. O piso, por exemplo, era forrado de grama sintética, de um verde muito vivo, igual àquela usada em campos das modernas arenas e de quadras de futebol sete. 

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Sobre o painel havia um adereço interessante: era uma réplica de um cachorro muito usada na minha época de piá, daqueles que sacodem a cabeça com o movimento do carro. Ri sozinho com as recordações. 

Também havia duas plaquinhas entalhadas em madeira com o conselho de “use o cinto”, aliás, bastante importante, porque no banco traseiro muita gente dispensa esse equipamento de segurança. Sob o painel estava uma caixa térmica azul, com água e até refrigerante para os passageiros. O motorista, cujo nome era tão incomum quanto o interior do veículo, vestia bombacha, boina e alpargatas.

– Sou de Dom Pedrito e tenho muito orgulho de ser gaúcho! – me saudou seu Dinowilson.
Isso mesmo! Dinowilson: era este o nome do personagem do dia, que garantiu:

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– Só existem duas pessoas no Brasil com esse nome: eu e outro cara que mora em Brasília!

No trajeto, que durou 20 minutos, ele contou que fora caminhoneiro por 25 anos e conhecia todos os 497 municípios gaúchos. Depois, trabalhou como ecônomo em um ginásio de esportes, até resolver se aposentar.

– Pensei muito antes de tomar essa decisão, mas só aguentei ficar em casa por um ano. Aí aproveitei a moda e passei a trabalhar como Uber há quatro anos.

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Ele falou ainda que o cachorrinho postado no painel era o xodó das crianças. Para alegrar e interagir com a gurizada, seu Dinowilson disse que imitava a voz do animal.

– Adoro a minha rotina. Andando pela cidade, conheço muita gente boa, pessoal de alto astral, que faz a vida da gente valer a pena. Agradeço a Deus todas as noites por essa bênção! – concluiu.

O motorista é o tipo de ser humano que orgulha a raça humana. Obrigado, seu Dinowilson, por existir e compartilhar sua gratidão conosco!

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Carina Weber

Carina Hörbe Weber, de 37 anos, é natural de Cachoeira do Sul. É formada em Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e mestre em Desenvolvimento Regional pela mesma instituição. Iniciou carreira profissional em Cachoeira do Sul com experiência em assessoria de comunicação em um clube da cidade e na produção e apresentação de programas em emissora de rádio local, durante a graduação. Após formada, se dedicou à Academia por dois anos em curso de Mestrado como bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Teve a oportunidade de exercitar a docência em estágio proporcionado pelo curso. Após a conclusão do Mestrado retornou ao mercado de trabalho. Por dez anos atuou como assessora de comunicação em uma organização sindical. No ofício desempenhou várias funções, dentre elas: produção de textos, apresentação e produção de programa de rádio, produção de textos e alimentação de conteúdo de site institucional, protocolos e comunicação interna. Há dois anos trabalha como repórter multimídia na Gazeta Grupo de Comunicações, tendo a oportunidade de produzir e apresentar programa em vídeo diário.

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