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Fora de Pauta

Seu Arno

Só mesmo Arno Frantz seria capaz de gerar uma unanimidade nesta época de especial conflagração na política local. Mas o que se viu por ocasião de seu falecimento foi exatamente isso: dos mais íntimos aliados, como a família Hermany e Telmo Kirst, aos mais acirrados adversários, como Sérgio Moraes, só saíram palavras de reconhecimento e respeito a este que é, de longe, o maior líder popular da história santa-cruzense.

Quando comecei a acompanhar de perto a vida pública do município, na condição de jornalista, Seu Arno já havia passado o bastão. Mas para além do tanto que li e ouvi sobre sua trajetória, pude testemunhar nos últimos anos alguns episódios em que seu carisma e carinho junto à comunidade ficaram evidentes. Um deles foi durante uma sessão da Câmara em plena greve do funcionalismo municipal, em 2011. Quando foi anunciada a sua chegada ao plenário, os servidores que lotavam as galerias irromperam em aplausos. Arno, aliás, sempre gozou de prestígio junto à categoria, algo que seus sucessores não conseguiram. “Arno foi ‘o’ prefeito. Os outros foram só prefeitos”, ouvi essa semana de um servidor.

Outro momento foi em 2014, quando ocorreu um debate entre os então postulantes a governador em Santa Cruz. Lembro-me de ter ficado impressionado com a deferência de todos em relação a Arno. Vi o momento em que José Ivo Sartori, que seria eleito naquele pleito, emocionou-se ao enxergá-lo e abraçou o ex-colega de Assembleia. Isso sem contar os desfiles de Oktoberfest e os dias de eleição (Arno votava no São Luís, mesmo local que eu) em que via ele, com seus inseparáveis terno, bom humor e sotaque germânico carregado, ser abordado incessantemente.

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Analisando de fora essa bela história – por sinal, muito bem contada pelo colega Benno Kist na biografia de 2015 –, fico com a impressão de que a importância de Arno transcende a política. Ele era, na verdade, um personagem de Santa Cruz, identificado como poucos com esta terra, e sua figura parecia, de certa forma, compor a harmonia da cidade. Quem o visse em um de seus passeios a pé pelo Centro, talvez não soubesse das funções que ocupou ou de todas as suas realizações enquanto prefeito, que não foram poucas e nem pequenas, mas sabia quem era aquele homem. Mesmo afastado há tempos dos palanques, seguia exercendo um certo protagonismo, apenas pela imponência de sua pessoa. Com as famosas piadas, que cruzaram as fronteiras do Vale do Rio Pardo, o tio Arno – como alguns gostavam de chamar – foi incorporado também ao nosso folclore.
Arno fará falta porque se confundia com Santa Cruz. Não apenas por sua militância, mas por sua presença, tão marcante. Arno era, afinal, Santa Cruz. E a cidade, sem ele, é outra agora.

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