Há exatos 50 anos morria o senador Robert Kennedy, um dia depois de ser vítima de um atentado à bala no Hotel Ambassador em Los Angeles. Vencedor das primárias na Califórnia, era tido como favorito à presidência dos Estados Unidos na eleição seguinte. A história do crime, mas também da complexa trajetória do personagem, é exposta na série Bobby Kennedy para Presidente, da Netflix.
São quatro episódios, com total de 4h05 de duração. Abrangem do ambiente familiar do clã Kennedy, no qual o verbo “perder” não era conjugado, às teorias de conspiração surgidas para explicar o espantoso assassinato de Bobby em 1968 por um palestino de 25 anos, Sirhan Bishara Sirhan, nascido em Jerusalém e forçado a se mudar para a Jordânia com a fundação do Estado de Israel.
Um dos muitos pontos positivos da série é reproduzir, com profusão de imagens e depoimentos, o ambiente frenético de um tempo fora do comum. Década em que tudo mudava em velocidade, em que a sociedade parecia à beira do abismo, em que a juventude pregava paz e amor enquanto líderes políticos eram assassinados em série.
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Já havia começado com John F. Kennedy, morto em 1963 em Dallas. Depois vieram o ativista negro Malcolm X, em 1965, Martin Luther King e o próprio Bobby Kennedy, ambos em 1968. O pano de fundo da convulsão americana era a Guerra do Vietnã, conflito em que os Estados Unidos haviam se metido e gerava tremenda polarização na sociedade. As lutas pela igualdade racial convulsionam a nação enquanto imigrantes latinos (mexicanos em sua maioria), empregados em fazendas, batiam-se por um lugar ao sol.
A vantagem mais evidente da série é evitar o tom hagiográfico. A figura de Robert Kennedy é suficientemente grande para ser observada em dimensão humana, sujeita a contradições. Ele é visto em sua juventude como competidor disposto a tudo pela vitória. Ótimo pai de família, com dez filhos com a esposa Ethel – o 11.º estava a caminho. Esportista, sorridente, otimista, bem-humorado. Um Kennedy com todo o charme do clã. Mas há passagens menos brilhantes em sua biografia, como quando trabalhou como auxiliar de acusação do anticomunista Joseph McCarthy no Comitê de Atividades Antiamericanas. Ou, já procurador-geral no governo do seu irmão John, autorizando grampo nas conversas de Martin Luther King, tido então como ativista incômodo.
Outro grande mérito da série é mostrar Bobby como alguém suscetível a mudanças, e talvez esta tenha sido sua melhor qualidade. Fosse um personagem ficcional, diríamos que apresenta “curva dramática”. Muda com as circunstâncias. E estas surgem da observação das muitas injustiças e desajustes presentes no país poderoso. Nos EUA dos anos 1960 havia pobreza, perseguições, intolerância racial, um caldo cultural de violência difícil de administrar. Bobby – o filme o indica – teve sensibilidade para abrir os olhos e enxergar. E agir de acordo com o que exigiam as circunstâncias e sua consciência. “Ele viu gente sofrendo e isso o mudou”, diz o deputado e militante afro-americano John Lewis.
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Daí ter obtido apoio da comunidade negra e dos imigrantes mexicanos da Califórnia e seus líderes, Dolores Huerta e Cesar Chavez. Era visto como signo de esperança e mudança. O que, por outro lado, dificultava sua situação com setores mais reacionários. Bobby porém pressentia que estava do lado certo da História, poderia surfar a onda contestatória e administrá-la, até levar ao país uma sociedade mais justa.
Com sua morte, Richard Nixon venceu a eleição.
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