Polícia

Série Astúcia: as conexões entre o líder da facção Os Manos e o “Senhor das Drogas”

Ao longo de cinco anos, as investigações da Delegacia de Polícia de Repressão ao Crime de Lavagem de Dinheiro (DRLD) desvendaram alguns dos principais segredos da facção Os Manos e embasaram uma denúncia de 108 páginas do Ministério Público (MP), aceita na íntegra pela 2ª Vara Estadual de Processos e Julgamento dos Crimes de Organização Criminosa e Lavagem de Dinheiro, no último dia 28. Ao todo, 24 pessoas, entre elas Chapolin, Cássio Alves, o advogado Jean Severo e mais oito santa-cruzenses, foram denunciadas por crimes como organização criminosa, lavagem de dinheiro e receptação.

Na terceira e última reportagem da série Astúcia, a Gazeta do Sul irá revelar detalhes da relação entre Antônio Marco Braga Campos, o Chapolin, de 40 anos, líder da facção Os Manos e que cumpre pena na Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte; e Jarvis Chimenez Pavão, de 60 anos, conhecido como “Senhor das Drogas” e considerado um dos principais narcotraficantes de cocaína internacional. A reportagem também irá revelar alguns dos bastidores de quando Antônio Marco Braga Campos, após ganhar uma camiseta do Santos Futebol Clube de presente do comparsa Cássio Alves dos Santos, revelou que gostaria de ser chamado de “Menino”, pois seu apelido Chapolin estava “sujo”.

Atuações no narcotráfico nacional e internacional

Segundo a denúncia do MP, a atuação da facção Os Manos em todo o Rio Grande do Sul é notória. “Contudo, também se trata de uma rede criminosa que atua com associações com o narcotráfico nacional e internacional”, diz trecho do documento de 108 páginas. Parte das evidências que mostram as conexões do grupo criminoso gaúcho com traficantes de outros estados é citada em uma espécie de “glossário” na denúncia.

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Um enredo de outras operações, investigações e condenações mostra a abrangência da facção liderada por Chapolin, e apresenta as conexões dele com o homem considerado como um dos principais narcotraficantes brasileiros: Jarvis Chimenez Pavão, de 60 anos. Ele é conhecido como “Senhor das Drogas”, e atualmente está preso no Presídio Federal de Brasília após ser extraditado do Paraguai em 28 de dezembro de 2017, em uma megaoperação transnacional.

Pavão ingressou no cenário criminoso entre 1994 e 2000, atuando principalmente no narcotráfico e lavagem de dinheiro. Procurado no Brasil, refugiou-se no Paraguai e se estabeleceu em Pedro Juan Caballero, na divisa entre os países, de onde controlava o tráfico de drogas em grande escala. Estava preso no país vizinho desde 2009, e sua transferência ao Brasil aconteceu cerca de um ano depois de vazarem fotos de sua cela, considerada de luxo, em um presídio da capital paraguaia Assunção.

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Sua ligação com o Primeiro Comando da Capital (PCC) é histórica. Conforme a Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) do Paraguai, teria sido ele a peça-chave para o ingresso em território paraguaio desta que é a maior facção criminosa do Brasil, com base em São Paulo. Apesar de estar preso há 14 anos, as investigações apontam que ele continua fornecendo toneladas de cocaína para organizações criminosas, inclusive para Os Manos, que têm como base o Rio Grande do Sul.

Operações Argus e Panóptico

No trecho da denúncia que detalha o histórico de proximidade entre Chapolin e Jarvis Pavão, duas operações da Polícia Federal se destacam: a Panóptico e a Argus. A primeira, deflagrada em 3 de abril de 2014, apontou que a facção Os Manos, comandada por Chapolin, estaria associada ao traficante Jarvis Chimenez Pavão, na época preso no Paraguai.

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Os bandidos envolvidos, embora detidos no Estado (Chapolin ainda não havia sido transferido para o Rio Grande do Norte) e no país vizinho, mantinham contato e gerenciavam o envio de drogas. Ao longo da investigação, iniciada em 2013, foram presas 33 pessoas e apreendidos 1,2 tonelada de drogas, R$ 165 mil em dinheiro, 24 veículos, um colete à prova de balas, armas de calibre restrito, incluindo um fuzil AR-15, sete pistolas calibre 9 milímetros e uma submetralhadora.

Ofensivas deflagradas pela Polícia Federal resultaram em grandes apreensões de cocaína e outros ilícitos

Na Operação Argus, 26 pessoas foram condenadas, dentre elas Chapolin e Pavão, pela 7ª Vara Federal de Porto Alegre, por associação ao tráfico e tráfico internacional de drogas. Elas foram acusadas de integrarem um esquema que utilizava empresas de transporte para trazer cocaína ao Rio Grande do Sul. A ofensiva apontou que a organização estruturou um fluxo de abastecimento de cocaína adquirida no Paraguai, ingressando no Brasil pela fronteira de Pedro Juan Caballero, passando para Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul.

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Dessa cidade, era distribuída ao Rio Grande do Sul e eventualmente a outros estados do País. A droga seria adquirida do fornecedor internacional Jarvis Pavão por Antônio Campos (Chapolin), e o transporte era coordenado por um terceiro homem, que contratava grupos logísticos para levar carregamentos de entorpecentes.

Os fatos investigados neste caso ocorreram entre setembro de 2015 e 4 de novembro de 2016, data em que foi deflagrada a operação. No curso da investigação da PF houve 12 prisões em flagrante referentes ao transporte de drogas, com a apreensão de aproximadamente 850 quilos de cocaína e 420 quilos de maconha, além da prisão preventiva de 21 pessoas.

Chapolin ordena que seja chamado de Menino

Segundo a denúncia da Operação Astúcia, aceita há menos de 20 dias pela 2ª Vara Estadual de Processos e Julgamento dos Crimes de Organização Criminosa e Lavagem de Dinheiro, Antônio Marco Braga Campos, o Chapolin, exerceu, durante o período investigado de cerca de cinco anos, a posição de liderança na facção Os Manos, detendo o domínio de todos os delitos praticados.

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“Além dos crimes com os quais iniciou na prática criminosa, ao assumir a posição de liderança da célula ora enunciada, integrante d’ Os Manos, encaminhou-se para os crimes de organização criminosa (inclusive com armas), tráfico de entorpecentes e lavagem de dinheiro”, diz parte da denúncia. A reverência ao líder, o temor incutido e o controle sobre toda a atuação da macrocriminalidade foram constatados em conversas por WhatsApp no celular apreendido de Cássio Alves, em 2018.

O santa-cruzense de 35 anos, também denunciado na Astúcia, enviou uma foto para Chapolin de um presente há muito desejado pelo chefe, que era uma camiseta do Santos Futebol Clube, com o apelido do líder às costas e o número 14 – uma referência ao início da sequência numérica 14 18 12, que se refere aos Manos. No decorrer da conversa, que aconteceu na noite de 22 de agosto de 2018, Chapolin observa que seu apelido não é mais adequado, e que deve ser chamado dali em diante de “Menino”.

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“Esse é um presente do teu cupincha pra ti. Há tempos tu quer ela, né irmão?!”, disse Cássio. O número 1 da facção respondeu então que o apelido Chapolin “tá sujo”, e que agora o novo apelido era Menino. A alcunha poderia ser simplificada para MN. As ordens passaram a ser cumpridas imediatamente por Cássio. Em uma orientação a uma parente, o santa-cruzense afirmou para embalar os pacotes de dinheiro do tráfico com papel-filme e escrever por cima MN. “Vamo botar o MN que é do Menino, no caso”, disse o homem de 35 anos.

Cássio Alves comprou camiseta do Santos para dar de presente ao seu chefe Chapolin
Nos pacotes com dinheiro, subordinados da facção colocavam valor e abreviatura MN

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