Política

Sérgio Moraes revela medidas prioritárias que serão adotadas a partir de 1º de janeiro; saiba quais

Agenda cheia. Assim está o dia a dia do prefeito eleito de Santa Cruz do Sul, Sérgio Moraes (PL), desde que voltou para o município após um período de férias depois do processo eleitoral. Tem mantido reuniões diárias com os integrantes da equipe de transição, representantes e partidos que o apoiaram e os da oposição, além dos vereadores. Entrará no governo, dia 1º de janeiro, com muitos desafios e uma certeza: “O público pode esperar um prefeito com o mesmo estilo de trabalho de 20 e tantos anos atrás, o mesmo prefeito que não fica escondido em nenhuma situação”.

Eleito com 37.327 votos no dia 6 de outubro, Sérgio Moraes retorna à Prefeitura, tendo como vice Alex Knak (MDB), em uma composição de chapa com o Podemos, PDT, Avante e Solidariedade. Desde sua última passagem pelo governo local, foram 20 anos.

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Mantém guardados os nomes que integrarão o primeiro escalão, mas adianta que foram adotados critérios como o conhecimento técnico, a habilidade política e a confiabilidade, sobretudo em pastas emblemáticas, como a da Fazenda.

Aos 66 anos, Moraes orgulha-se da bagagem que traz com conhecimento adquirido em dois mandatos como vereador, dois como prefeito, dois como deputado estadual e três na Câmara Federal. Essa experiência, confirma, faz com que tenha condições de buscar recursos para a implantação de projetos, em especial aqueles voltados à saúde – defende essa área como prioritária e a que terá as primeiras medidas, assim que assumir.

Nessa sexta-feira, 27, Sérgio Moraes recebeu a Gazeta do Sul com exclusividade. A conversa ocorreu na sede do BVK, escritório de advocacia do presidente do PL, Marco Borba, onde o prefeito eleito tem mantido a série de reuniões para organizar o governo.

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Como fez questão de dizer, não escondeu-se. Respondeu a todas as questões propostas com a serenidade de quem tem longa experiência política e a ciência dos desafios que estão por vir.

Entrevista – Sérgio Moraes – prefeito eleito de Santa Cruz do Sul para o mandato 2025-2028

  • Gazeta do Sul – O senhor já estava aposentado politicamente. Como depara-se, agora, com essa responsabilidade de assumir o Município?
    • Na verdade, essa responsabilidade, mesmo quando não estava no meio político, sempre carregava comigo, porque isso fica dentro do seu DNA. Fui prefeito dois mandatos, depois a Kelly [Moraes] também foi, ficava olhando a administração dos outros e ficava agoniado querendo dar sugestões. Eu não queria, realmente, disputar mais. Decidi parar aos 60 anos, mas aconteceram alguns fatos. Um deles foi a Operação Controle, que me deixou em uma situação reflexiva: quando mais precisei de Santa Cruz, o povo disse ok. Nesse momento, com o povo pedindo na rua, me recolher seria injusto de minha parte. O outro foi o apelo do presidente Bolsonaro e um somatório de coisas, como o partido pedindo. Mas o que mais somou foi a Operação Controle e a população pedindo que voltasse. E a resposta veio nas urnas. Nunca tive uma votação tão alta.
  • Como a sua bagagem política pode influenciar no mandato?
    • Ajuda demais. Quando preciso tratar de alguma coisa em nível de Assembleia, a grande maioria dos funcionários que lá estão são meus amigos do tempo que eu era deputado. Os deputados que não eram da minha época estão lá e sabem quem eu sou, são meus amigos. De modo popular, entro em uma porta e saio na outra com tranquilidade. Falo com qualquer deputado. A minha história permite fazer isso. No governo do Estado, tenho certeza que a primeira vez serei recebido pelo governador Eduardo Leite. Em nível federal, nem preciso falar, fiquei lá 12 anos, tem o Marcelo Moraes (PL), assim como a Kelly na Assembleia. Tenho liberdade e autorização para entrar no plenário, porque fui deputado.
  • Assumirá um orçamento de R$ 968 milhões. Como está planejando a utilização desse recurso?
    • A prefeita [Helena Hermany], quando estive com ela, me falou em superávit. Vou ter que aprender a trabalhar com superávit, porque quando cheguei à Prefeitura, há anos, pegamos sem um centavo no caixa, 13o atrasado, vale-refeição seis meses atrasado, fornecedores em média dois anos atrasados. Não tinha um carro para o prefeito usar, tanto que usei o meu durante quatro anos. No primeiro ano nós apanhamos, porque pegamos o orçamento feito pelo antigo prefeito. No segundo já tripliquei a arrecadação e, de lá para cá, nunca baixou. Sei como buscar dinheiro e a receita ampliar. Me perguntavam como fazia tanta obra. Sei onde buscar o dinheiro e sei fechar as torneiras. Temos que evitar as pequenas compras que parecem nada, mas são muito. Eu dava “mesada” para o secretário. Ele tinha direito, por exemplo, a R$ 1 milhão por mês – eu dava R$ 700 mil (valores fictícios). Obrigava a frear. Assim, sobravam R$ 300 mil de um e de outro e eu conseguia fazer as obras. Assim fiz autódromo, 170 quilômetros de pavimentação, 42 entre ginásios de esportes e salões comunitários, postos de saúde, hospitalzinho. O segredo não é quanto ganha, mas quanto gasta.
  • O senhor dará sequência às obras em andamento na atual gestão?
    • O viaduto é uma excelente obra, que pertence à prefeita Helena Hermany. Terá placa dela, como ela pedir. O Centro Administrativo levará três placas: uma da Kelly, que começou, outra da Helena, que continuou, e outra do Sérgio Moraes, que irá concluir. O anel viário não é muito fácil como se diz. Tanto é verdade que a prefeita está lá há 12 anos e não conseguiu fazer. Temos uma equipe trabalhando para revolucionar o trânsito de Santa Cruz. Há 50 anos, as ruas eram da mesma largura e não tinha tantos carros. As ruas não aumentaram, mas o número de veículos impressionantemente aumentou. Como faz? Não tem estacionamento. Vamos encaminhar o estacionamento subterrâneo na Praça Getúlio Vargas. Vamos melhorar o trânsito, e o vice-prefeito [Alex Knak] sabe fazer isso.
  • Sobre as obras anunciadas na campanha. O senhor imagina dar início já no começo do governo?
    • O Cibs (Centro Integrado de Bem-Estar e Saúde) é urgente demais. A primeira obra que vamos fazer será na saúde pública. Quando cheguei no governo há 28 anos, a primeira também foi na saúde, tanto que inauguramos a UTI Pediátrica em cem dias. Temos o sonho de inaugurar, não em cem dias, porque é uma estrutura gigantesca. Colocamos na campanha que seria em dois anos, mas queremos inaugurar antes. Obras viárias são importantes, mas uma rua que não está arrumada tem condições de esperar; hospital e saúde da família têm que ser na hora. E isso vamos fazer. Sobre velocidade de obras, o viaduto está há praticamente um ano sendo construído, a calçada do Acesso Grasel levaram oito anos para fazer, fiz o autódromo em oito meses. Obra tem que ser rápida. A empresa tem prazo e vai cumprir, se não cumprir tem multa. Não adianta esperar para dar realinhamento de custo. Se não cumpriu e o custo aumentou, o problema é teu. Sou contra o realinhamento.
  • Qual o planejamento para o autódromo?
    • Essa foi uma obra totalmente feita no governo Moraes. Fui injustiçado, porque a Fórmula Truck iria inaugurar em dezembro de 2004, mas não era uma corrida por pontuação, porque a competição já tinha encerrado. Nesse meio- tempo, o prefeito Wenzel [José Alberto] e a vice Helena conversaram com o presidente da Fórmula Truck, meu amigo Aurélio Batista Félix [já falecido], para inaugurar em março comigo sendo homenageado, como quem construiu. Foi transferido para março de 2005, mas para minha surpresa, inauguraram com a Fórmula Renault, em fevereiro, não me convidaram e colocaram uma placa com o nome deles, como se eu não existisse. Vamos fazer corridas importantes. Estamos com a Fórmula Truck marcada para 14 de setembro. Estive com o promotor pedindo autorização para reconstruir. Quando compramos o Parque de Eventos, tinha 240 hectares; depois doaram 40 hectares nos fundos, gritei, mas não adiantou; na sequência, venderam a parte da frente; não satisfeitos, fizeram uma escavação, claramente para destruir a imagem “autódromo feito pelo Sérgio Moraes”. Mas, por ironia do destino, eu volto. Vou comprar de novo aquela frente, vou refazer o autódromo, que está danificado, vamos buscar aquela parte doada nos fundos. Quando o governo comprou a fazenda foi para salvar o Frigorífico Excelsior, que estava ruim. Eu imaginava a cidade ao redor e, dentro da cidade, 240 hectares para lazer. Vamos reconstruir com grandes corridas: Fórmula Truck, Stock Car, estamos falando com o pessoal da Argentina, que é totalmente diferente. Na dúvida, eles aceleram. É um show para quem está assistindo.
  • De que forma o senhor prevê auxiliar o desenvolvimento econômico?
    • Volto a 28 anos. Naquela época, o chique era o prefeito ir a Novo Hamburgo buscar uma fábrica de calçados. Me elegi nessa época e disse: “Eu não vou a Novo Hamburgo buscar sapato nenhum. Vou procurar as empresas daqui que queiram crescer”. Falamos com a Metalúrgica Mor, que estava indo embora, porque não tinha auxílio. No dia 15 de janeiro de 1997, sentei com o presidente André Backes e revertemos a ida de eles irem embora. Ele me disse: se fizerem a terraplanagem no Distrito, eu inauguro com número ampliado de funcionários. Naquela noite que dei a palavra para ele, movimentamos máquinas que estavam no interior e começamos. Nós já sem fôlego, porque estávamos chegando e não tinha recursos. O André me disse: se dobrar a terraplanagem, eu dobro o número de funcionários. Eu dobrei e, hoje, temos a Metalúrgica Mor aí. Quantas vezes essa empresa já pagou a terraplanagem para o município em quase 30 anos? Assim foi com a Premium, a ATC, a Imply. Isso vai acontecer de novo.
  • Qual foi o critério adotado para a escolha do secretariado?
    • Um deles é o pessoal técnico, o outro precisa ser mais político e outro a seriedade. Não posso botar um secretário da Fazenda que eu esteja desconfiado. Preciso ir dormir descansado, sabendo que não vai ter mutreta. Na semana que vem conhecerão um corpo de secretários bons, o que não significa que seja permanente. Nada é permanente. Todos devem dar o sangue para continuar, porque se enfraquecer serão trocados.
  • Como será a relação com a Câmara?
    • Eu trabalho de uma forma diferente com os vereadores. Já fazia assim e voltarei a fazer. Vereador não precisa marcar audiência para falar com o prefeito, seja de situação ou oposição, porque vereador é eleito. Precisam ser respeitados e considerados voz da comunidade. Isso é o primeiro passo. Não vamos mandar situações constrangedoras, como coisas para ajudar o amigo do prefeito. Será coisa séria do governo, para se sentirem à vontade para votar. Vamos apaziguar. A comunidade não suporta mais essa guerra. Estou chamando todos eles e pedindo para trabalharmos juntos. Fomos eleitos para resolver o problema da população e não os nossos.
  • Segue a ideia de que o vice será uma espécie de gerente?
    • Está combinado isso a pedido dele. Será um cidadão que irá visitar todas as secretarias. Eu também faço isso, mas trabalho diferente. Gosto de dar incertas. Às vezes era 4 horas da manhã e estava no plantão; às vezes, 6 horas da manhã, estava olhando se o carro que levaria os pacientes estava em dia.
  • O senhor deve continuar o mecanismo de subsídio do transporte coletivo?
    • Não concordo com passagem gratuita. Se alguém está de graça dentro do ônibus, há alguém que está pagando. Não é o dono da empresa. O dono recebe igual. Ou ele cobra um pouco mais de cada um ou a Prefeitura paga a outra parte. Andei muito por vários países, cidades maiores, capitais, e cheguei à conclusão de que o nosso transporte coletivo está mofado, atrasado. Essa maneira do ônibus rígido, sempre na mesma rua, do mesmo jeito, é ultrapassada. Tenho visto as vans, que são flexíveis. Hoje as pessoas caminham quatro, cinco quadras, ficam na chuva esperando. O transporte está engessado e precisa ser flexibilizado. Vai ter uma fiscalização muito grande em cima desse subsídio, queremos mais horários. Se a Prefeitura está pagando e diminuiu algo, está errado. E se precisar cortar o subsídio, corto sem problema nenhum.
  • Como deve agir em relação às rodovias municipalizadas?
    • Conversei com o promotor sobre a BR-471, faremos licitação nova, aberta, com transmissão ao vivo, não mais entre quatro paredes. Aquele comércio está sofrendo muito. As demais [rodovias] vamos ajustar aos poucos, mas a prioridade será a que está causando problemas sérios aos moradores e empresários.
  • Como o senhor espera reverter a queda do índice de educação do município?
    • Eu seria um pouco mais realista com a educação. Foi uma vergonha o índice de qualidade de ensino que Santa Cruz apresentou. Por isso há algumas coisas que chegam para mim: professores descontentes, inseguros, uma série de trocas de secretários, coisas que deixavam os professores apreensivos. Temos que conversar com os pais. Tem aqueles que acham que a escola é para educar o filho; a escola é para ensinar. Educação tem que ser em casa e tem que ser rígida. Tem pai que dá todas as facilidades às crianças, e elas chegam na escola e batem nos professores, que não podem fazer nada, porque são demitidos, atacados pela mídia. No meu tempo, professor era uma autoridade. Ai de mim se desobedecesse. Hoje está desorganizado. Os professores perderam a autoridade e, não generalizando, mas uma criança já é suficiente para atrapalhar todos os demais. Temos que parar com esse mimimi de que professor não tem autoridade, que deve chorar no cantinho. As crianças têm que aprender que existe regra para cumprir. O modelo atual tem apoio de parte da sociedade, quase generalizado da mídia, e isso leva ao descaminho.
  • O senhor manterá a estrutura administrativa?
    • Ali pelo dia 15, devo convocar extraordinária para vermos quantos professores precisaremos contratar. Teremos uma reforma administrativa. Teremos o retorno do subsecretário. Hoje tem o secretário e diretores. Daí eu pergunto: quem responde quando o secretário está de férias ou doente? Ninguém. É um negócio que não tinha visto ainda. Estamos mudando isso e dará um resultado melhor até para mim como prefeito. Temos que saber quem são os responsáveis.
  • O que o eleitor pode esperar a partir de janeiro?
    • Pode esperar um prefeito com o mesmo estilo de trabalho de 20 e tantos anos atrás, o mesmo prefeito que não fica escondido em nenhuma situação. Ontem [quinta-feira, 26], naquela polêmica dos vereadores, fiz um vídeo e disse: eu é que pedi. Assumo a responsabilidade. Se deu errado, e vai dar muita coisa errada, a culpa é minha. Não foi a comunidade que escolheu o secretário. Fui eu. Não posso fazer assim: quando é bom é meu, quando é ruim é dos outros. Vamos ter jogo pesado com a Corsan. Não tenho compromisso nenhum com a Corsan. Hoje, a população entende quando eu dizia, lá atrás, que queríamos uma licitação, mas diziam que estávamos vendendo a água. A população comprou isso e votou contra nós. Foram lá e assinaram por 40 anos um contrato fajuto, agora ampliado, com tratamento de esgoto precário, água de péssima qualidade, faltando todo dia. Uma das águas mais caras do Brasil é a nossa, e estão pedindo aumento. Não vou dar esse aumento. Vai ser uma guerra. O empresário vai ficar descontente, mas o problema é dele. Quero que a comunidade fique contente. Se tiver qualquer cheiro de maracutaia no governo, quem vai chamar o promotor serei eu. Será um governo transparente para todo mundo. Meu trabalho será assim, a partir do ano que vem.

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Marcio Souza

Jornalista, formado pela Unisinos, com MBA em Marketing, Estratégia e Inovação, pela Uninter. Completo, em 31 de dezembro de 2023, 27 anos de comunicação em rádio, jornal, revista, internet, TV e assessoria de comunicação.

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