Muitas pessoas pensam que “ser pobre” ou “estar quebrado” significam exatamente a mesma coisa. Sim, em ambas as situações há a falta de dinheiro. Entretanto, como define Robert Kiyosaki, autor da série de livros “Pai Rico, Pai Pobre”, ser pobre é uma mentalidade, enquanto estar quebrado pode ser apenas uma condição temporária. É por isso que muitas pessoas bem sucedidas financeiramente e até milionárias de hoje, em algum momento de suas vidas, já tinham “quebrado”. O próprio Robert conta que, quando ele e sua esposa Kim eram sem-teto e moravam dentro de um carro, devendo 400 mil dólares, não se consideravam pobres. Pensavam em si mesmos como pessoas ricas que, no momento, estavam quebradas.
No artigo “Finanças pessoais, ideologia e responsabilidade”, de 12/09/2013, o autor do recém-lançado livro Liberdade Financeira e especialista em educação financeira, André Massaro, escreveu que, “no mundo das finanças pessoais, existe uma questão muito discutida e que, conforme a ideologia política ou até filosófica, coloca as pessoas em dois campos opostos principais: há os que defendem que a situação financeira de uma pessoa é o resultado de suas decisões; outros, de que é determinada por circunstâncias externas, de natureza econômica, social ou cultural.”
As pessoas que tem uma orientação política mais à esquerda, costumam atribuir aos governos e à sociedade a responsabilidade pela situação de pobreza do cidadão. A Constituição Federal, em seu artigo 3º, reforça esse entendimento quando diz, no inciso III, que “Constituem objetivos fundamentais da República Federal do Brasil erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais”. Os constituintes, possivelmente imbuídos do espírito de bons samaritanos, talvez pensassem em criar leis para combater a pobreza, mas, por ignorância ou até má fé, usaram a palavra “erradicar”, como se fosse possível eliminar totalmente a pobreza. E ainda há quem acredita ou pelo menos prega que só o pobre vai para o céu. Ao invés de incentivarem as pessoas a buscarem com a sua força uma situação melhor, sugerem a dependência ao Estado ou ao conformismo de que “ser pobre é um destino”. Essa visão leva à vitimização, ao “coitadismo”. A culpa sempre é dos outros.
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Do outro lado, as pessoas à direita do espectro político, costumam dar uma importância maior à responsabilidade individual. O indivíduo seria totalmente livre para fazer o que bem entendesse, mas deve arcar com as consequências de suas decisões. O estado ou a sociedade não tem nenhuma obrigação de socorrer a pessoa que se deu mal. Em resumo, se alguém é pobre, a culpa é dele; se for rico, os louros são de quem conseguiu “vencer na vida”.
Como pano de fundo dessas discussões, estão os sistemas políticos, sociais e econômicos do capitalismo e socialismo. Nos últimos anos, devido a uma forte pregação em vários ambientes, o capitalismo virou um palavrão. Foi na obra de Karl Marx que o capitalismo ganhou a conotação de cobiça e excesso que hoje carrega para a maioria das pessoas. Para Marx, “capitalismo” era um termo de desonra pública, usado para descrever a fase na história em que a mão-de-obra era (em algumas situações, ainda é) explorada por capitalistas.
Hoje, para a maioria de nós, independente de viés político de esquerda ou direita, é difícil imaginar um mundo de pouco mais de duzentos anos atrás em que a regra era a escassez e a possibilidade permanente de morrer de fome. Onde seja necessário trabalhar ao menos 12 horas por dia para obter apenas o suficiente para subsistência e onde seus filhos possuam poucas chances de sobrevida da altíssima taxa de mortalidade infantil, devendo eles também trabalhar desde a mais tenra idade para ajudar no sustento da família. Devido à pouca disponibilidade de comida quase todas as pessoas eram esquálidas ou subnutridas e a expectativa de vida dificilmente ultrapassava os 35 anos para aqueles que tinham a sorte de não contrair as inúmeras doenças causadas pela pouca higiene e a pobre alimentação. Até o tecido para a confecção de roupas, antes da máquina a vapor, custava uma fortuna, sendo mais caro e mais demorado poder ter roupas básicas, que dirá de qualidade.
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Toda a melhoria de vida que a humanidade experimentou, em pouco mais de 200 anos, foi graças ao surgimento do capitalismo. Não foi devido ao socialismo que, até hoje e contra todas as provas em contrário, muitas pessoas ainda pregam, acreditando que suas boas intenções são mais importantes do que tudo ou, então, que é um sistema mais solidário. Mesmo assim, o capitalismo ainda é visto como um sistema de exploração. Até nos Estados Unidos e outros países de economia de mercado, há o estigma contra o capitalismo. É como se fosse um mal necessário que, um dia, será substituído por outro melhor.
Retornando à questão principal do artigo sobre a responsabilidade pela situação financeira dos cidadãos – se é individual ou do governo e da sociedade – parece que nenhuma das duas seria radicalmente a mais correta. Deve haver um “ponto ótimo” entre as duas versões que talvez não esteja bem demarcado. Mas, exceto alguns casos em que a pessoa já nasce em situação financeira muito ruim e vive em ambiente de alta vulnerabilidade, o que dificulta o acesso a melhores condições de vida, a maioria dos problemas financeiros é consequência do desequilíbrio, da desorganização e da falta de educação financeira. Muitas pessoas pensam que ganhar mais dinheiro resolveria suas dificuldades financeiras. Só que não. O que mais frequentemente ocorre é que ganhar mais dinheiro só causa maiores problemas. Como elas não aprenderam a gerenciar o seu dinheiro, à medida que ganham mais aumentam também seus gastos e ficam mais endividadas. Financeiramente, a cada real que recebemos temos o poder de escolher nosso futuro. Somos livres para escolher e tomar decisões boas, mas também ruins. O que define nosso destino são as escolhas que fazemos em que a educação financeira pode ajudar.
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