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Ser pai é fazer um nó no lençol todos os dias

Foto: Rafaelly Machado

Uma velha história, conhecida por muitos, conta que, em uma reunião escolar sobre a presença dos pais na educação dos filhos, um homem, humildemente, levantou-se e relatou que não desfrutava de muito tempo para ficar com o filho. Era cedo quando ele saía para trabalhar e garantir o sustento da família, e quando voltava já era tarde e o garoto não estava mais acordado.

Na mesma ocasião, esse homem afirmou, também, que a falta de tempo para o menino o deixava triste e a forma de se redimir era beijá-lo todas as noites quando chegava em casa. Assim, para que o filho soubesse da sua presença, ele dava um nó na ponta do lençol que o cobria.

O ritual acontecia todas as noites. Quando o filho acordava e via o nó, sabia, através dele, que o pai havia estado ali e lhe dera um beijo. O nó era o meio de comunicação entre eles. O conto termina com uma lição: ao ouvir a história, a diretora ficou surpresa quando constatou que o filho desse pai era um dos melhores alunos da escola.

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Para esta reportagem especial de Dia dos Pais, entrevistamos três pais que têm profissões que exigem mais tempo longe dos filhos. O que não significa que a atenção destinada a eles seja diferente. O fato é que estar presente não é algo necessariamente físico. O amor, o cuidado e a dedicação podem ser demonstrados por meio de diversas formas: em uma mensagem de bom-dia, na atenção às notas do boletim, ou no esforço para manter a autoestima do filho ou da filha. Ser pai é, ao fim e ao cabo, deixar um nó no lençol todos os dias. Um nó que representa o diálogo, o respeito e o amor.

Três turnos trabalhados para garantir sustento

Leandro Ismael, de 31 anos, tem claro na memória todo e qualquer detalhe do nascimento da filha Leandra de Oliveira Ismael, de 9 anos. “Ela nasceu com sete meses e três semanas, com 133 batimentos cardíacos, 2 quilos e 220 gramas e 41 centímetros.” Foi a partir dos dois meses e 16 dias da menina que a mãe decidiu entregar a responsabilidade para Leandro. “Chegou um certo dia que ela chegou e disse que não queria a criança, assinou a guarda para mim, e a última vez em que ela viu a minha filha foi com 4 anos”, conta.

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O pai de Leandra é motoboy. O trabalho exige muito tempo dele e, sendo pai solteiro, precisa deixar a filha com a avó, em Passo do Sobrado. O diálogo com a criança é bem aberto. “Ela chama a avó de mãe, mas sabe quem é a mãe biológica. Já perguntei se ela queria conhecer, mas no momento ela não quer. Se um dia ela pedir pela mãe, eu vou procurar.”

Desde 2015, é do trabalho com telentregas que provém o sustento da filha. Além disso, ele já pensa em alternativas para o futuro da menina. “Eu tenho uma mente bem aberta e sei que a qualquer esquina posso morrer. Tenho um terreno onde eu quero construir quatro duplex, o que vai gerar um lucro caso ela queira fazer faculdade ou um curso”, conta.

Quando soube que ia ser pai, Leandro lembra que ficou feliz, mas, por outro lado, apavorado. “Vem uma dúvida, tudo é novo, tu não sabe o que vai acontecer.” Hoje, como trabalha até três turnos para sustentar a filha, preferiu deixar a menina aos cuidados da avó. “Não tem como alguém sozinho criar um filho e ao mesmo tempo trabalhar tanto. Até tem, mas pode passar necessidades, e eu preferi ver ela bem com minha mãe.” Todos os domingos e segundas, Leandro fica com a filha. A programação especial deste 8 de agosto será no turno da noite, já que trabalhará com entregas no horário do almoço.

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Aprender a ser pai sendo pai

Neste domingo de Dia dos Pais, Lucas Rios da Silva, de 41 anos, enfermeiro do Hospital Santa Cruz, estará de plantão. O pai de Alice, de 5 anos, e de Arthur, 11, atua na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Covid da casa de saúde. Mais do que nunca, neste período de pandemia, a profissão do pai foi reconhecida em todo o Brasil por representar aqueles que nunca puderam parar, pois têm o dever de salvar vidas.

Sem uma referência paterna, foi com o nascimento de Arthur que Lucas começou o aprendizado de ser pai. “Eu não fui criado com a figura paterna, então eu aprendi a ser pai sendo pai. Fui criado pela minha mãe. Quando o Arthur nasceu é que fui desenvolver o que era ser pai e passar os valores que recebi da família. Acho que estou fazendo um bom trabalho”, frisa o enfermeiro.

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A pequena Alice comenta que o que mais gosta de fazer com o pai é “brincar e ir na piscina”. Esses momentos juntos são muito valorizados, já que a rotina do trabalho na área da saúde, muitas vezes, impossibilita alguns encontros. Além disso, a esposa e mãe das crianças, Daniele Leal dos Santos, 40 anos, também atua na saúde. “Eu trabalho no turno da tarde, e os plantões são de 12 horas nos finais de semana. A gente faz uma manobra, às vezes eu estou de plantão, ela também, e quando os dois estão no mesmo dia, é preciso deixar as crianças na casa de algum familiar. Toda oportunidade que temos, tentamos participar. Mas o mais difícil é estar presente em todos os momentos. Por exemplo, ela começou a andar de bicicleta e eu não estava junto, estava trabalhando”, relata Lucas.

Momentos vividos no trabalho durante a pandemia fizeram com que ele pensasse sobre o privilégio de estar com os filhos nesta data. “Quantos tinham a mesma idade, alguns até mais novos que eu, e não tiveram a oportunidade de serem pais, ou agora vai chegar o domingo e não terão a oportunidade de dar um abraço no pai, ou o pai não vai receber um abraço do filho? Tem pessoas que marcam e que, antes da intubação, falam com a família, e a gente não sabe, mas às vezes pode ser a última vez daquela conversa”, reflete. Neste domingo, mesmo com o plantão, Daniele, Arthur e Alice planejam visitar Lucas no intervalo do trabalho para não deixar a data passar em branco.

Uma dor chamada distância

O trabalho de Manoel Couto, de 31 anos, também exige mais tempo longe da filha Nicolly, de 5 anos. O motorista de caminhão conta que sua profissão o afasta, por vezes, durante dias da família. “Quando chega o final de semana, eu sempre tento tirar um tempo para ela, ajudar a fazer os temas, ensinar algumas coisas, como alfabeto, números ou desenhos. Mas sempre tive pessoas na minha família que me apoiaram, como minha mulher, irmãs, mãe, pai. Às vezes é ruim, mas eu sei que depois, lá adiante, ela vai saber o que o pai fez por ela.”

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Para ele, o mais importante da relação entre pais e filhos é ter amor, carinho e respeito. “Acho que todo pai deve querer ser um exemplo para o filho ou a filha, e acho que a gente sempre tem que tentar andar pelo caminho certo para que eles se espelhem na gente”, diz o caminhoneiro.

A parte mais bonita de ser pai, segundo Manoel, é chegar em casa e ter a filha Nicolly o recepcionando de braços abertos. “O melhor é chegar em casa e ver a felicidade dela me olhando com aqueles olhinhos brilhando, faceira, rindo, virada em dentes, às vezes até com o sorriso banguela. E a parte mais difícil é quando tenho que ficar longe, ficar dias sem ver ela. É uma dor difícil de aguentar”, completa.

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