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Sem medo de crase

Como esta coluna não é temática, conforme combinado com o editor Romar, vou perambulando por veredas diversas. Hoje, vou me permitir ser professor e falar um pouco sobre crase. Toda vez que eu começava algum curso e perguntava aos alunos sobre suas carências maiores, invariavelmente despontava a crase.

Ora, estamos diante de uma questão muito simples, desde que bem entendida. O que vem a ser crase? Em primeiro lugar, não é o acento grave (`), o que leva a equívocos como este, que era comum em livros didáticos: Coloque crase onde necessário. O correto seria dizer coloque acento grave onde houver crase.

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O português é língua neolatina. A maioria absoluta de suas palavras tem origem no latim, passando por transformações ao longo dos séculos. A palavra pedem, por exemplo, evoluiu para pede, depois pee, para hoje ser pé. Na última transformação, aconteceu uma crase. O mesmo aconteceu com nudum -> nudu -> nuu -> nu, também se verificando uma crase.

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Crase, portanto, é um processo de unir duas vogais iguais, o que no português atual somente se dá com a vogal a. Há crase quando a + a (ou as) se encontram. Exemplificando: vai à igreja rezar. Quem vai, vai a (primeiro a) e igreja é palavra feminina que admite o artigo a. Se a palavra seguinte for plural, teremos o artigo as. Foram às ruas protestar. Observe-se que neste último exemplo, se não usássemos o acento, o sentido seria outro.

Há palavras femininas que não admitem o artigo a. Ela e essa são dois exemplos. Portanto, em “dar os parabéns a ela”, inexiste o segundo a, inviabilizando a ocorrência de crase. Assim também os pronomes de tratamento – você, Vossa Senhoria e todos os demais – rejeitam o artigo a. Jamais ocorre crase, então, em “Comunicamos a Vossa Senhoria…”, “solicitamos a você…”. Não existe aí o segundo a. Não se diz ou escreve “A Vossa Senhoria é pessoa digna”, e, sim, “Vossa Senhoria é pessoa digna”.

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Quem escreve “boa semana à todos” (esse à todos proliferou), despreza a regra da crase. Existe aí o primeiro a (desejo boa semana a alguém), mas não existe o segundo. Aliás, em regra, todas as palavras masculinas repelem a presença de crase, porque não apresentam o artigo a. Daí, bebê a bordo, compras a prazo, andar a pé, fogão a gás, etc. Assim também os verbos. Não há razão para escrever “prestações à partir de”, porque partir não é uma palavra feminina.

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Muitas vezes, deparamo-nos com macetes para esclarecer a ocorrência de crase. Ajudam, porém pouco explicam. Tudo vai desembocar na regra básica do a + a. Existe, inclusive, uma lista de pecados contra a crase.

Uma rápida exposição como esta não dá conta de todas as questões, no entanto pode auxiliar. A jornalista Eliana Isabel Stülp, em linda crônica, confessa algumas de suas crises, entre elas a crase. Numa das minhas aulas, abordei o tema e, o que antes era crise, se iluminou. “Agradeço todos os dias por poder ter estado naquela sala, naquele dia, naquele horário”, escreveu ela.

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