Uma década depois do lançamento do quarto e último álbum, “4”, o Los Hermanos prova que, apesar de não ter músicas inéditas no mercado, chega à maioridade sem envelhecer -ao contrário, atrai novos fãs a cada dia: jovens na casa dos 20 anos que não se lembram da banda na época em que tocava “Anna Julia” no Domingão do Faustão. Era esse o perfil de grande parte do público que foi ao show do quarteto na Arena Anhembi, em São Paulo, na noite de sábado, 24.

Um exemplo de novo fã é Nathalia Ribeiro, de 20 anos. Ela conheceu Los Hermanos depois do lançamento do disco derradeiro. “Meu irmão é mais velho e ouvia. Eu comecei a escutar depois de [a banda] acabar”, diz, referindo-se ao hiato anunciado pelo grupo em 2007. O mesmo aconteceu com Leonardo Marinelli, de 21 anos. “Ouço desde os 15”, diz. “Sempre fui muito sentimental. Gosto da poesia das canções. E tem também a questão da crise da adolescência…”

Leonardo comprou o ingresso no dia em que o site Ticket360 abriu para venda. Demorou 20 minutos na fila virtual, mas conseguiu uma das 30 mil entradas vendidas até agosto, quando se esgotaram. Sob 17ºC, Leonardo, Nathalia e todos que foram à Arena Anhembi testemunharam um show que oscilou entre o calor de hits como “O Vencedor”, que abriu o setlist e levou o público a cantar a plenos pulmões -a ponto de abafar a voz de Marcelo Camelo-, e o frio de “Pois É”, acompanhada apenas pelos fãs mais fervorosos.

No calor e no frio, o naipe de metais foi irretocável. Assim como foi excepcional o vocal de Rodrigo Amarante em canções como “Último Romance” e “A Flor”: mais rouco que o normal -talvez pela sequência de shows que, somada ao show de São Paulo, chegou a nove apenas em outubro, sua performance ganhou um ruído diferente, uma sujeira bem vinda. No palco, ele cantava para si mesmo, para agradar aos próprios ouvidos, e curtia o que ouvia.

Enquanto Amarante se divertia -a ponto de descer do palco para cantar “Quem Sabe” na pista, colado ao público-, Marcelo Camelo foi protocolar, com animação comedida, quase ensaiada. Mas nada que os fãs de Los Hermanos não perdoem -ao contrário, emprestam ao vocalista o vigor necessário para fazer de canções como “Tenha Dó” um grande sucesso no show de duas horas de duração.

Entre deslizes e acertos, o show de sábado comprovou: o melhor do Los Hermanos são os fãs. A banda faz mais um show em São Paulo no domingo, 25 e depois segue para o Rio de Janeiro, para quatro apresentações (de 30 de outubro a 2 de novembro).