Categories: Romar Beling

Sem chance para o azar

A produção de tabaco é uma das atividades mais tradicionais da economia brasileira. Um produto não figuraria por acaso no Brasão de Armas do País. E um ramo de tabaco está lá, no símbolo nacional, à direita da constelação que representa os estados, além do Cruzeiro do Sul, fazendo companhia a um ramo de café.

E mesmo com as inegáveis contribuições históricas na geração de empregos e de riquezas, essa cultura precisa, após décadas de superação de adversidades, ser a cada ano ainda mais forte, lutando contra forças contrárias, a dos antitabagistas, patrocinadas sabe-se lá por quais interesses. Ninguém luta contra uma socioeconomia estabelecida, como essas organizações o fazem, apenas por ideais. Adota tal postura quem faz disso fonte de renda, quando ganha bem para dizer o que diz e fazer o que faz.

Mas o que levaria um governo ou uma Nação a aceitar com tamanha naturalidade e com tão pouco senso crítico tal tipo de discurso, empenhado em desmontar uma cadeia produtiva, ainda que sob o risco de comprometer a subsistência de estados inteiros, caso do Sul do País? Não é uma pergunta que precisa ser feita e refeita, o tempo todo, e por todos?

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Em novembro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) promove em Nova Délhi, na Índia, a COP 7, a 7ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro para Controle do Tabaco. Os encontros têm participação admitida de delegações de governos dos países signatários da Convenção-Quadro (o Brasil entre eles). Ao lado destes delegados oficiais dos governos não pode estar um único representante da própria cadeia produtiva, a maior interessada no debate. Podem estar, isso sim, organizações não governamentais (ONGs), que tentam fazer pressão ou mostrar serviço para seus supostos financiadores. E talvez sejam esses financiadores os grandes interessados no circo todo.

O motivador seria o combate ao comércio de cigarros, mas, por alguma estranha razão, os temas da pauta derivaram para o âmbito do mercado– de tabaco. O Brasil é o maior exportador dessas folhas, e a maioria dos concorrentes diretos no disputado mercado global não é signatária da Convenção. Portanto, está livre de adotar medida que comprometa sua competitividade. Já o Brasil embarcou com naturalidade e até com entusiasmo, ao menos com o entusiasmo dos antitabagistas (pelo visto imbuídos de um alto ideal?).

Ainda que se trate de evento da OMS, mal se fala de saúde na COP. O objetivo, entrevê-se, é cercear a produção de tabaco em algumas regiões altamente competitivas. Como o mercado segue demandante, claro que o cultivo seguirá em regiões que nada têm a ver com a Convenção. Eis por que a cadeia produtiva, uma vez mais, se organiza, no Brasil, a fim de acompanhar de perto as conversas e as manobras na Índia. A pauta toda pode não dar em nada, porque as campanhas antitabagistas, já se vê, são bem menos competentes e nobres do que a cadeia formal do tabaco. Mas se a decisão final ficar na mão de delegações duvidosas e ONGs, em breve até o Brasão das Armas do Brasil terá de ser mudado. Com esse pessoal, nunca duvide.

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