Eu me considero uma pessoa realista, embora haja alguns que me julgam pessimista e até me comparem com a Wandinha. Não sei por que, nunca me disseram que sou positiva. Mas, em minha defesa, afirmo que essa unanimidade está errada. A verdade é que estou sempre pesquisando sobre como levar a vida de forma mais leve, meditar, agradecer etc. Se eu coloco em prática? Ah, deixa pra lá…
Mas, ainda que seja difícil, costumo olhar por outros ângulos e achar uma lição ou algo de bom no que é ruim. Contudo, também aprendi a aceitar que, às vezes, a situação só é ruim mesmo e o negócio é abraçar esse sentimento. Simplesmente, não era pra ser ou tinha que ser assim – e tudo bem não estar tudo bem. Nada de positividade tóxica por aqui.
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Com as pessoas, não ajo muito diferente, não. Posso dizer que sou empática, de modo que, no fim das contas, normalmente percebo que pensei muito mais nos outros do que em mim. E também, mesmo que não seja fácil, procuro encontrar o melhor de cada um, oferecendo isso em contrapartida. Afinal, todos temos luz e trevas dentro de nós, como já explicou Alvo Dumbledore a Harry Potter lá por julho de 1995. Só que tem aquelas que o santo não bate e a solução é conviver – o mínimo possível – com respeito.
Mas, enfim, esse texto não é sobre pessoas, tampouco sobre mim, porque, desde segunda-feira, estou monotemática. Vou explicar o porquê nas próximas linhas, mas, se você está ansioso, já adianto que o tema, desta vez, são gatos.
Faz algumas semanas que um outro gato, que não os meus quatro – Benedita, Cenoura, Felpudo e Leopoldina –, aparece lá no pátio. Não sei de onde vem, mas andou fazendo bagunça e despertando o meu ranço. O arranhão no rostinho da Bene justifica. É um gato (ou gata, não sei) bem bonito, branco e preto, bem semelhante à Benedita. Tanto que os outros felinos lá de casa até já confundiram ela com o invasor. Trauma, né?!
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Os meus quatro são tranquilos, brincalhões e, apesar de se fazerem de difíceis, adoram um carinho. Por outro lado, como já bem disse, o tal gato é danado. Ele entra em casa procurando confusão. Outro dia, chegou e botou todos para correr: o visitante indesejado ficou na garagem e os outros, acuados, saíram em disparada para o pátio dos fundos. Também teve uma vez em que o gato se sentiu tão à vontade que reivindicou o direito de comer a ração dos moradores. Não acho que seja um bicho de rua, pois tem aparência saudável, é gordinho, bem cuidado. Só deve gostar de passear e tentar fazer amigos, desse jeito meio avesso.
Ele já me irritou muito, é verdade. Mas, desde segunda-feira, penso em quanto ele foi fundamental para que hoje o Felpudinho esteja bem. Naquele dia, cheguei do trabalho mais ou menos no horário habitual e fui correndo para o banheiro. O alívio necessário era em relação ao número 1, para deixar claro. Depois, comecei a executar as tarefas do dia a dia. Enquanto recolhia e dobrava a roupa seca, passei a procurar com os olhos os quatro gatos. Primeira chamada mental: Benedita, ok; Cenoura, ok; Leopoldina, ok… Não vi o Felpudo desde que cheguei. Até terminar o que precisava, esticava o pescoço, dava alguns passos, e nada de o meu gato preto aparecer. A preocupação foi começando.
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Não demorou muito para que eu alarmasse também o Cristiano, meu namorado. Passamos os dois a procurar o Felpudinho. Usei nosso código secreto (balançar o pote de ração) e isso só atiçava as fêmeas. Chamei o nome dele tantas vezes… e nada! Declarei no grupo da família: “o Felpudo desapareceu”. E quem, então, apareceu? O gato invasor.
Como de costume, entrou no pátio e brigou com as gatas. Ninguém mais vai desaparecer e não é para ficar brigando, pensei. Com isso, botei elas para dentro e fechei a porta. Entre um balançar do pote de ração e outro, lavei a louça. Lá pelas tantas, ouvi o barulho do intruso novamente no pátio, chamando alguém para a briga. Corri até lá, acreditando que veria o meu Felpudinho. Infelizmente, não. O gato estava brigando com o nada. Decidimos investigar melhor e, com as lanternas dos celulares, revisamos debaixo dos arbustos que eram alvos dos rosnados do gato. Finalmente, achamos o Felpudo, encolhido de dor. Hoje, ele está em tratamento, para curar problemas no trato urinário.
Sim, tenho conseguido pensar em poucas coisas além disso nesta semana. E essa história toda é para provar que, conforme eu disse lá no começo, tento sempre ver algo de bom no que é ruim. Que bom que o gato invasor foi lá em casa incomodar mais uma vez; se não fosse por ele, talvez este texto fosse mais triste. Na próxima vez em que aparecer, vou recompensá-lo com um pouco de ração.
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