Em meio a um surto de violência em Santa Cruz do Sul, a proprietária de um mercado do Bairro Faxinal Menino Deus, Elizabeth Soder, tenta seguir a vida. Ela perdeu as contas de quantas vezes seu estabelecimento foi assaltado, mas lembra do primeiro roubo, quando seu filho, hoje com 25 anos, ainda era um bebê de colo.
Apesar do medo, Elizabeth continua trabalhando. Já seu filho, que também auxiliava a família no mercado, não conseguiu retomar a rotina depois do último assalto que sofreu, no ano passado. Na ocasião, dois homens renderam todos os funcionários e clientes. “Colocaram a arma na minha cabeça, sendo que eu estava entregando tudo, pois nunca reajo. Nessa hora, a gente sente que a nossa vida não tem valor nenhum.”
Para tentar coibir a ação de criminosos, a proprietária instalou, além de grades em volta do estabelecimento, uma porta giratória e quase uma dezena de câmeras de monitoramento. “No começo, os clientes não gostaram. Agora se sentem mais seguros também”, conta Elizabeth.
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Somente após a adoção de medidas de segurança ela teve coragem de retornar ao mercado depois do último roubo. “Eu ainda tenho medo, mas antes não conseguia nem sair de casa. Vivia com a sensação o tempo todo de que iria ser assaltada, até em casa”, relata. Seu filho ainda não se recuperou do trauma que sofreu e permanece na residência. “Um dia quem sabe ele volta. Todo mundo precisa do seu tempo”, frisa a comerciante.
A iminência dos assaltos também assusta os moradores do bairro. “Aqui todo mundo está com medo. Estamos pensando em criar um grupo para monitorar de alguma forma a violência aqui, já que não podemos contar com a polícia”, lamenta Elizabeth. Para ela, o poder público precisa dar mais atenção aos bairros. “Temos que nos sentir mais seguros, com mais policiamento nas ruas.”
Prefeituras precisam agir, diz especialista
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Somente no primeiro semestre, 230 assaltos foram registrados em Santa Cruz. Porém, o número mais surpreendente é o de assassinatos: 35, um recorde para o município – incluindo dois latrocínios, cujas vítimas foram os comerciantes Gerson Meurer, em Linha Nova, e Jair Silvino Henn, no Bairro São João.
Na análise da especialista em segurança pública Aline Kerber, os índices são um reflexo da interiorização da violência, observada nos últimos anos. “A criminalidade ficava muito concentrada na Região Metropolitana, até que as gangues formadas em presídios passaram a intervir em praticamente todo o Estado”, ressalta.
Dos municípios que reduziram a criminalidade através de ações do poder municipal, Aline destaca Novo Hamburgo e Canoas. “Essas duas cidades apresentaram planos sólidos de municipalização da segurança, com forte atuação das Guardas Municipais.” A especialista ainda alerta que os municípios devem criar centros de coleta de dados e informações sobre as áreas que mais sofrem com a insegurança. “É fundamental que a Prefeitura tenha diálogo e integração com a Polícia Civil e Militar para que em locais vulneráveis tenham mais intervenções”, afirma Aline.
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NO PRIMEIRO SEMESTRE
230 assaltos
33 homicídios
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2 latrocínios
274 furtos de veículos
O QUE OS CANDIDATOS PROPÕEM
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AFONSO SCHWENGBER (PSTU)
“Temos a clareza de que a violência não pode ser combatida com mais polícia, mas sim com escola em tempo integral e espaços de cultura, lazer e esporte. Por isso, iremos levar esses espaços, principalmente para os nossos bairros pobres. Nenhuma criança nasce com desvio de conduta e arma na mão. A falta de perspectivas e oportunidades é que produz esse resultado.”
FABIANO DUPONT (PSB)
“Não podemos esperar sentados pelo governo do Estado. Faremos o gerenciamento da segurança começando pela valorização da Guarda Municipal. Iremos efetuar a infraestrutura para que a Polícia Federal e a Polícia Civil possam também acompanhar o monitoramento da cidade. Faremos o apoio financeiro para que as forças policiais possam ampliar sua atuação, implantando um plano estratégico na prevenção dos crimes em todo o município.”
GERRI MACHADO (PT)
“Preocupado com esses altos índices de violência no município, estive em Canoas esta semana, conhecendo a política municipal de segurança pública implantada no município, que vem dando certo. Para Santa Cruz, seguirei na mesma linha, colocando a Guarda Municipal para fazer policiamento comunitário, reforçando assim o número de agentes e policiais nas ruas. Implementarei um forte programa de monitoramento, através das câmeras de vigilância, assim como o desenvolvimento de vários projetos sociais para a comunidade mais vulnerável, retirando crianças e jovens das ruas.”
SÉRGIO MORAES (PTB)
“Santa Cruz vive, segundo a OMS, uma epidemia de homicídios. A situação só piorou de 2013 para cá. Nos seis primeiros meses deste ano, tivemos mais homicídios que em todo 2015. A mesma coisa com casos de tráfico de drogas. Em 2013, foram 37. No ano passado, 155. Cresceu mais de 400%. Atacaremos causas e consequências de forma unificada. Faremos parcerias de imediato com os órgãos de segurança, como sempre fiz, e fortaleceremos programas sociais e a presença do poder público nos bairros mais violentos. Entidades de atendimento ao menor e projetos de inclusão social vão ter mais ajuda também. Vamos atacar a raiz do problema para evitar o pior.”
TELMO KIRST (PP)
“Dobramos o número de câmeras de videomonitoramento. A Guarda Municipal teve um incremento de 20% em seu efetivo. Criamos novos núcleos de Policiamento Comunitário nos bairros Bom Jesus e Progresso. Agora, estamos construindo o Centro Integrado de Segurança Pública e Cidadania. Vamos ampliar o videomonitoramento, estendendo para a região central e vias de acesso ao interior, investir na Guarda Municipal, em sua estrutura física, compra de equipamentos e implantar a Lei nº 13.022/2014 sobre o Estatuto Geral das Guardas Municipais. Queremos estabelecer novas parcerias com a Brigada Militar, Corpo de Bombeiros, Polícia Federal e Polícia Civil.”