O coronavírus deixa a comunidade global em alerta neste início de ano, mas a adoção da medidas recomendadas já está adiantada na região. Os números mais recentes divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam para 31,5 mil pessoas infectadas e pelo menos 638 mortos. O levantamento mostra que houve apenas uma morte fora da China até o momento, nas Filipinas. No Rio Grande do Sul foram 13 possíveis casos, com sintomas respiratórios, dos quais cinco não se enquadraram nos critérios e cinco foram descartados por terem positivado para Influenza. Três casos notificados permanecem em investigação, aguardando resultados laboratoriais, mas até o momento nenhuma suspeita foi registrada no Vale do Rio Pardo.
Após uma reunião com o médico infectologista Marcelo Carneiro, a Secretaria Municipal de Saúde de Santa Cruz do Sul elaborou uma nota técnica abordando o fluxo de atendimento diante de possíveis casos. “Uma série de medidas passaram a ser tomadas, como capacitações, elaboração de materiais informativos e levantamento junto a agências de turismo, rede hoteleira, fumageiras e empresas que trabalham com importação, exportação ou transporte de pessoas, para saber se haveria colaboradores ou turistas que fizeram viagem para a China ou que chegariam do país”, explica a responsável pela Vigilância Epidemiológica, Luciane Weiss Kist. A pasta está organizando ainda ações com empresas de transporte intermunicipal e orientações a alunos e professores de escolas públicas e privadas.
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Coordenadoria Regional tem plano de contingência
A 13ª Coordenadoria Regional de Saúde também está alinhando um plano de contingência junto aos municípios e macrorregiões e fará capacitação para atendimento de usuários suspeitos, de acordo com a titular da 13ª CRS, Mariluci Reis e a coordenadora adjunta, Aline Cristiane de Lima. Uma reunião com gestores e coordenadores será realizada na próxima semana. Conforme a 13ª CRS, um caso considerado suspeito seria de uma pessoa que nos últimos 14 dias tenha viajado para a China e que apresente febre acompanhada por sintomas respiratórios, como tosse ou dificuldade para respirar. Ou quem tenha tido contato com um caso suspeito e apresente o mesmo quadro clínico.
No caso de suspeita, o paciente será isolado em casa ou no hospital, de acordo com a gravidade do quadro. Diante dos sintomas, material será coletado para os exames no Laboratório Central do Estado (Lacen). O paciente em isolamento receberá medicamentos para aliviar os sintomas, já que ainda não existe tratamento para o coronavírus. Na cidade, os hospitais Santa Cruz, Ana Nery e Monte Alverne podem receber os pacientes, se for necessária a internação. “Casos leves podem ser atendidos em qualquer unidade de saúde ou na Unidade de Pronto-Atendimento do Esmeralda. Os casos mais graves, que necessitem de isolamento em hospital, serão analisados individualmente pelas instituições”, explica Luciane Kist.
A Secretaria de Saúde já realizou treinamentos com as equipes em três datas, envolvendo mais de 70 servidores. O objetivo é deixar quem trabalha diretamente com o público informado sobre a forma de propagação, como evitar a contaminação e o que fazer diante de um caso suspeito. Além de preparar as equipes, a pasta já foi procurada para repassar instruções à Secretaria de Saúde de Soledade. O secretário de Saúde, Régis de Oliveira Júnior, lembra que o município está sendo pioneiro no Estado para enfrentar o coronavírus. “Santa Cruz é uma cidade que recebe muitos estrangeiros, principalmente por causa das empresas fumageiras. Estamos nos antecipando à possível chegada do coronavírus para que possamos tomar as medidas adequadas diante do problema. Nossa equipe está preparada e já serve de exemplo para outros municípios.”
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A chegada de três chineses que moram em Santa Cruz do Sul, nessa sexta-feira, é de conhecimento da Saúde. Os três não têm familiares na cidade e estão saudáveis. Eles já se encontravam isolados na China e, mesmo sem apresentarem suspeita da doença, ficarão duas semanas isolados em seus apartamentos, para cumprir as orientações da secretaria.
Por meio de sua assessoria de comunicação, a Alliance One e a China Brasil Tabacos comentaram que orientam a suspensão das viagens ao país. “Priorizando a segurança e o bem-estar de nossos funcionários e de suas famílias, tanto Alliance One quanto China Brasil Tabacos recomendaram que viagens à China sejam evitadas neste momento”, diz a nota divulgada. Santa Cruz e região recebem mais de 40 delegações de compra de tabaco entre março e agosto.
Pouco impacto nos negócios
A China é um dos maiores destinos das exportações brasileiras, especialmente de carne, conforme o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra. Cerca de 16% da carne de frango e 28% da carne suína exportadas pelo Brasil vão para o país asiático. “Como há uma questão de saúde humana, temos um diretor de mercado na China que nos informa. Apesar das mortes, é uma doença que efetivamente tem impacto letal mais fraco que a H1N1, por exemplo.” Para Turra, o coronavírus não causa preocupações nos negócios e sim apenas alguns transtornos logísticos por conta do fechamento de províncias. No entanto, o governo chinês já tomou providências para liberar a passagem de produtos alimentícios, que têm prioridade máxima.
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O QUE É
Coronavírus é uma família de vírus que causa infecções respiratórias. De acordo com informações do Ministério da Saúde, o novo agente nCoV2019 foi descoberto em 31 de dezembro de 2019 após casos registrados na China. Os primeiros coronavírus humanos foram identificados em meados da década de 1960. A maioria das pessoas se infecta com os coronavírus ao longo da vida, sendo as crianças pequenas mais propensas. Os mais comuns que infectam humanos são o alpha coronavírus 229E e NL63 e o beta coronavírus OC43 e HKU1.
Os tipos de coronavírus conhecidos até o momento são:
Alpha coronavírus 229E e NL63.
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Beta coronavírus OC43 e HKU1.
Sars-CoV (causador da Síndrome Respiratória Aguda Grave ou Sars).
Mers-CoV (causador da Síndrome Respiratória do Oriente Médio ou Mers).
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CoV-2019: novo tipo de vírus do agente coronavírus, chamado de novo coronavírus, que surgiu na China em dezembro de 2019.
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