Termina o mês de julho e, com ele, uma maratona de festas fica para trás. As duas últimas semanas, sobretudo, foram de absoluta intensidade em animação, alegria, confraternização. Na cidade e no interior. Quando olho para estas pessoas que, às centenas, milhares até, se reúnem para celebrar a vida e a amizade e se divertir à exaustão, apesar dos perrengues que enfrentam no dia a dia, sinto revigorar-se uma chama de esperança no futuro.
Pelo menos por um dia, os guerreiros trabalhadores se permitem descansar. E antes de se renderem aos sabores da gastronomia e das animadas danças, se reúnem para celebrar a fé e receber a bênção.
De imediato, chego a uma conclusão: essa gente simples sabe ser feliz porque cultiva e preserva valores. Essas pessoas vivem movidas por projetos pessoais, como todos os demais, mas não tiram do radar a vida comunitária. Não esperam sentadas que alguém faça algo por elas, que algum governante se vanglorie do sucesso que elas constroem com trabalho e dedicação.
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Não só assumem para si o desafio de organizar eventos cada vez maiores, como o fazem com extremo esmero, tudo cuidadosamente organizado nos mínimos detalhes. Na verdade, uma cultura e um aprendizado que passa de geração a outra.
Lembro da minha infância e juventude. Depois do Natal, arrisco dizer que a data mais aguardada no ano era o 25 de julho. Já na época, nas localidades em volta, como Boa Vista e Linha Monte Alverne, aconteciam ruidosos festejos para reverenciar colonos e motoristas. Na minha terra, porém, em Quarta Linha Nova Alta, havia outro motivo para tornar especial essa data: o dia do padroeiro da comunidade, São Jacó. Para os que estão familiarizados, vem a ser o Kerb, nada menos que o dia mais solene e festivo do ano.
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A igreja era toda ornamentada, da entrada ao altar, com ramos de palmito e algumas flores, escassas nesta época. Vestíamos a melhor roupa e, ao badalar do sino, nos encaminhávamos para a igreja. Tudo era solene: o coral que entoava cânticos cuidadosamente ensaiados, o sermão rebuscado do vigário, os olhares que cruzavam o corredor central que dividia homens de um lado, mulheres de outro.
Mas o apogeu, para nós meninos na época, era o momento do espocar dos morteiros, que, obviamente, não lançavam granadas. Eram apenas peças artesanais municiadas com pólvora. Primeiro se ouviam os mais leves. A adrenalina ia subindo, até que acontecia o grand finale: o morteiro mestre, que fazia tremer as vidraças da igreja.
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Nos entreolhávamos com ar de aprovação: que estouro! – todos exclamavam. Também era, para nós, o sinal de que a celebração logo acabaria e se daria início à comemoração do Kerb. Não em sociedade, como nas demais festas, mas em família. Convidavam-se parentes que residiam em outras localidades e alguns amigos próximos para uma confraternização em casa. Tudo muito singelo e autêntico.
Em família, nas sedes comunitárias, nos salões paroquiais, seja onde for: não podemos abrir mão de nossos valores. Quando somos uma comunidade, onde uns apoiam os outros, trabalham e se divertem juntos, somos mais fortes. E resilientes frente às decepções que a conjuntura nacional nos impõe todos os dias.
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