O segundo entrevistado da série de diálogos com os prefeituráveis de Santa Cruz do Sul, na Rádio Gazeta FM 107,9, foi o candidato do Partido dos Trabalhadores (PT), João Pedro Schmidt. Ele esteve no programa Estúdio Interativo para conversar com o jornalista Ronaldo Falkenback, acompanhado de sua vice, Marta Nunes.
Filho de uma família de sete irmãos, tendo nascido no interior de Boa Vista, ele relatou a sua intenção de ingressar na vida religiosa, com o intuito de ser sacerdote. Saiu cedo de casa para estudar em seminário em Arroio do Meio, no Vale do Taquari; depois em Santa Cruz do Sul; e, por fim, em Viamão, na Região Metropolitana de Porto Alegre. Entendia que era uma forma de praticar exercícios físicos e ampliar conhecimento, e que significaria uma vida menos dura do que a do campo.
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Nesse período, tornou-se mestre e fez doutorado em Ciências Políticas. Tem cerca de 40 anos na carreira como professor, entre a Pontifícia Universidade Católica (PUC) e a Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). A perspectiva do celibato obrigatório não o convenceu, fazendo com que abandonasse a ideia do sacerdócio e continuasse na área educacional. Assim, Schmidt casou-se com Magda, dentista e professora da Unisc, com quem tem um filho. A união já dura mais de 30 anos.
Entende que sua visão filosófica do mundo fez com que fosse conduzido à política. Reforça, no entanto, o aprendizado de que religião é coisa séria, que não deve ser misturada com política. “São coisas distintas”, frisa. Manteve, porém, o vínculo com a pastoral universitária.
No setor político-partidário, ingressou no PT na década de 1980, ainda no clima da campanha Diretas Já!, que defendia o fim do governo militar e a liberdade de escolha dos governantes pelos brasileiros, por meio do voto. Schmidt foi eleito vereador em 1996, permanecendo até 2004. Participou de duas disputas para a Prefeitura, em 1988 e 1992, destacando a primeira como a grande surpresa pela expressiva votação.
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Principais tópicos
- RETORNO À POLÍTICA
“Não pensava mais em voltar, mas estamos saindo de uma ameaça de golpe, democracia em risco, muito negacionismo, não estão claras as situações sobre um projeto político democrático de enfrentamento das mudanças climáticas. Escrevi um livro sobre a situação climática, e é muito preocupante. A cena eleitoral é importante para ajudar o povo a se preparar para esse momento. Acho que estamos preparados e não vejo sinal nas outras candidaturas.” - POLÍTICA PARTIDÁRIA
“Nas duas vezes em que concorri, fiz cerca de 20% dos votos. Foi nosso maior patamar. O que falavam de mim naquela época? É gente boa, mas muito novinho, o partido está muito fraco. Pessoas querem votar por segurança, têm receio de que nas mãos de um menino a política não ande bem. Tivemos momentos bons, com o Lula vencendo aqui, o Tarso vencendo aqui. A ideia de que Santa Cruz é conservadora, isso é em termos. Tem anos em que ganhamos e tem anos em que os outros ganham. Lula fez 33% dos votos no primeiro turno e praticamente 40% no segundo (na última eleição). Esses votos são suficientes para ganhar as eleições. Mas isso não é tão automático. Aviso desde já. Se as outras candidaturas acham que vão aplicar o voto útil para cima de nós, aplicaremos o voto útil para cima deles. O eleitorado da família Moraes em grande parte vota no PT para presidente, no Lula, e nós queremos esses votos do Lula e vamos reduzir os votos da família Moraes. Pelo lado da direita mais convencional, da família Hermany, tem muita gente esperando alternativa melhor, vendo méritos na prefeita, mas também vendo o problema do envolvimento na corrupção, que é muito sério. Queremos esse eleitorado. Temos que mostrar à população que temos mais capacidade que essas famílias por aí.” - META CLIMÁTICA
“A questão climática é muito séria. Se as pessoas entenderem isso, vão ficar atentas ao que os partidos vão propor, mas temos que casar o ambiental à questão social. Quem está passando fome não pensa no clima, pensa na sobrevivência. Pelo lado ambiental, uma grande prioridade é o plantio de árvores. Somente árvores aos milhões podem levar o planeta a resfriar um pouco. Falamos em 10 mil árvores como um número para dizer que devemos plantar muito, na beira do Rio Pardinho, do Taquari Mirim, do Castelhano. Não adianta ter árvores na beira do rio, precisamos ter também na cidade. Se olharmos o número de calçadas com poucas ou nenhuma árvore, são milhares. É uma convocação que fazemos à sociedade, que precisa se envolver no plantio e no cuidado. Haverá um plano de atenção às condições climáticas, mas quero atentar para outro lado. Precisamos de menos carros rodando nas ruas. Santa Cruz tem 100 mil veículos. É hora de pensar em reduzir, mas não dá para obrigar, temos que conquistar as pessoas.” - TARIFA ZERO
“É possível fazer o que mais de cem cidades no Brasil já fazem. A primeira foi Maricá, no Rio de Janeiro, mas lá tem os recursos dos royalties do petróleo, tem muito recurso. Mas temos muito mais do que Parobé, que também tem [tarifa zero]; Garopaba tem. As formas de adoção são diferentes. Isso deve ser implantado gradativamente, começando pelos fins de semana, mostrando que é bom para o comércio, a circulação de pessoas. Vamos mostrar o quão importante é. Do ponto de vista da mobilidade, ônibus de qualidade e tarifa zero, as pessoas vão deixar o veículo em casa para ir de coletivo. Qual a combinação [para custear] que usam em várias cidades: parte da Prefeitura, aumentando o percentual, utilizar o vale-transporte (há cidades que adotam menor, mas com maior abrangência), publicidade em paradas e ônibus, parte de multas, estacionamento rotativo, é uma combinação que cada cidade está definindo. Todas estão conseguindo. Hoje, uma passagem de R$ 4,45 dá bastante no final do mês. Tem pessoas que não saem de casa, porque o dinheiro fica curto. Esse valor investido no comércio local será um elemento adicional. A cidade vai mudar a cara com transporte gratuito. ” - “UBER” PÚBLICO
“Já é realidade em Araraquara, em São Paulo. Falei com a prefeita, que resumiu dizendo que a Prefeitura desenvolveu o aplicativo com técnicos da área e uma cooperativa dos trabalhadores organizou o serviço. Enquanto as empresas privadas pagam aos motoristas em torno de 60%, eles pagam 90%. A ideia é essa: ao invés de uma empresa privada, uma cooperativa com a Prefeitura oferecendo o serviço. O ônibus será gratuito e o aplicativo pago, bem organizado e com motoristas mais beneficiados.” - AUTÓDROMO
“A ideia de conceder a gestão à iniciativa privada não foge em nada da ideia do PT. No governo Dilma, a Infraero cedeu espaço para a iniciativa privada. Concessão dos serviços públicos limitada e em áreas consideradas viáveis é uma prática do PT. A ideia de que somos contra toda privatização é equivocada. O autódromo serve a quem? A maioria das pessoas que encontro não se identifica com o autódromo. O serviço público tem que ser importante. O autódromo não é um serviço público para a maioria da população. Gasta-se com o autódromo ano após ano e ele é deficitário desde o início, cerca de R$ 40 milhões investidos em infraestrutura e arrecadamos cerca de R$ 4,3 milhões. Vai manter um serviço deficitário, que serve a um segmento da população? Por que não passar para a iniciativa privada e priorizar o que é necessário: educação, saúde,
assistência social?” - CONTRATO COM A CORSAN
“Não vejo como voltar atrás. O que temos que fazer é uma fiscalização rigorosa, pressionar para que seja feita da maneira mais fiel. Nossa Prefeitura não fará nada de mirabolante. A energia elétrica e a água estão dando problemas em muitos lugares, após a privatização, mas não é uma Prefeitura que conseguirá resolver isso. No caso do autódromo, temos como propor. A Prefeitura tem tarefas e não está conseguindo atender saúde, educação, assistência social, preparação para as mudanças climáticas. Temos uma defesa civil absolutamente defasada. Fui vereador quando o autódromo foi implantado e gastamos muita energia com isso.” - CORRUPÇÃO
“Não é de desconhecimento que a Prefeitura está sendo alvo de investigação pesada. Não é toda a gestão que tem secretários afastados e o filho da prefeita, vereador afastado. Não há mágica, mas existem atitudes que devem ser tomadas. Fim do nepotismo, não ter marido secretário, irmã em cargos de confiança. Família é uma coisa, Prefeitura é outra. Sobre os mecanismos de transparência, acho que podemos melhorar muito.” - DECLARAÇÃO E BENS
“Como um professor consegue e os outros não, vivendo da política com suas famílias há anos e tendo pouquinho patrimônio? Fiquei intrigado e quero perguntar nos debates: como não conseguem ter patrimônio.”
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