Realista, mas não por isso pessimista. Pelo contrário, nos mais de 30 minutos dedicados à entrevista para a Associação de Diários de Interior do Rio Grande do Sul (ADI/RS), na última quarta-feira, o governador José Ivo Sartori (PMDB) mostrou otimismo para governar e enfrentar as dificuldades financeiras que diariamente fazem parte do seu discurso. Chave disso, segundo ele, é a transparência e o compromisso com as contas.
Há um ano e meio à frente do governo gaúcho, Sartori avaliou seu mandato e listou os principais avanços, entre eles a renegociação da dívida com a União e a reforma da Previdência.
Admitiu, ainda, a possibilidade de conceder a RSC-287 à iniciativa privada e prometeu “todo o esforço” para pagar o 13º salário dos servidores em dia este ano.
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ENTREVISTA
José Ivo Sartori (PMDB) – governador
Gazeta – Como o senhor almeja deixar o Estado após o mandato?
Sartori – Espero chegar ao final do governo com melhores condições financeiras para que o próximo governante possa assumir com menos dificuldades e com menos constrangimento que a nossa equipe.
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Gazeta – Neste um ano e meio, o que foi executado que o senhor considera mais importante?
Sartori – Em primeiro lugar foi a diminuição do número de secretarias. Foi também o controle e contingenciamento dos cargos de confiança, o limite de viagens e processos de diárias. Com essas medidas cortamos R$ 1 bilhão em 2015. Acredito eu que ainda no mês de julho nós vamos colocar em vigor a Previdência Complementar, que vai colher seus frutos daqui a 10, 15 ou 20 anos. Mas era preciso plantar isso. Temos ainda a Lei de Responsabilidade Fiscal, que foi inédita no país por ser estadual, para que ninguém gaste mais do que tem.
Gazeta – O que representa esse fôlego no pagamento das parcelas da dívida com a União?
Sartori – Conquistar a renegociação da dívida não significa que resolva os problemas financeiros do RS, mas que dá um alívio, isso dá. Nós temos que pagar no futuro, porém o alongamento por 20 anos do contrato garantirá uma redução quase pela metade do estoque da dívida e a parcela cada vez será menor na relação com a Receita Corrente Líquida. O resíduo da dívida em 2028, pela troca dos indexadores (IGP-DI mais 6% por IPCA mais 4%), cairá de R$ 37 bilhões para R$ 17 bilhões e a parcela mensal ficará, em média, R$ 50 milhões a menos.
Gazeta – O que permitirá ser feito em investimentos, considerando esse alívio?
Sartori – O orçamento deste ano prevê um deficit de R$ 4,3 bilhões e o novo acordo prevê um alívio até dezembro na ordem de R$ 2,1 bilhões. Mas temos que manter nossa austeridade, no combate à sonegação e na cobrança da dívida dos impostos. Com esse alívio é preciso priorizar duas áreas muito delicadas para o cidadão: segurança pública e saúde. Vamos lançar o plano de segurança (lançado na quinta-feira, um dia após a entrevista) para dar um pouco de sossego às nossas comunidades, mas também oferecer aos organismos de segurança condições melhores de atuar. É importante dizer que não se tem dinheiro novo para investir, mas nos dá oportunidade para atender o que é prioritário na vida das pessoas.
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Gazeta – O segredo de uma boa gestão é fazer mais com menos?
Sartori – Olha, tem gente que não gosta desta expressão. Estamos acostumados a viver em um mundo onde todo mundo olha só para si. Temos que olhar diferente para nosso Rio Grande do Sul, fazer um compartilhamento, repartir as questões. O Estado sozinho não vai sair das dificuldades que tem, se não tiver a participação, o apoio e o envolvimento da sociedade. Nem vai construir mudanças se nós repetirmos as mesmices. E eu preciso dar um dado para vocês: em um período de 45 anos, a receita do RS foi maior que a despesa em apenas sete. Chega um dia que você tem que colocar as coisas no seu devido lugar. Por isso alguns não entenderam no começo quando nós estávamos arrumando a casa, tomando as atitudes. Desgaste vai ter, dificuldades também, mas tenho certeza que a sociedade está compreendendo.
Gazeta – Nunca se falou tanto das dificuldades financeiras do Estado. Esta situação era evitada ou se agravou desde o ano passado?
Sartori – Sou daquelas pessoas que não quero olhar para trás. Todos os governadores procuraram fazer o melhor. Nos coube esse papel diferente nesse momento histórico que estamos vivendo. Eu disse na campanha que iria fazer o que precisasse ser feito e estou procurando fazer o que precisa ser feito.
Gazeta – O que o governo projeta para a RSC-287?
Sartori – Dentro das possibilidades, a EGR vem realizando a manutenção na rodovia. Porém, a possibilidade de concessão é uma alternativa que vem sendo considerada, uma vez que, por sua importância e pelo fluxo de veículos, a rodovia deve despertar o interesse das concessionárias. As definições de quais rodovias serão concedidas só virão após a elaboração do marco regulatório das concessões.
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