Santa Cruz do Sul

São Martinho: o distrito reconhecido pelas festas

A série Vida no Interior pegou a estrada e subiu a região serrana do interior de Santa Cruz do Sul, chegando ao distrito de São Martinho, localizado a 33 quilômetros do centro da cidade. Entre morros e vales, a beleza natural da região chama a atenção de quem passa pelo local. Em alguns pontos, é possível avistar a cidade de Venâncio Aires.

O trajeto para chegar ao 4º Distrito inicia-se no Trevo Fritz e Frida, passa pela Avenida Prefeito Orlando Oscar Baumhardt, em Linha Santa Cruz; segue pela ERS-418 (Rodovia Arno Frantz) e culmina em uma estrada de chão, na Estrada Linha São Martinho, que possui trechos asfaltados.

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O distrito foi criado em 22 de julho de 1994, pela Lei 2.631. Segundo o Censo Demográfico 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a região conta com uma população estimada em 640 moradores. Além disso, são 299 residências na localidade.

São Martinho é conhecida, especialmente pela comunidade do interior, como a região das grandes festas e bailes. O nome do local faz alusão a um santo negro, chamado de São Martinho.

Salões que marcaram gerações no interior

É comum que comunidades do interior realiem suas festas anuais, as famosas quermesses, eventos esportivos e outros. Em São Martinho, as comemorações iam além; madrugada adentro reunindo jovens de toda a região e de municípios vizinhos, como Vera Cruz, Venâncio Aires e Sinimbu. No distrito, os salões Butzge, Wehner e Kelzenberg são referências.

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Auge dos bailes no Salão Wehner foi nos anos 2000. O lugar sediava uma festa a cada mês
Perto da Escola Cardeal Leme está o comercial e salão Kelzenberg, uma referência no distrito

Um lugar que realizava grandes bailes era o Salão Wehner, que há quase 30 anos promovia festas, sendo palco para concursos que elegeram representantes de entidades, como de departamentos de futebol. Um dos eventos tradicionais da região, e que ocorreram no Wehner, foi a escolha da Garota Discoathi. 

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Atualmente o local não promove mais os bailes, apenas alguns encontros de sociedade. O Salão Wehner encerrou as atividades em 2017,  após ser averiguada a necessidade de mais investimentos na estrutura. Além do ambiente de festa, ao lado existe um comercial. À frente dos negócios está o casal Elias Wehner, 46 anos, e Aline Raquel Muller, 42.

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Elias, Aline e a filha Ana Luísa Wehner

“Antes de se tornar Salão Wehner, aqui se chamava Stein. Os pais do Elias adquiriram a estrutura e tocaram os negócios. Mas há 14 anos somos eu e ele cuidando daqui, pois os pais do Elias resolveram ter mais tranquilidade, e nós continuamos os negócios, inclusive os bailes,” conta Aline.

O auge dos bailes do Wehner foi a partir dos anos 2000. A cada mês, uma festa era realizada. Para a geração mais jovem, as melhores lembranças são entre os anos de 2010 e 2013. “Foi um tempo muito bom. Vinham ônibus lotados de vários lugares, e tinha sorteios de moto e carro para o público. Quando tinha bailarinos, as pessoas gostavam muito por ser algo diferente para o interior”, afirma Elias.

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Com o encerramento dos bailes, o casal se reinventou, mas não deixou de promover festas. Eles criaram uma empresa de decorações, a Wehner Festas e Eventos. “Hoje o salão é o depósito das minhas decorações. Comecei fazendo aniversários pela região, e agora tenho clientes até em outras cidades”, destaca Aline. O casal também trabalha com o setor de buffet para eventos. “Foi uma forma que a gente achou para substituir a renda dos bailes.”

Aliado aos eventos, o casal continua com o comercial, ou a venda, como é chamada no interior. “Um dos nossos destaques aqui são os bolinhos de carne. Muita gente vem até aqui por causa deles. Clientes até pediram a receita, mas não conseguem fazer igual”, completa Aline. 

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Apesar de o Wehner não promover mais os bailes, o Salão Butzge ainda realiza as tradicionais domingueiras, com grandes bandas da região, atraindo um público diverso e mantendo São Martinho como um caminho para os festeiros.

O futebol amador é uma marca

O distrito também possui raízes ligadas ao futebol amador. Conta com dois clubes: o Guarani e o São Martinho. Ambos possuem estrutura para receber os campeonatos de que participam. O Esporte Clube Guarani conta com mais de 50 anos de existência, fundado em 1965, por Egon e Aldino Frantz e Elenor Faust. 

Neste fim de semana, os titulares do São Martinho e o Boa Vista farão o primeiro jogo de ida da final do Campeonato Monte Alverne, na busca pela Taça Oral Sin. A partida de volta está agendado para o dia 1º de maio. Além dos titulares, neste domingo, 21, os Aspirantes de São Martinho e São José se enfrentam na busca pelo título da categoria.

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Elias Wehner possui forte ligação com o time que leva o nome do distrito. Ele é o atual presidente do São Martinho e foi responsável por importantes investimentos. A história para reorganizar o clube é curiosa. “Em 2016, teve a promoção Kaiser dá Jogo. Para participar, tinha que juntar tampinhas da cerveja Kaiser com o código e se inscrever. Eu participei e ganhei R$ 30 mil; sendo R$ 25 mil para reformar o clube e R$ 5 mil para o ganhador”, destaca.

Além de reformar o campo, o clube recebeu uma nova sede. “Antes de inaugurar, tivemos que escolher um nome para o campo, não chegamos a uma conclusão. Em 2016, nasceu o meu filho Gabriel Henrique Wehner, então, com o apoio de todos, colocamos o nome dele”, lembra Elias. A reinauguração ocorreu em 2017. O time é considerado um dos mais antigos da região, existindo desde 1958.

A educação passa pela Cardeal Leme

Grande parte dos moradores de São Martinho estudou na Escola Municipal de Ensino Fundamental Cardeal Leme, fundada por imigrantes de origem germânica, em 1899. Como um educandário do interior, ali busca-se valorizar os ensinos da zona rural.

A primeira professora da instituição foi Luisa Dick, que inicialmente lecionava em sua própria casa. Em torno do ano de 1900, um grupo de pais residentes na comunidade se uniu com a ideia de construir uma escola de madeira ao lado da igreja da localidade. A proposta teve apoio do pároco local. O educandário foi batizado com o nome do 3° arcebispo do Rio de Janeiro, dom Sebastião Leme, passando a chamar-se Escola Particular Cardeal Leme. Nos primeiros anos, atendia alunos de 1ª e 2ª séries no turno da manhã e de 3ª e 4ª séries à tarde.

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Na época, não existiam cadernos para os estudantes. Eles tinham que anotar as lições em uma pequena lousa e no outro dia apagar para escrever novamente. Outra dificuldade enfrentada pelos alunos foi a campanha de nacionalização que proibia o uso da língua alemã em departamentos públicos. Naquela época, inclusive os professores tinham dificuldades para se expressarem com a língua portuguesa. O atual nome da escola foi implantado em 1998. 

Para valorizar as tradições rurais, em 2009 a escola implantou o projeto “Educação Diferenciada para o Meio Rural”, totalmente voltado à realidade dos alunos. O projeto busca valorizar os conhecimentos da localidade e adaptar os conteúdos. O ensino da língua alemã também voltou a ser trabalhado na escola.

Conforme a diretora Juliana Margarete Behling, 42 anos, o assunto rural consiste em trabalhar as propriedades dos pais dos alunos. “É uma forma de verem que o local onde eles moram também pode ser uma fonte de renda, sem precisar ir para a cidade.”

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Atualmente 90 alunos frequentam o educandário. O atendimento é desde a educação infantil (4 anos) até o 9º ano. “Nossa escola é muito próxima dos pais. Uma vez realizamos um projeto entre a escola e a família chamado de Parceria de Sucesso, que consistia na realização de uma feira de alimentos. Os alunos trouxeram coisas que estavam sobrando em casa, como verduras e frutas, e destinamos para três entidades.”

O trabalho educacional é supervisionado por Mônica Maria Maas, 63 anos. Ela está na Cardeal Leme desde 2004. “Nós também fizemos um projeto de receitas chamado Sabor com Amor. No dia da oficina, as mães e as avós vieram para a escola ensinar receitas aos alunos. Foi um dia bem marcante”, conta. Após a oficina, os participantes ganharam um caderno com as receitas desenvolvidas no colégio.

Diretora Juliana e a supervisora Mônica: uma escola unida com às famílias do interior, com projetos e iniciativas rurais

Melhorias no distrito

A comunidade de São Martinho está recebendo melhorias, como na área de abastecimento de água. A Prefeitura de Santa Cruz já canalizou quase 90% da rede hídrica da localidade, chegando a uma extensão de aproximadamente 50 quilômetros. Depois de finalizado, o investimento deve beneficiar em média 110 famílias.

Comunidade de São Martinho conta com 640 moradores no interior
Em pontos da estrada, é possível avistar a cidade de Venâncio

Outra facilidade para os moradores foi a implantação do plantão noturno no Hospital Monte Alverne. Dessa forma, em caso de necessidade de atendimento médico, eles não precisam se deslocar até a cidade de Santa Cruz.

Delimitações

O distrito de São Martinho está delimitado pelas seguintes confrontações: inicia na estrada Linha Felipe Nery e na estrada geral, seguindo para Linha São Martinho de Monte Alverne; chegando à divisa oeste do distrito de Monte Alverne, pela estrada geral que segue para a Linha São Martinho e estrada Linha General Osório, sempre pela divisa oeste do distrito de Monte Alverne.

Então passa em direção nordeste até a Escola Municipal Augusto Scherer, de Linha Hamburgo, de onde segue pela estrada até encontrar as estradas de Linha Pinheiro Machado e Linha Botão em direção noroeste pela estrada de Linha Botão, divisa nordeste com distrito de Monte Alverne, até encontrar-se com a Entrada Schwinn.

A delimitação passa por diversas propriedades até a estrada Frantz, divisa sul do distrito Alto Paredão. A partir daí segue em direção oeste passando pela divisa de Alto Paredão e o Município de Sinimbu, deste ponto segue em direção sul, sempre pela divisa leste de Sinimbu até um ponto ao norte do distrito de Boa Vista. Depois a delimitação retorna até atingir o ponto inicial.

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Ricardo Gais

Natural de Quarta Linha Nova Baixa, interior de Santa Cruz do Sul, Ricardo Luís Gais tem 26 anos. Antes de trabalhar na cidade, ajudou na colheita do tabaco da família. Seu primeiro emprego foi como recepcionista no Soder Hotel (2016-2019). Depois atuou como repositor de supermercado no Super Alegria (2019-2020). Entrou no ramo da comunicação em 2020. Em 2021, recebeu o prêmio Adjori/RS de Jornalismo - Menção Honrosa terceiro lugar - na categoria reportagem. Desde março de 2023, atua como jornalista multimídia na Gazeta Grupo de Comunicações, em Santa Cruz. Ricardo concluiu o Ensino Médio na Escola Estadual Ernesto Alves de Oliveira (2016) e ingressou no curso de Jornalismo em 2017/02 na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). Em 2022, migrou para o curso de Jornalismo EAD, no Centro Universitário Internacional (Uninter). A previsão de conclusão do curso é para o primeiro semestre de 2025.

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