Santa Cruz do Sul

Santa-cruzenses prestam homenagens nos cemitérios durante o Dia de Finados

Passava das 9 horas de sábado, quando um carro parou em frente ao Cemitério Municipal de Santa Cruz do Sul. Dele saíram as irmãs Noeli, Claudete, Lourena, Traudi e Gladis. Carregando flores e material para limpeza, elas caminharam em direção ao túmulo onde estão os pais, Amanda B. Faust e Edgar Christmann. Junto a eles está ainda uma filha, Silvia, que morreu 12 dias após o parto, em 1966. “Estão em paz”, disse uma das irmãs.

Ao chegarem, começaram a saudar os familiares que partiram. Reuniram-se em torno do jazigo e ficaram em silêncio. Algum tempo depois, começaram a organizar o espaço. Enquanto algumas limpavam a sepultura, as demais substituíam as flores. Escolheram as naturais em vez das artificiais para atender a um pedido da mãe.

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Assim, em pouco tempo, o espaço ficou impecável. As cores das pétalas escolhidas pelas irmãs se destacaram sobre o tom cinza da sepultura. Durante os trabalhos, o filho de Noeli, Adriano Machado, de 51 anos, chegou com mais flores. Em seguida, o quinto filho do casal Christmann, Renato, de 73, e a esposa, Maria Gladis, juntaram-se ao grupo para dar continuidade à manutenção do túmulo.

Enquanto isso, recordavam os momentos que passaram ao lado dos pais. Amanda, que faleceu aos 85 anos, adorava reunir-se com os filhos, que chamava de pintinhos. Vaidosa, gostava de embelezar-se e detestava o vento, que poderia arruinar o penteado. Também lembraram com carinho que ela era uma boa confeiteira, preparando cucas e bolachas.

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Já Edgar, que faleceu aos 55 anos, trabalhava em fábricas de material escolar de Santa Cruz. Em dias de festividade, saía com a sua bicicleta do então Bairro Verena para ir de mercado em mercado comprar as coisas para as reuniões familiares.

Para os filhos, os dois ensinaram a importância da simplicidade, honestidade e de estar com a família. Por isso, costumam ir com frequência ao cemitério e preservar as lembranças. “Não podem ser lembrados apenas no Dia de Finados”, defendeu Claudete.

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Assim como a família Christmann, um grande número de pessoas esteve pelos cemitérios de Santa Cruz no Dia de Finados, para ornamentar os túmulos e prestar homenagens àqueles que partiram. Os espaços estavam limpos e decorados com flores.

“Saudade é o amor que fica”, afirma professora

Passado das 10 horas, a quantidade de visitantes no Cemitério Católico começou a diminuir. Muitos túmulos já estavam limpos e com as flores trocadas. Ainda assim, havia aqueles que davam continuidade à manutenção do espaço e relembravam os falecidos. As irmãs Vera Lúcia Ayres, de 66 anos, e Maria Gessi Ayres, de 76, dedicavam-se ao jazigo dos pais Iracema e Waldomiro S. Ayres.

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Professoras de História e Geografia, elas não limitam as visitas ao cemitério ao Dia de Finados. “Toda vez que sentimos saudades, viemos aqui e aproveitamos para fazer a manutenção. Saudades é o amor que fica”, afirmou Vera. 

Iracema, que faleceu em 2008, aos 82 anos, foi merendeira e servente na Escola Santa Cruz por anos. Ficou conhecida pela sopa de tutano que preparava. Para isso, ia até o quartel do Exército uma hora antes de começar a trabalhar para pegar os ossos das carnes. Eram pelo menos quatro panelas para servir os alunos. “Muita gente até hoje fala que lembra daquela sopa de tutano”, contou Vera.

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Waldomiro faleceu aos 90 anos, em 2015. “Ele estava com saudades da mãe e não via a hora de estar junto novamente”, contou a filha. Por anos, atuou como pedreiro e carpinteiro. Depois de aposentar-se, assumiu o barzinho da escola. Lá, preparava um cachorro-quente que deixou saudades em muitos alunos. “Muitos pediam a receita do molho e saber como se preparava”, disse. Para as duas irmãs, a gentileza, o amor e a honestidade são as grandes heranças deixadas pelos pais.

Irmãs Vera e Maria Ayres fazem a manutenção do jazigo onde repousam a mãe e o pai | Foto: Rodrigo Assmann

Cuidado com a dengue

Durante as visitas aos cemitérios, agentes de controle de endemias de Santa Cruz atuavam para impedir a proliferação do Aedes aegypti entre os túmulos. A principal preocupação é com a embalagem de plástico em torno dos vasos de flores, que acumulam água e servem para abrigar o mosquito. Na área do Cemitério Católico, a agente Alice de Fátima Cardoso da Rosa alertou os visitantes sobre o risco.

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Como forma de justificar o pedido, lembrou que em torno do local há casas geriátricas e prédios residenciais. “Reforçamos que a população não leve flores com essa decoração”, solicitou.

A agente de endemias Alice de Fátima vistoriou o cemitério e orientou os visitantes | Foto: Rodrigo Assmann

Venda de flores

Com o grande número de pessoas no Cemitério Municipal durante o Dia de Finados, a venda de flores disparou. No Mercado das Flores – localizado na Avenida Independência, em frente ao cemitério –, a movimentação era intensa desde o início da manhã e foi acalmando à tarde. De acordo com Marlete Fritzen, sócia-proprietária do estabelecimento junto com a irmã Ana, a maioria dos clientes optou por flores artificiais. “Ela ganhou força pela durabilidade e devido ao preço, que caiu muito esse ano, enquanto a natural encareceu devido às enchentes.”

Marlene Fritzen teve um sábado de grande movimento em sua loja | Foto: Rodrigo Assmann

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Julian Kober

É jornalista de geral e atua na profissão há dez anos. Possui bacharel em jornalismo (Unisinos) e trabalhou em grupos de comunicação de diversas cidades do Rio Grande do Sul.

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