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Santa-cruzense mostra a Suíça além dos estereótipos

Imagine um ônibus urbano onde não há cobrador, um supermercado em que você mesmo valida as suas mercadorias, um lago (limpo) no centro da cidade em que é permitido tomar banho e até uma fazenda onde se compra produtos orgânicos e deixa-se a quantia cobrada sem que ninguém controle. Tudo na base da confiança. Esses cenários são observados com facilidade na Suíça, país sete vezes menor que o Rio Grande do Sul, onde a santa-cruzense Aline Sausen, 30 anos,  reside há cinco anos.

Fisioterapeuta, Aline se mudou para a região de Lausanne ainda em 2013, quando recebeu uma proposta de emprego e decidiu construir uma vida ao lado do namorado (hoje marido), que já morava no país. “Quando cheguei o que mais me chamou a atenção, além da beleza e da organização dos jardins públicos, foi a formalidade das pessoas. Aqui ainda seguramos as portas uns para os outros, dizemos bom dia para todo mundo assim que chegamos em qualquer lugar e somos tratados por senhor e senhora para tudo.”

E ainda que sejam cordiais, os suíços, segundo Aline, vão direto ao ponto, sem muita enrolação.  “Eles falam o que pensam e sabem dizer não para as mais variadas situações”, afirma. Aí não existe aquele “jeitinho”. A sinceridade, aliás, pode vir de um gerente para o próprio cliente em um restaurante ou loja. “Se você faz algo errado, o suíço vai chamar a atenção. Pode até te xingar, mas dois minutos depois está tudo bem, como se nada tivesse acontecido. Só precisam falar o que incomoda”, explica.

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Foto: Arquivo Pessoal
As tulipas enfeitam os jardins suíços entre os meses de março e maio

 

Apaixonados por montanhas

Seja inverno, seja verão, os alpes são sempre uma boa pedida. “Os moradores, no geral, são apaixonados pelas montanhas e pela natureza. Aproveitam essas paisagens para relaxar nos chalés ou para praticar esportes como ski, snowboard, parapente e caminhadas de montanha (randonnée, em francês).” O cenário, segundo Aline, fica ainda mais charmoso quando as manadas de bovinos, com seus sinos tradicionais, sobem para pastar nas montanhas. Outro detalhe de encher os olhos são os lagos cristalinos. É só olhar a foto.

Foto: Arquivo Pessoal
Lago de Blausee, na parte alemã da Suíça: beleza natural e um colírio para os olhos

 

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Custo de vida

Conforme o Expatistan, site que compara o custo de vida entre cidades do mundo, Zurique (maior da Suíça, com 379 mil habitantes) chega a ser 244% mais cara que Santa Cruz. Segundo Aline, até quem recebe em francos suíços (moeda local) preciso apertar os cintos. “É tudo muito caro e nem sempre o salário acompanha. As estatísticas mostram que um a cada quatro suíços não tem dinheiro para o final do mês.”

Reciclagem

Na Suíça é necessário comprar um saco especial para revestir o lixo e o dinheiro investido nesse produto vai para o cantão, Estado responsável por gerenciar todos os tipos de resíduos. Outro detalhe é que se os fiscais encontram lixo seco no espaço estrito para resíduos orgânicos, multam quem praticou o ato. “Aqui tem multa para tudo.”

Arte em constante evolução

Duas semanas após o incêndio que consumiu o Museu Nacional do Rio, Aline Sausen lembra do cuidado dos suíços com seus patrimônios históricos e espaços culturais. “Aqui tem museus de tudo o que se imagina. O cinema, o teatro, a dança e a arte também estão em constante evolução, mesmo que não seja tão referência nesse quesito comparado a outros países europeus”, acrescenta.  Outra iniciativa que faz sucesso é a Noite dos Museus, evento em que os moradores pagam 10 francos suíços (o equivalente a R$ 42,00) e têm acesso a quase 30 museus e casas de arte, além de transporte público. Porto Alegre realiza um evento muito similar, inclusive com apresentações musicais.

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Foto: Arquivo Pessoal
É possível praticar Stand Up Padlle no Lago Iéman

 

Que tal uma festa medieval?

Ainda que sejam mais conhecidas na França, festas medievais também movimentam a população na Suíça. Os eventos ocorrem em castelos bem conservados e reúnem pessoas que trajam roupas da época e entram no clima. Aline lembra que apresentações de tiro de canhão e danças típicas são uma atração à parte. Outra curiosidade é o cardápio. Hidromel (bebida dos vikings) e carne de cervo – consumidas com a mão mesmo – concedem ainda mais características ao estilo “Game Of Thrones”. Já as festas típicas do país são muito voltadas à sazonalidade da agricultura e pecuária. Festa da farinha e do pão, festa da colheita da uva e festa da desalpagem (retorno dos bovinos para as fazendas).

Estilo de vida simples surpreendeu

O estilo de vida observado no país surpreendeu Aline. Antes de embarcar, ela imaginava que boa parte dos suíços mantinha uma vida mais luxuosa. Não que esse perfil não exista no país, mas a maioria, segundo ela, vive de forma mais simples. “As pessoas não se preocupam com roupas ou móveis de luxo. Têm carros discretos ou sequer têm veículos. Contar com diarista e babá é praticamente impossível por causa do alto custo.” Todo mundo “se vira.”

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Foto: Arquivo Pessoal
Aline registrou imagem de Zermatt, com a conhecida montanha Matterhorn ao fundo

 

Igualdade de gêneros precisa avançar

Na política e na economia, as mulheres ainda estão com baixa representatividade na Suíça. “Infelizmente, ainda se tem muito a mentalidade de que a mulher deve cuidar e educar os filhos, abrindo mão do trabalho. As vagas em creches são limitadas e caras, dificultando o retorno ao trabalho”, observa Aline.

Sem muito pudor

Pode até parecer estranho para os brasileiros, mas os suíços, segundo Aline, não sentem constrangimentos em tomar banho nos lagos públicos (em pleno centro das cidades) apenas de roupas íntimas. Também trocam de roupas na frente dos outros sem pudor. É comum, inclusive, encontrar mulheres fazendo topless. “É engraçado porque eles ficam espantados quando falamos que no Brasil isso não é tão comum, já que logo associam às fantasias de Carnaval e ao tamanho dos biquínis brasileiros.”

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Nem tudo é tão perfeito

Uma das maneiras mais ricas de aprender com uma experiência no exterior é a desconstrução de esteriótipos. E na Suíça, Aline logo entendeu: nem tudo é sempre tão perfeito. “Tudo é muito burocrático e alguns serviços, por exemplo, ainda funcionam à base de cartas pelo correio. Tem que ser muito paciente.”

Cinco curiosidades sobre o país

1 – “O Suíço pode votar para aprovar ou não algumas leis. Quando teve um projeto de lei que visava aumentar em uma semana o tempo de férias, a maioria da população votou contra por não estar assegurado de onde sairia o dinheiro para bancar essa semana suplementar.”

2 – “Aqui os pais de todos os filhos com até 16 ou 25 anos, quando em formação profissional, recebem mensalmente uma espécie de ‘Bolsa Família’.”

3 – “O suíço se aposenta com 65 anos e o valor recebido como benefício, muitas vezes, não é suficiente para pagar um aluguel imobiliário.”

4 – “Produção de relógios como o Rolex, queijos e chocolates, além de bancos e multinacionais, são os fortes da economia suíça.”

5 – “O seguro de saúde, uma espécie de convênio, é obrigatório e bem caro. Mas isso não quer dizer que quando precisas de um médico ou um exame complementar você vai ter rapidinho. Consultas com especialistas podem levar três meses ou mais de espera.”

Veja mais imagens:

Foto: Arquivo Pessoal
Registro do Vale Verzasca
Foto: Arquivo Pessoal
Rochers-de-Naye, acima da região de Montreux, proximo à Lausanne, encanta pela paisagem
Foto: Arquivo Pessoal
Vista do Castelo de Gruyères

 

Naiara Silveira

Jornalista formada pela Universidade de Santa Cruz do Sul em 2019, atuo no Portal Gaz desde 2016, tendo passado pelos cargos de estagiária, repórter e, mais recentemente, editora multimídia. Pós-graduada em Produção de Conteúdo e Análise de Mídias Digitais, tenho afinidade com criação de conteúdo para redes sociais, planejamento digital e copywriting. Além disso, tive a oportunidade de desenvolver habilidades nas mais diversas áreas ao longo da carreira, como produção de textos variados, locução, apresentação em vídeo (ao vivo e gravado), edição de imagens e vídeos, produção (bastidores), entre outras.

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Naiara Silveira

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