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Santa-cruzense lidera departamento em respeitada instituição dos Estados Unidos

Foto: Jennevive Martin/ORNL

Entre os destacados cientistas do Laboratório Nacional de Oak Ridge, nos Estados Unidos, um saiu dos bancos do Colégio Marista São Luís, em Santa Cruz do Sul. André Parizzi é chefe de equipe em um dos mais importantes departamentos do Laboratório, o Spallation Neutron Source (SNS), a maior fonte de nêutrons baseada em um acelerador do planeta. Antes de Oak Ridge, onde ingressou em 2003, André trabalhou por três anos em outra instituição científica, o Laboratório Nacional Argonne, na região de Chicago.

Há mais de um século, a busca dos Estados Unidos por especialistas e por cérebros privilegiados é incessante, independentemente de onde estejam. Em Oak Ridge, profissionais de mais de 60 nacionalidades trabalham em conjunto nos megaprojetos científicos. O orçamento do Laboratório Nacional de Oak Ridge é de 2,5 bilhões de dólares anuais (em torno de R$ 14 bilhões), destinado principalmente à pesquisa científica de base e ao desenvolvimento, à construção e à operação de instalações de grande porte, com acesso aberto à comunidade científica.

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Trata-se do maior dos dez laboratórios nacionais de ciências do Departamento de Energia americano. O pesado investimento estatal ajuda a explicar o avanço tecnológico e econômico dos Estados Unidos. É uma lição que ainda não foi aprendida por muitos países. Em entrevista concedida com exclusividade à Gazeta do Sul, André detalha a sua caminhada de formação e de atuação profissional, iniciada em Santa Cruz do Sul. Também deixa reflexões e conselhos para todos os que, de diferentes gerações, tenham o propósito de seguir uma carreira de cientista.

Entrevista – André Parizzi, chefe de equipe em departamento do Laboratório Nacional de Oak Ridge

  • André, poderias resumir tua trajetória profissional, dos bancos do Colégio São Luís até um dos mais respeitados centros de pesquisa do mundo?
    Completei os estudos no Colégio São Luís, onde tive excelente formação inicial. Durante a graduação em Engenharia Elétrica na UFRGS, trabalhei em pesquisa nos departamentos de Engenharia de Materiais e Nuclear. Já formado, inscrevi-me em um programa de intercâmbio na Universidade de Ciências Aplicadas de Dresden, ainda sem entender qual seria o trabalho com o qual me envolveria.
    Na Alemanha, o foco seria o desenvolvimento, em dez semanas, de sistemas para a caracterização de materiais com magneto-resistência gigante, integrados a instrumentos de espalhamento de nêutrons. Eu não fazia ideia do que se tratava, mas era tarde demais para desistir. Trabalhei intensamente, aprendendo o que fosse preciso para completar a tarefa. Mais tarde, descobri que meu mentor, Frank Klose, não esperava que um iniciante completasse o trabalho naquele prazo. Sem saber disso, em dez semanas o sistema ficou pronto, e meu esforço e dedicação deixaram em Klose uma impressão positiva que selaria meu futuro profissional.
    De volta ao Brasil, segui carreira na indústria, mas a experiência alemã despertou meu interesse pela pós-graduação. No final de 1999, recebi uma ligação de Klose, com um convite para trabalhar no desenvolvimento de equipamentos para uma fonte de nêutrons em construção nos EUA. Uma oportunidade única, mas de curto prazo e financeiramente inferior ao meu trabalho na época. Dividido entre a estabilidade do emprego, a pós-graduação e um grande projeto científico no exterior, a persistência de Klose gerou uma colaboração entre a UFRGS e o projeto da “Spallation Neutron Source” (SNS), uma instalação com acelerador de partículas que gera feixes de nêutrons através de “esfoliação” nuclear, com acesso à comunidade científica, que estava sendo construída no Laboratório Nacional de Oak Ridge (ORNL). Pude, enfim, escolher duas de minhas alternativas. Entreguei o aviso prévio e, em abril de 2000, embarquei para os EUA.
    Trabalhei no projeto SNS por três anos, conciliando temporadas no Brasil até concluir o mestrado, em 2002. Nesse período, casei-me com Gabriela, que demonstrou inabaláveis paciência e apoio diante de minhas escolhas. Em 2003, o nascimento de nossa primeira filha fez com que eu buscasse maior estabilidade para a família.
    No SNS, tornei-me especialista em dispositivos para manipulação de nêutrons polarizados, análise de configurações magnéticas e automação de instrumentos. Em 2003, aceitei uma proposta de emprego do laboratório. Em quase 25 anos nos EUA, construí minha carreira em projetos, desenvolvimento e operações de instrumentos de espalhamento de nêutrons, até chegar à posição atual, de líder de um dos três grupos de apoio à ciência do SNS.
  • Em um país como o Brasil, onde há pouco incentivo para a pesquisa científica, que conselho darias aos que desejam seguir uma carreira em pesquisa e tecnologia?
    Minha trajetória não seguiu o caminho natural de profissionais de pesquisa, que, em geral, passa pela obtenção de um Ph.D. em áreas científicas e colocação no ambiente acadêmico. No Brasil, existe, de fato, uma desvantagem de recursos em comparação com países desenvolvidos, mas ainda assim é possível contribuir para a pesquisa de forma relevante.
    Com relação a grandes instalações, uma das poucas fontes de luz síncrotron para estudos de materiais do mundo fica no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, em Campinas. O uso de raios-X em síncrotrons e o uso de feixes de nêutrons são complementares no estudo de materiais em escala atômica. Vale lembrar que em instalações como a do SNS, pesquisadores de todo o mundo competem pelo uso dos equipamentos, sem custo, contanto que compartilhem dados e descobertas publicamente.
    A convergência de oportunidades que tive é rara. Antes de partir para Dresden, recordo-me de meu pai repetindo o ditado “cavalo encilhado não passa duas vezes”. Oportunidades únicas não podem ser desperdiçadas, especialmente em início de carreira. Qualquer que seja o caminho profissional escolhido, honrar a confiança adquirida, manter uma atitude positiva no trabalho e jamais trair a integridade científica, profissional e interpessoal são valores inegociáveis. Não sabemos qual momento mudará nossa vida até este já ter passado. Um esforço de dez semanas, há quase 30 anos, delineou um interessante futuro que eu jamais poderia ter planejado.

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