Num trânsito entre a Filosofia, a Psicanálise e a Pedagogia, a filósofa, poeta e professora Marli Silveira está lançando novo livro, mais uma obra para a sua bibliografia pessoal, que, somando os diversos gêneros de texto, já supera a duas dezenas de títulos.
Nascida em Santa Cruz do Sul, mas identificada com a vizinha Vera Cruz desde quando, ainda jovem, passou a morar lá, Marli decidiu, nesta reta final de ano, acatar a sugestão da sua banca de doutorado em Educação, defendido em junho na Universidade de Passo Fundo (UPF), e publicar o seu ensaio.
Ele chega sob o título de Daseinspedagogia: da pendularidade da condição humana à singularidade desabitada como percurso para a (auto)formação na analítica existencial de Ser e Tempo, sob o selo da editora carioca Ape’ku, especializada em publicações de cunho mais acadêmico, como dissertações e teses. O volume tem 220 páginas, no formato 16×23 centímetros, e pode ser adquirido em formato de e-book, nas livrarias virtuais, por R$ 17,00, ou exemplar físico, por R$ 56,00. O produto digital já está disponível em livrarias virtuais, e o impresso pode ser encomendado em livrarias ou diretamente no site da editora. Em breve, deverá estar disponível na Griffe Unisc.
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Como revela o próprio subtítulo do livro, o intertexto principal da reflexão de Marli é o filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976), cuja obra máxima, Ser e Tempo, é diretamente referida. De Heidegger, empresta o conceito central de Dasein, que pode ser traduzido como “Seraí”, ou “Ser-aí-mundo”, sinônimo para ser existente.
Como Marli explica, ela promove um “deslocamento filosófico da analítica existencial de Ser e Tempo, adotado no campo da Filosofia, para a educação”, oferecendo, com isso, uma nova abordagem para a práxis educativa: a Daseinspedagogia.
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O livro integra, na editora Ape’ku, a Coleção X, coordenada pelo professor Rafael Haddock-Lobo, que reúne obras voltadas a refletir sobre a potência filosófica dos cruzamentos, seja através do encontro entre filósofos, entre a filosofia e outras áreas do saber ou das encruzilhadas internas de cada teoria filosófica.
A autora frisa que, embora o livro decorra de uma tese de doutorado, ela buscou depurar o texto do estilo essencialmente acadêmico, de maneira a proporcionar que o tema e as suas reflexões possam ser mais acessíveis ao público em geral.
Ainda assim, uma familiaridade com os conceitos das áreas teóricas em questão é um requisito, tendo em vista que o público-alvo estará no terreno da Filosofia, da Psicanálise (que já propõe uma Daseinspsicanálise) e dos Fundamentos da Educação. Além de Heidegger, o psicanalista inglês Donald Woods Winnicott (1896-1971) também constitui intertexto da tese, bem como o psiquiatra e psicoterapeuta suíço Medard Boss, que inclusive foi amigo e discípulo de Heidegger. Há, ainda, estudiosos brasileiros das áreas em referência, que ela cita e com os quais dialoga.
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Em sua abordagem, Marli retoma as reflexões decorrentes de seu trabalho anterior com mulheres detentas, que já resultara no livro Liberdade rasurada, lançado em 2019 pela Besouro Box. No ano anterior, pela mesma editora, publicara seu mais recente livro de poesia, O dia da rua – nesse gênero, ela está com novo livro pronto, para lançamento no início de 2021.
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Quando propomos uma pedagogia fundamental, não temos como intenção apresentar receitas, mas deslocar posturas sedimentadas para o alcance mais originário, apresentando uma reconsideração basilar sobre nosso modo e as implicações daí advindas. Uma das repercussões é o fato de que formar ou autoformar não implica habitar um âmbito seguro, mas uma possibilidade que precisa ser reiteradamente assumida; que a liberdade é um exercício reiterado de si; que emancipado é o indivíduo que se compreende embrionariamente lançado no mundo na companhia de outros, e que nossa mesmidade, a mesmidade possível, é um exercício de esticamento existencial. A Daseinspedagogia explícita-se da pendularidade da condição humana, do fato de o ser humano transitar sobre seu próprio modo acontecendo, podendo verter para si mesmo o que vive/experiência a cada instante, condição que abre ao indivíduo humano a possibilidade de se formar, de se autoformar. Claro que não estamos negando a possibilidade do caráter instrutivo e informativo do processo educativo, nem mesmo que para se formar precisamos da Dasesinspedagogia. O que estamos propondo é um novo olhar sobre a nossa própria condição e o quanto este olhar modificado poderá implicar para uma nova relação educativa, muito distante dos pressupostos da cisão corpo-mente, dentro-fora, racional-irracional etc. Repactuar com um “solo” mais originário, no qual o modo humano se mostra sem determinações, aberto no horizonte do tempo.
Marli SilveiraPublicidade
DASEINSPEDAGOGIA: da pendularidade da condição humana à singularidade desabitada como percurso para a (auto)formação na analítica existencial de Ser e Tempo, de Marli Silveira, Rio de Janeiro: Ape’ku, 2020. 220 p. R$ 56,00, impresso; R$ 17,00, digital.
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