No último domingo, 23, o santa-cruzense Marcos Santos da Silva, 46 anos, representante comercial de uma empresa de Joinville (SC), foi, ao lado da companheira Elaine e do filho Miguel, 5 anos, passear no interior de Sinimbu. A família foi conhecer o Cerro do Baú e ali, nas imediações, Marcos foi “investigar” uma pedreira.
Deparou-se com lajes de rochas incomuns. Elas tinham incrustados desenhos que se assemelhavam a fósseis de ramos ou galhos de árvores. Levou alguns pedaços de laje consigo, e na terça-feira, 25, enviou fotos deles ao Portal Gaz. Na mensagem, mencionou sua descoberta e lançou o desafio: descobrir de que, afinal, se tratava. Seria mesmo um fóssil de ramo de árvore eternizado na rocha?
A Gazeta do Sul compartilhou as imagens das pedras feitas por Marcos com o geólogo José Alberto Wenzel, que trabalha junto à Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), e que, também ex-prefeito de Santa Cruz do Sul, tem longa vivência no contexto ambiental. Tão logo recebeu as fotos, Wenzel informou que acreditava tratarem-se de dendrites formadas por água infiltrada nos primórdios na camada de rocha basáltica que cobriu a superfície na região de Santa Cruz. E frisou que inclusive possuía em casa um detrito de rocha similar, dispondo-se a trazê-lo até a Gazeta, o que de fato fez na tarde de terça.
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A designação “dendrites”, segundo ele, é dada às estruturas de forma arborescente que aparecem na superfície das rochas e resultam da deposição de substâncias minerais. “Nas rochas basálticas, são comuns as dendrites de pirolusita (dióxido de manganês) em que as substâncias que as originam são transportadas pela água infiltrada nas fissuras das rochas”, frisou. “A percolação de óxido de alteração dos piroxênios, um dos minerais que constituem a rocha basáltica, ocorre depois do resfriamento da lava. Lavas que, geradas a temperatura de mil graus, não permitem a preservação fossilífera.”
Em outros termos, como denominou, seria um “pseudofóssil”, não exatamente um fóssil, por se tratar de vestígio de água ou umidade de tempos imemoriais, que se infiltrou em fissuras no basalto. No caso, quando as camadas basálticas, hoje, se rompem, afloradas à superfície, ficam as “dendrites” provocadas pela água infiltrada no período de esfriamento do basalto.
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Wenzel acrescentou que a cobertura basáltica está presente em todo o entorno de Santa Cruz, decorrente da formação da Serra Geral, capeamento que se espalhou sobre o arenito e a argila vermelha. Estes, por sua vez, incidem em Candelária, Agudo e em direção a Santa Maria, sendo, por isso, áreas de depósitos de fósseis de animais e vegetais, como se verifica nessas localidades. “Foi o basalto, quando se espalhou sobre a superfície, que incinerou os fósseis na região de Santa Cruz”, explicou.
“Por essa razão, não vai se encontrar fósseis no basalto. Porque este, quando estava muito quente, queimou tudo.” Quando se localiza concentração de pedra basáltica, muitas vezes ela fratura ou se desintegra de forma longitudinal, horizontal, e as lajes revelam as infiltrações de líquidos, água da chuva, carregada de minérios que então se solidificaram. Mas Wenzel fez questão de elogiar Marcos por sua curiosidade e por sua preocupação de logo elucidar de que se tratava.
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“Arqueólogo amador”
Marcos Santos da Silva, na terça-feira, quando esteve em contato com a Gazeta, encontrava-se em viagem e salientou sua condição de “arqueólogo amador”, também interessado em ufologia, como referiu. “Achei que fosse uma planta tatuada na pedra”, disse, inspirando-se no formato da infiltração causada pela água na lâmina de basalto. Lembrou que sua descoberta decorre do interesse em, nesses dias de limitações em virtude da pandemia, visitar áreas próximas a Santa Cruz.
Ele e a família voltaram a residir em sua terra natal há um ano, para ficar na companhia dos pais Manoel Santos da Silva, natural de Santo Augusto, e Vera Luci Lopes da Silva, que já moravam em Santa Cruz, bem como dos irmãos Fabiano, Luciana e Fátima, igualmente na cidade. Por cerca de 18 anos, esteve radicado em Ijuí, e a partir de lá se deslocava como supervisor comercial de empresa de Joinville. “Agora, voltei para casa”, afirmou.
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Além das “pesquisas” autodidatas sobre rochas e outros itens da natureza, Marcos disse que adora colher chás, como os de alecrim-do-campo e de carqueja, o que inclusive fez domingo no interior de Sinimbu. Residindo no Monte Verde, referiu que também tem uma coleção de facas e de adagas, além de minerais.
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