Desde o início da pandemia, a quantidade de golpes aplicados por meio de contatos telefônicos e aplicativos de mensagens vêm atingindo níveis alarmantes. Atentos, os órgãos de segurança alertam para a abordagem dos estelionatários, cada vez mais audaciosos e perspicazes. Entre as fraudes mais comuns estão as previdenciárias, contra aposentados e pensionistas. Os enredos são diversos, no entanto, chama a atenção o discurso convincente dos criminosos por meio do telefone.

Toda essa lábia foi empregada contra uma santa-cruzense na última semana. Mesmo desconfiada, Cristina* acabou cedendo à insistência de uma mulher, identificada como Bruna, que se dizia da “Central do Aposentado e Pensionista”. A desconhecida ligou para ela no último dia 14 de setembro e afirmou ser de uma empresa terceirizada, “parceira do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS)”. Disse que estaria validando cadastros que continham inconsistências ou erros de digitação, e que deveriam ser revalidados para a emissão de um novo cartão do INSS.

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“Muito desconfiada, eu disse que estava desconfortável com a situação, mas a atendente, de forma enfática, repetiu o discurso. Eu estava decidida a não oferecer nenhuma informação, mas ela foi lendo todos os meus dados, como nome, data de nascimento, CPF, endereço e conta bancária”, contou a mulher de 56 anos.

Para dar veracidade a essa história, a falsa atendente simulou um erro no número da casa de Cristina e informou que estava providenciando a pronta correção. Disse que, dentro de 15 a 20 dias, ela receberia o novo cartão do INSS, que seria emitido pelo banco Pan – outra declaração que causou estranheza junto à santa-cruzense.

“Eu, imediatamente, questionei: ‘Como assim?’ E ela respondeu: ‘O banco Pan é apenas nosso parceiro para emissão do cartão’. E eu ingenuamente acreditei, apesar de todo o discurso suspeito.” Na sequência, a suposta atendente enviou via WhatsApp todos os dados cadastrais de Cristina para conferência e a transferiu para outra atendente que, supostamente, iria revalidar os dados do cadastro. “Eu, infelizmente, dei um OK e a abordagem foi finalizada.” Na verdade, com esse procedimento, Cristina aderiu – contra a vontade – a um empréstimo consignado.

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Nas estatísticas

Após o estranho telefonema, a santa-cruzense foi pesquisar na internet sobre casos do tipo. “Foi quando descobri que, para meu desespero, havia entrado para as estatísticas das vítimas de golpes”, disse Cristina. Imediatamente, ela fez contato com a gerente de seu banco, a qual informou que outro correntista aposentado havia sido vítima do mesmo golpe na semana anterior.

“De pronto, registrei no WhatsApp do contato deles que cancelassem todo o processo e que já estava ciente de que havia sido enganada. Também tentei fazer o mesmo pela central de atendimento do banco Pan, sem sucesso, porque era informada de que meu cadastro não existia”, afirmou. Para completar a indignação da mulher de 56 anos, no dia seguinte à conversa com os estelionatários, ela identificou um valor de R$ 4,7 mil creditado em sua conta.

“De imediato, fiz nova tentativa de contato para fazer a devolução do valor, sem sucesso. Pela central do banco, fui informada de que teria de aguardar o indesejado cartão para, na sequência, fazer a devolução do valor.” Na última segunda-feira, 21, Cristina recebeu o item – que não era o novo cartão do INSS, como havia sido prometido pela atendente. Em contato com a central do banco Pan, finalmente foi possível devolver o valor.

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INSS faz alerta

Cristina se disse envergonhada por ter caído em um golpe desse tipo. Ela registrou um boletim de ocorrência por meio da Delegacia Online. “Sinto-me na obrigação de compartilhar o ocorrido para chamar a atenção de todos, como forma a evitar novas vítimas de golpes dessa natureza”, comentou. Segundo o delegado Alessander Zucuni Garcia, da 2a Delegacia de Polícia de Santa Cruz do Sul, existem mais ocorrências registradas por pessoas que foram surpreendidas com dinheiro creditado nas suas contas, oriundo de um empréstimo que não havia sido solicitado.

Contudo, ainda não foi registrado um caso como esse, no qual houve contato telefônico sob pretexto de atualização de dados para produção de um novo cartão do INSS, em que as informações são usadas para a contratação de um empréstimo consignado. Ciente da situação, o INSS já se manifestou sobre o assunto. No fim de julho, o instituto informou que golpistas estão telefonando para segurados, aposentados e pensionistas para pedir dados pessoais ou o número do benefício.

Com essas informações, quadrilhas especializadas em fraudes financeiras estariam realizando compras ou fazendo empréstimos em nome do segurado, entre outras ações capazes de causar prejuízos. “É preciso ficar atento para não cair em golpes que usam o nome do INSS. Caso receba uma ligação solicitando dados pessoais e informação do benefício, o segurado deve encerrar imediatamente a ligação e entrar em contato com a Central do INSS pelo telefone 135”, avisa o instituto, em nota publicada em seu site.

*Nome fictício. A vítima pediu para ter a identidade mantida em sigilo.

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