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Santa-cruzense conta experiência em Brasília nos atos de 8 de janeiro

Na segunda-feira, 9 de janeiro, os acampamentos na frente dos quartéis em Brasília foram desmontados pelas forças de segurança

O dia 8 de janeiro de 2023 entrou para a história brasileira. Os prédios dos três poderes foram ocupados, em Brasília, e parcialmente destruídos. A ação resultou na prisão de mais de mil pessoas de diferentes partes do País – algumas delas do Vale do Rio Pardo. O relato de uma das que integraram a viagem aponta que o grupo local chegou à Capital Federal depois dos atos de vandalismo.

Em entrevista exclusiva à Gazeta do Sul, e pedindo para ter o nome preservado, como medida de segurança, ela relembra que passou a acompanhar as manifestações em frente à unidade do 7º Batalhão de Infantaria Blindado (7º BIB), diariamente. “O que me levou e às outras pessoas que estavam lá foi defender a pátria, a família e a nossa liberdade”, frisa.

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Durante a conversa, algumas vezes repetiu o lema “Deus, pátria e família”, como um mantra a ser seguido para balizar a busca pelo que chama de “democracia verdadeira”. “Foi isso que a gente foi fazer no QG e a gente tinha certeza de que iria conseguir. Fomos enganados”, comenta. Durante o período em que estavam na frente do 7º BIB, a informação que recebiam é que conseguiriam alcançar seu intento. “Alguém dizia: ‘não vai dar certo, já deu’. Nos deram a certeza”, recorda.

Nesse clima de que o objetivo de defesa da pátria seria atingido, foi convidada por duas amigas, um dia antes da viagem. “Disseram: ‘temos um convite muito especial para te fazer’. Fizeram de tal forma que não tinha como cair fora”, conta. E foi o que aconteceu. Por volta das 11 horas do sábado, um grupo formado por 26 pessoas de Vera Cruz, Venâncio Aires e Santa Cruz do Sul partiu.

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De acordo com a entrevistada, os representantes do Vale do Rio Pardo chegaram por volta das 17h30 em Brasília. “Fomos direto para a frente do QG, onde já estavam outros; os meninos abriram uma barraca, tomamos chimarrão e fomos dormir”, afirma. Garante que não estiveram nas sedes dos poderes enquanto ocorreu a destruição dos prédios públicos.

Ela refere que, dos integrantes do grupo, dois foram até o local para verificar o que havia acontecido, mas quando voltaram ela já estaria dormindo. Assim, não teve consciência da situação no fatídico 8 de janeiro. Dessa forma, tanto ela quanto outras pessoas que haviam deitado mais cedo, como forma de descansar da viagem, foram surpreendidas, na manhã de segunda-feira, com a urgência de desocupar o espaço na frente da base do Exército para irem aos ônibus. “Achamos que seríamos levados para o nosso ônibus para retornar, mas, na verdade, fomos para a Polícia Federal, naquele ginásio que todo mundo teve a oportunidade de ver”, ressalta.

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A liberação e o suporte dado aos manifestantes

Assim que houve o desmonte do acampamento na frente do quartel, os manifestantes foram levados para o ginásio da Academia Nacional da Polícia Federal. Quando o grupo do Vale do Rio Pardo chegou ao local, conta a entrevistada, a estrutura já estava tomada. Os 26 e outros de estados como Santa Catarina, Paraná, Espírito Santo e Ceará ficaram na sombra de árvores.

A equipe da PF separou em grupos de dez pessoas aqueles que tinham mais de 70 anos, que é o caso da entrevistada. Passaram, nesse momento, por uma segunda revista, sem que encontrassem algum tipo de armamento. “Sentamos em um corredor, com as mochilas, e esperamos para darmos os depoimentos. Chamaram uma das minhas amigas; ela demorou. Depois a outra, que falou menos; então vieram me chamar. Eu pedi um tempo, porque estava cuidando das mochilas. Eles atenderam. Também tinha gente boa, mesmo na PF. Eles viram que eu tinha um pouco de perda auditiva, daí uma delas pediu que falassem mais alto”, descreve.

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Após ser ouvida pelos agentes, teve o celular devolvido, voltou para o corredor e não encontrou as amigas. Mandou mensagem pelo celular, mas não teve retorno. Foi quando ficou angustiada, porque estava só em um local que não conhecia. Eis que uma delas apareceu e disse que todos deveriam ir para a rodoviária. “Eu falei que tínhamos que aguardar nossos amigos, mas, quando encheu o ônibus, fomos para a rodoviária. Chegamos lá e encontramos a outra amiga, que foi logo, porque tinha o receio de ser presa”, relembra.

Foi na estação rodoviária que encontrou o “Padre Geraldo”. O religioso estava no local atendendo pessoas de diferentes locais do Brasil. Encaminhou todos para hospedar na estrutura da igreja de um dos bairros com vulnerabilidade social da Capital Federal. Dos 11 liberados no primeiro momento, dois retornaram de avião e o restante permaneceu na igreja, à espera de que outros fossem liberados.

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“Ficamos lá na terça, quarta, quinta e sexta. Tínhamos frutas, pães, almoço e janta, sem importar a qual religião pertencíamos. Até que, durante a semana, alguém da Igreja comprou as passagens para nós. Alguns estavam com dinheiro e quiseram pagar, mas eles não deixaram. Pagaram nossa viagem de Brasília para Porto Alegre”, explica.

A presença de infiltrados

Muito falou-se sobre a possibilidade de infiltrados entre os manifestantes que demonstravam insatisfação com o fato de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter sido eleito e empossado. A informação ganhou reforço quando foram divulgados vídeos mostrando a presença de integrantes do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), enquanto pessoas destruíam os prédios públicos.

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A entrevistada relata que o grupo da região não foi para fazer arruaça, que chegou após os ataques e não esteve na Praça dos Três Poderes. “Do nosso grupo, ponho a mão no fogo, porque ninguém destruiu nada. Quando chegamos lá, estava tudo destruído. Queremos que seja feita justiça, porque vimos os vídeos de pessoas que deveriam dar o exemplo e estavam lá dentro. Agora, querem dar uma de mocinhos”, aponta.

Ela conta que, enquanto dormiam no QG, em frente ao quartel, perceberam que um grupo foi embora na madrugada. Diz que a suspeita sobre eles se dá pela conversa deles. “Tinha infiltrados. No nosso ônibus mesmo, havia a suspeita de que tinha uma infiltrada. Não sei se era ou não. Não sei se a gente vai descobrir se era ou não.” Essa situação teria sido verificada até mesmo no acampamento em frente ao 7º BIB, pois apareciam pessoas desconhecidas. “Agora, o que a gente quer é que a verdade apareça. Da verdade não temos medo”, reforça.

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A manifestante ressalta não se arrepender por ter ido a Brasília. Entende que foi fazer a sua obrigação. “Não podemos compactuar com um Brasil comunista. Aquilo foi planejado pela esquerda para colocar a culpa em nós, para ter um argumento para jogar pedra no nosso lado”, denuncia. Acredita que o grupo precisa continuar perseverando. “Cada um tem a responsabilidade, porque temos família. A gente não quer uma Cuba, uma Venezuela ou uma Coreia do Norte. Alguns querem, porque ficam por cima, ficam bem, nos melhores hotéis, nada falta, e o povo fica na miséria.”

CPMI

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investigará os atos de 8 de janeiro será instalada nesta quinta-feira, 25, às 9 horas. Deputados e senadores vão apurar os ataques em que o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF) foram invadidos e depredados em Brasília. A duração será de seis meses. A comissão será composta por 32 titulares, divididos entre deputados e senadores. A maioria dos partidos já indicou os membros. No entanto, caso a composição ainda não esteja completa, caberá ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), anunciar os nomes.

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