Em um contexto onde os líderes políticos e empresariais do Vale do Rio Pardo contam com a duplicação da RSC-287 para garantir o desenvolvimento econômico da região, outros já pensam adiante e enxergam potencial nos céus. A exemplo de cidades como Uruguaiana, Santo Ângelo e Passo Fundo, que operam aeronaves de maior porte e, além do fluxo de passageiros, se destacam no transporte de cargas.
Em Santa Cruz do Sul, mesmo com as reformas, o Aeroporto Luiz Beck da Silva opera somente o Cessna Grand Caravan, um avião capaz de levar nove passageiros e com capacidade de carga reduzida. Ao longo dos anos, a pauta da ampliação do aeroporto ou mesmo da construção de uma nova infraestrutura esteve em debate.
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Em 2015, uma das propostas chegou a ser aceita no Programa de Desenvolvimento da Aviação Regional (Pdar), do governo federal, que previa investimentos superiores a R$ 7 bilhões em 270 aeroportos. Apesar de ter cumprido algumas etapas, os recursos foram contingenciados em 2016 e não houve mais avanço. Hoje, uma das opções da Prefeitura é investir em um sistema de balizamento noturno para aumentar a capacidade de operação do local.
Aeroporto não tem espaço para ampliação
Quando se fala em aumento das capacidades de uma estrutura, é natural que a primeira alternativa seja a ampliação. O Aeroporto Luiz Beck da Silva, contudo, sofre com uma limitação geográfica que não permite expansão significativa. A pista atual, com 1,2 mil metros de extensão, não pode ser aumentada. Uma das extremidades está limitada à Avenida Orlando Oscar Baumhardt, enquanto a outra fica perto da RSC-287. Já nas laterais, as áreas residenciais é que não permitem o alargamento do terreno.
De acordo com o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo, Cesar Cechinato, a estrutura atual é suficiente para a linha Santa Cruz do Sul–Porto Alegre, operada pela Azul, e para a aviação executiva, mas não é capaz de operar na plenitude aeronaves maiores, como o ATR 72-600, a mais usada pelas companhias aéreas para voos regionais. “Creio que conseguiria operar aqui, mas com restrições de carga devido ao tamanho da pista”, avalia.
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Cechinato diz não ter dúvidas de que operar uma linha aérea para São Paulo a partir de Santa Cruz é viável, considerando que poderia abranger os vales do Rio Pardo e Taquari. Hoje, o Aeroporto Regional Sepé Tiaraju (Santo Ângelo) e o Aeroporto Regional Lauro Kurtz (Passo Fundo) fazem esse tipo de operação, inclusive com jatos. “Se considerarmos o Produto Interno Bruto (PIB) per capita dessas duas regiões, posso dizer que poderíamos manter uma linha diária para São Paulo com tranquilidade, desde que ele saia cedo para possibilitar o bate e volta.”
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Em sua compreensão, empresários, representantes comerciais e outras pessoas que precisam se deslocar a São Paulo e voltar com agilidade escolheriam partir de Santa Cruz do Sul devido à comodidade. Isso porque o deslocamento até o Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, mais a chegada com antecedência antes do embarque e a fila para decolagens podem exigir um tempo próximo de quatro horas, o que compensaria em muito a duração maior do voo.
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Outra possibilidade levantada por Cechinato é a de uma conexão no aeroporto de Jaguaruna, no Sul de Santa Catarina. Por ficar próximo de Criciúma e também do litoral catarinense, ele acredita que haveria interesse dos usuários dos vales do Rio Pardo e Taquari até lá, e de onde poderiam pegar voos para diversas capitais do Sudeste, Norte e Nordeste.
Balizamento
O secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo adiantou que ainda neste ano a Prefeitura pretende instalar o balizamento noturno no Aeroporto Luiz Beck da Silva. Hoje, por não possuir os equipamentos, o local opera somente durante o dia e de forma visual. Cechinato ressalta que o custo do equipamento reduziu muito com o emprego das lâmpadas de LED. Ele também pode ser operado de maneira remota, sem que seja necessária a presença de um operador na torre durante os pousos e decolagens.
Arquiteto projetou uma nova estrutura
Em 2010, quando estava no último ano da faculdade de Arquitetura, o santa-cruzense Anderson Schief-ferdecker projetou a construção de um novo aeroporto em Santa Cruz do Sul para o trabalho de conclusão de curso. A infraestrutura proposta conta com terminal de cargas, terminal de passageiros e demais espaços necessários para a operação. Após analisar diversos locais possíveis, o mais apropriado foi uma área nas imediações do Autódromo Internacional, em função do relevo e condições do terreno.
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O arquiteto entende que ter um aeroporto de maior porte e capaz de operar não somente voos de passageiros, mas sobretudo as linhas de carga, é fundamental para o desenvolvimento econômico do Vale do Rio Pardo e tão importante quanto a duplicação de rodovias e o melhor uso da malha ferroviária. “Uma cidade que pode ser um polo de logística bem pensado e estruturado só tende a crescer, e quem ganha com isso é a população.”
Caxias do Sul, na Serra Gaúcha, vem há vários anos tentando instalar um novo aeroporto no distrito de Vila Oliva e vive uma situação semelhante a Santa Cruz, visto que o existente é insuficiente para atender às demandas. Por lá, contudo, já existe área definida e projeto, com a dificuldade sendo a captação dos recursos, na ordem dos R$ 200 milhões. “Aqui, o nosso Plano Diretor não prevê uma área para isso no futuro. Acredito que vale a pena colocar isso em discussão para que a comunidade possa acompanhar e perceber a importância de evoluir.”
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Schieferdecker lembra que uma estrutura desse porte não surge de uma hora para a outra, é preciso que o município tenha interesse e demonstre no âmbito do planejamento estratégico. Paralelo a isso, também é necessário ter força política para que a vontade chegue à esfera federal e consiga tramitar. “Mais de dez anos atrás, já falávamos sobre esse tema e hoje estamos praticamente na mesma. Isso mostra como é relevante debater para caminhar, mesmo que em pequenos passos, em direção ao progresso”, observa.
Ainda sobre a importância de definir uma área para esse fim o quanto antes, o profissional lembra que é preciso pensar com antecedência o planejamento urbano e evitar que ocorra novamente o que aconteceu com o Luiz Beck da Silva, onde várias residências foram construídas imediatamente ao lado do terreno. Essa situação poderia inviabilizar a operação de aviões maiores em função do ruído, mesmo que a pista e os terminais pudessem ser ampliados.
Ministro recebeu líderes de Santa Cruz
Em março do ano passado, o então ministro de Portos e Aeroportos, Marcio França, recebeu em Brasília a prefeita Helena Hermany e o secretário Cesar Cechinato. Intermediado pelo deputado federal Heitor Schuch (PSB), o encontro teve como objetivo apresentar a proposta de ampliação e melhorias do Aeroporto Luiz Beck da Silva e incluir Santa Cruz no pacote de investimentos previstos pelo governo federal para o setor aeroportuário. Atualmente, contudo, França já foi transferido para o ministério do Empreendedorismo e a pasta dos Portos e Aeroportos passou a Sílvio Costa Filho.
Segundo Schuch, o então ministro se surpreendeu ao descobrir que Santa Cruz é a quinta maior economia do Rio Grande do Sul, e isso foi um ponto positivo. Mas a proximidade com Porto Alegre joga contra a iniciativa. “Hoje temos uma estrada que já está metade duplicada, então ninguém leva muito tempo para chegar até a Capital.” Salientou ainda a dificuldade demonstrada pelo ministro e seus subordinados em entender que a demanda é por um voo direto a São Paulo, e não para Porto Alegre.
O deputado é mais um a reforçar a importância de definir uma área e elaborar um projeto que contemple, sobretudo, o transporte de cargas. Lembra a existência de diversas indústrias e distribuidoras em Santa Cruz e nos municípios vizinhos como um grande motivo para priorizar esse ramo. “Precisamos operar aeronaves maiores, que possam transportar volumes maiores de mercadorias. Só com voos de passageiros, eu confesso que não acredito que conseguiremos fazer no curto prazo.”
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Azul Conecta opera no município desde 2021
Desde 4 de agosto de 2021, a Azul Conecta, empresa sub-regional da Azul, opera linhas comerciais no Aeroporto Luiz Beck da Silva. O único destino disponível é Porto Alegre, com voos três vezes por semana. Para dar conta da nova operação, o lugar recebeu melhorias na pista, sinalização e um terminal de passageiros. A aeronave utilizada é o Cessna Grand Caravan, com capacidade para nove passageiros. Os valores atuais variam de R$ 216,90 a mais de R$ 500,00, conforme a antecedência da compra, para uma viagem com duração aproximada de 45 minutos.
Nos primeiros cinco meses, entre agosto e dezembro de 2021, a linha aérea teve um resultado significativo, com ocupação média de 59,3% dos assentos disponíveis nos voos. Em 2022, contudo, esse número caiu para 22,7%, e em 2023, para 13,5%. No total, entre agosto de 2021 e fevereiro de 2024, 602 passageiros foram de Santa Cruz para Porto Alegre pela Azul Conecta, com uma taxa de ocupação média de 26%. No mesmo, período, a média de ocupação da empresa em todo o País foi de 46,8%. Os dados são públicos e podem ser consultados na página da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) na internet.
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