Até o fim deste domingo, a sede do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) é Santa Cruz do Sul e o coração do tradicionalismo é o Parque da Oktoberfest. Aberto oficialmente na noite dessa sexta-feira, o Encontro de Artes e Tradição Gaúcha (Enart) levou ao palco principal do Ginásio Poliesportivo a garra de um povo que não se dobra e o amor pela tradição dos primeiros habitantes do Rio Grande do Sul. O fim de semana será de lágrimas, risos e vibração vindos dos quatro cantos do Estado.
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Para o coordenador da 5ª Região Tradicionalista (RT), Luiz Clóvis Vieira, satisfação resume o sentimento da região, que a cada Enart se torna anfitriã de gaúchos de todas as querências. “Estamos felizes com o público presente, que foi acolhido por nossa cidade. Santa Cruz recebe muito bem todos os participantes do evento, e isso para nós acaba sendo o mais importante”, ressaltou.
Vieira explica que a edição deste ano vai trazer uma inovação: um baile na noite de sábado, para oferecer ao público uma atração extra. “Será um espaço para talentos que foram revelados durante o Enart. Também será um momento de diversão oferecida a todos os participantes”, convida. O baile será oficial: só entrará quem estiver pilchado, ou com trajes respeitosos, a partir das 20 horas, no pavilhão central. “É preciso que se tenha um traje adequado, minissaia não entra, assim como bermuda. Este será o primeiro de muitos bailes que virão”, projeta o coordenador.
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O secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Cultura e Turismo, César Cechinato, representou o prefeito Telmo Kirst (PP) na abertura do encontro. “Desejamos a todos um ótimo Enart, são todos bem-vindos a Santa Cruz, queremos que todos sintam-se aquerenciados em nossa cidade a partir de agora”, disse.
O tradicionalista mor, Paixão Côrtes, que emprestou sua imagem para a estátua do Laçador, em Porto Alegre, deixou o mundo gaúcho de luto com sua morte no dia 27 de agosto deste ano. Junto com Barbosa Lessa, ele resgatou o legado da tradição gaúcha.
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Para o presidente do MTG, Nairo Callegaro, o Enart deste ano tem como missão levar adiante o trabalho desenvolvido pelos estudiosos da cultura gaúcha. “É um momento muito diferente. Vamos fazer o primeiro Enart sem Paixão Côrtes, ele que foi o grande promotor e incentivador de todo o nosso movimento. É um Enart diferente, mas que aumenta nossa responsabilidade, por conta de tudo que ele nos deixou.”
E não demorou muito para que ele – Paixão Côrtes – fosse lembrado fisicamente. Em sua apresentação de abertura, o campeão do Enart 2017, o Centro de Pesquisas Folclóricas (CPF) Piá do Sul, de Santa Maria, trouxe a figura do Laçador, a prosa e o verso cantado para homenagear Paixão e também Barbosa Lessa, parceiro de Côrtes, falecido em 2002. A homenagem arrancou aplausos do Poliesportivo, que tornou-se a arena de espetáculos da Força A nas danças tradicionais, uma das principais provas do Enart. “Declaro aberto o Enart 2018, boa sorte a todos”, sentencia Callegaro. As apresentações ocorrem em nove palcos diferentes e se encerrarão com a dança da integração, após o anúncio dos campeões.
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Apaixonada pela cantora nativista Berenice Azambuja, a gaiteira Natália Guastuci, de Rio Grande, deu uma aula de cidadania e inclusão em meio à cerimônia de abertura do Enart. Conduzida pelo Departamento de Tradições Gaúchas (DTG) Tropeiros do Ouro, de Canoas, ela levantou o Poliesportivo ao som da canção É Disso que o Velho Gosta, de sua artista preferida.
O que tornou a apresentação de Natália especial não foi seu jeitinho de adolescente, tampouco a música, sucesso do cancioneiro gaúcho. É sua condição: Natália é cega, tocou gaita para a dança da invernada artística do DTG, que bailou vendada. Com tradução em Língua Brasileira de Sinais (Libras), os dançarinos interpretaram a música na língua dos surdos e se apresentaram às cegas. “Para mim, o mais difícil foi ter a dimensão do espaço. Nos primeiros ensaios, nós não tínhamos ideia de como estávamos fazendo”, revela Mariana Roth da Rosa Rodrigues.
Além disso, Mariana explica que todos os integrantes do grupo decidiram ficar vendados durante dias. Vivendo como a jovem Natália. A ideia era que todos soubessem como é o mundo de quem nunca viu o sol, mas tem no peito as cores verde, amarela e vermelha da bandeira farroupilha, símbolo da tradição gaúcha. Vendados, os dançarinos não puderam ver os aplausos de pé do público, mas certamente sentiram a energia que inundou o Ginásio Poliesportivo, em uma das aberturas mais emocionantes que o Enart já presenciou
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Heloísa Letícia Poll
heloisa@gazetadosul.com.br
De várias regiões do Estado, e até mesmo do Brasil, muitos viventes pegaram a mala de garupa e rumaram para Santa Cruz nesse fim de semana, quando ocorre mais uma edição do Encontro de Artes e Tradição Gaúcha (Enart). Na hora de descansar, entre uma apresentação e outra, opções não faltam no município. Nesse ano, inclusive, a oferta de acomodações foi tanta que chegou a sobrar espaço, afirma Cláudio Mariani, responsável pelos alojamentos.
No total, os visitantes e participantes contaram com uma oferta de 80 locais, entre escolas estaduais e municipais, residências particulares, salões paroquiais e os próprios centros de tradição gaúcha (CTGs), sem falar nos hotéis e pousadas. Além disso, na área do Parque da Oktoberfest, em torno de 2,5 mil pessoas acampam. Para Mariani, essa fartura só tende a aumentar. “Enquanto no ano passado e no retrasado faltou lugar, agora sobrou em pelo menos dez locais”.
Acostumada a receber apenas um grupo para o evento durante quatro anos, em 2018 a Comunidade Evangélica Bom Pastor ampliou a capacidade. No fim de semana, são em torno de cem pessoas, de duas turmas, ocupando os espaços oferecidos. “Nós alugamos somente para o período de Enart”, afirma a presidente Liane Maria Gressler.
Próximo dali, no Bairro Cohab, Célia Musa Bellina disponibiliza três quartos em sua residência. Acostumada a acomodar universitários, ainda espera poder receber hóspedes durante o fim de semana. “Antes eu alugava para grupos, mas agora procuro atender somente individuais ou casais.” De acordo com a organização do evento, em todos esses espaços, com média de 40 a 50 pessoas por local, devem ser alojadas de 5 mil a 6 mil pessoas, além das 4 mil que irão ocupar a rede hoteleira santa-cruzense.
Em localização privilegiada, ao lado do Parque da Oktoberfest, a Escola Estadual Ernesto Alves aloja 300 pessoas durante a edição desse ano, num total de 12 grupos, informa a diretora Andréia Dall Acqua Gomes. Para garantir o conforto, a instituição oferece 16 salas de aula e o ginásio, onde os participantes ensaiam e utilizam a cozinha e o vestiário. “A maioria já deixa reservado de um ano para o outro. Alguns esperam o resultado das regionais para efetuar a reserva.”
Apesar de receber ligações de visitantes que procuram hospedagem de última hora, Andréia diz que há preocupação quanto ao limite de ocupação. “Nós procuramos não colocar muita gente, contratamos segurança e contamos com equipe de limpeza. Tudo isso para não prejudicar, também, o funcionamento da escola.” Por lá, o valor do aluguel, cuja negociação é realizada por meio do Círculo de Pais e Mestres (CPM), é revertido em melhorias no prédio e para os estudantes.
Representantes da 5ª Região Tradicionalista (5ª RT) na força A das Danças Tradicionalistas, os Lanceiros de Santa Cruz também estão com a sede lotada. Por isso, a invernada se reúne em uma pousada em Boa Vista. “Como o grupo é menor, nós não precisamos ficar em um espaço tão grande. Assim, o oferecemos para os de fora e ainda ficamos todos juntos durante o fim de semana”, afirma o patrão Eroneu Linck.
Entre as barracas no Parque da Oktoberfest também tem sido difícil encontrar espaços. O movimento intenso, desde quinta-feira, já supera as expectativas, com 2,5 mil acampamentos, afirma Paulo Cardoso, da organização. “Não tem mais lugar. Mesmo assim nossa preocupação é atender bem a todos. Estamos até sugerindo integração entre os grupos.” Mais distantes, no Parque de Eventos, o grupo campeão de 2017, CPF Piá do Sul, de Santa Maria, também encontra seu recanto.
No Tobaccos Hotel, ao lado da Estação Rodoviária, a desistência de um grupo de 40 pessoas, na semana passada, não foi empecilho para o que o estabelecimento hospedasse novos visitantes. De acordo com a sócia-proprietária Ana Olinda Sehn, agora, no entanto, os apartamentos são ocupados por famílias e outras reservas individuais. “Nós ainda temos algumas vagas, mas em torno de 80% da ocupação é de pessoal que vem para o Enart.” No Centro, o Hotel Village, por sua vez, está lotado, com 70 pessoas. Em Vera Cruz, alguns grupos também encontram morada, como no Hotel Dal Molin, onde as vagas já estão esgotadas.
Palco A – Ginásio Poliesportivo: é onde ocorrem as Danças Tradicionais da Força A. No sábado, as atividades têm início às 8h15 e vão até as 20h15, com a eliminatória da modalidade. No domingo, a programação começa às 8h45. O ponto alto do evento será a partir das 19 horas, com a solenidade de encerramento.
Palco B – Pavilhão 2: das 8h15 às 20h15 ocorre a competição da Força B, no sábado. No domingo, a final ocorre às 9 horas.
Palco C – Centro Cultural 25 de Julho: às 8 horas ocorrem competições de intérprete solista vocal. No domingo, a partir das 9 horas, serão as finais.
Palco D – Sinditabaco: no sábado e no domingo, a partir das 9 horas, ocorrem as finais de instrumentos musicais.
Palco E – Praça de alimentação: no sábado, a partir das 9 horas, ocorre a eliminatória de trovas. No domingo, a final tem início no mesmo horário.
Palco F – Lonão da chula: no sábado, ocorre a eliminatória, às 9 horas. No domingo é a final, no mesmo horário.
Palco G – Pavilhão Central: as danças gaúchas de salão serão julgadas a partir das 9 horas nos dois dias.
Palco H – Bierhaus: local onde ocorrem as competições de declamação, a partir das 9 horas, no sábado e no domingo.
Palco I – Espaço Assemp: no sábado ocorre a eliminatória da declamação masculina.
Palco J – Pavilhão 3: é onde ocorre a 19ª Mostra de Arte e Tradição Gaúcha, no sábado, das 15h30 às 20 horas.
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