Santa Cruz sedia Encontro Regional das Américas para discussão do tabaco
A produção mundial de tabaco é o tema central do Encontro Regional das Américas, da Associação Internacional dos Países Produtores de Tabaco (ITGA), que ocorre nesta segunda-feira, 18, em Santa Cruz do Sul. A atividade é realizada no Aquarius Flat Hotel e vai reunir nomes ligados ao setor no Brasil, Argentina e Estados Unidos. De forma online, por meio de videoconferência, também haverá a participação de representante da Colômbia. A programação iniciou às 8h15, momento no qual as delegações se reúnem com autoridades e imprensa para um ciclo de palestras sobre a cadeia produtiva e outros assuntos. Já na parte da tarde a reunião será fechada, apenas para as delegações.
A fim de adiantar o que esse encontro representa, bem como para destacar as projeções da ITGA para o setor de tabaco, a Gazeta do Sul falou com exclusividade, na manhã desse domingo, com o presidente da Associação Internacional dos Países Produtores de Tabaco, José Javier Aranda. O bate-papo foi intermediado pela diretora-executiva da entidade, Mercedes Vázquez.
A pauta do Encontro Regional das Américas inclui palestra, por vídeo, com o gestor de Análise da Indústria do Tabaco da ITGA, Ivan Genov, que falará sobre o bloco de mercado; palestra com o presidente do SindiTabaco, Iro Schünke, que abordará o perfil socioeconômico do produtor de tabaco da Região Sul do Brasil; palestra com Antonio da Luz, economista-chefe do Sistema Farsul, que abordará o tema A importância do Agro Brasileiro, e ainda um debate sobre a COP-10, coordenado pela diretora-executiva da ITGA, Mercedes Vázquez.
Entrevista – José Javier Aranda – Presidente da Associação Internacional dos Produtores de Tabaco (ITGA)
Que avaliação o senhor faz das tratativas da COP-10, no Panamá? Esse encontro implica em mais preocupações para o setor do tabaco no mundo?
As conclusões continuam a ser as mesmas, pois continuam a atacar o setor, um setor que gera muito emprego, muita mão de obra e proporciona riqueza nos países. E continuam a ignorar esses fatos. E estão sempre dizendo que o consumo está diminuindo, quando na verdade o que está diminuindo é o consumo legal de tabaco. O que a Convenção-Quadro não diz é que o consumo ilegal está cada vez subindo mais, porque estão asfixiando o setor que opera na legalidade com esses contínuos ataques.
O senhor vê boas perspectivas para a produção e o comércio de tabaco no mundo nos próximos anos?
Tudo indica que a produção e o comércio irão se manter e, inclusive, crescer. Os compradores continuam precisando de tabaco. Há bastante procura, mais até do que tabaco a se oferecer. O que acontece é que as mudanças climáticas estão impactando muito as condições em que o tabaco é produzido. E isso tem feito a produção diminuir. O Brasil, por exemplo, tinha uma expectativa de produzir 600 milhões de quilos, mas vai chegar a 450 milhões de quilos. E isso se deve ao clima, que não deu condições de termos essa quantidade.
Em termos de mercado, de demanda de tabaco, o que os indicadores da ITGA apontam? Há mercados que se salientam ou que são mais promissores?
Cada companhia busca um tipo específico de tabaco, ou seja, uma classificação (em termos de qualidade). Portanto, cada país produtor está preparado para oferecer o que os compradores buscam. O mercado está estabilizado, mas se falarmos em termos de países que podem se destacar, podemos dar o exemplo da Tanzânia, na África do Sul, que nos últimos três anos tem duplicado a sua produção. E isso se deve a uma procura maior de tabaco dentro da própria Tanzânia. Há alguns anos, houve uma quebra e aí diminuíram muito a produção, até mesmo por assuntos políticos, por governos que não eram favoráveis. Mas nos últimos cinco anos, com a mudança de governo e de políticas, com vistas a favorecer o tabaco, as companhias voltaram a ter interesse na Tanzânia e isso criou estímulo para que o país crescesse em termos de produção.
Como o senhor avalia a perseguição em relação ao tabaco nos diferentes países? Em qual região entende que essas restrições são mais fortes?
O Brasil, sem dúvida, é o país que mais ataca o setor. É contraditório porque ele é exemplo no resto do mundo, não só porque é o segundo maior produtor mundial, mas também por suas práticas agrícolas, sociais e ambientais. No entanto, temos noção de que é o país que mais financia recursos à Convenção-Quadro para atacar um setor que é muito importante. O país (e o governo) escolheu ignorar esses pontos positivos do setor. É importante acrescentar que a maior parte do tabaco produzido no Brasil é exportada, e isso proporciona o ingresso de moeda estrangeira no país.
O produto ilegal é um grande problema no Brasil. É assim também em outros países? E na Argentina? Como a ITGA entende que se pode frear esse comércio ilícito?
A Convenção-Quadro tem taxado com preços elevados o tabaco, por meio da imposição de impostos. As companhias precisam absorver isso, e os produtores também. Dessa maneira, os consumidores optam pelo que é mais barato, que é o produto ilegal. Portanto, trata-se de um problema preocupante em todo o mundo.
Como se encontra na atualidade a produção na Argentina? E quais as principais características do modelo argentino e o que diferencia este, por exemplo, em relação ao Brasil?
A Argentina segue um modelo de produção muito parecido com o do Brasil. Na Argentina se produz por volta de 100 milhões de quilos (das variedades Burley e Virgínia). A Argentina olha muito para o mercado brasileiro porque o Brasil dita a pauta de preços. Os produtores continuam produzindo tabaco conforme a demanda, e isso só tem a ver com o fator climático. De resto, se formos comparar os modelos brasileiro e argentino, são muito parecidos, sempre tentando acompanhar as boas práticas agrícolas, do ponto de vista social e ambiental, erradicando também 100% do trabalho infantil nas lavouras de tabaco.
Quais os principais temas a serem tratados nesse encontro da ITGA em Santa Cruz do Sul?
Haverá um intercâmbio de informações. Esse é o nosso Encontro Regional das Américas. Teremos a participação dos nossos membros das Américas e depois teremos um momento para debate das conclusões sobre a COP-10, entre os integrantes da comitiva brasileira e da ITGA. Os encontros regionais e mundiais ocorrem todos os anos, fizemos nos continentes e depois em nível global. O Brasil, como membro fundador da ITGA, tem organizado e apoiado inúmeros encontros.
Campanhas, ações e iniciativas da Afubra, associada da ITGA, servem como modelo para outros membros da associação internacional?
Nesse momento, a ITGA tem 27 membros (entidades associadas) em todo o mundo. Há 40 anos, seis países fundaram a ITGA e hoje temos por volta desse número de associações de produtores. Na Argentina, temos vários membros divididos em diferentes regiões. Já aqui no Brasil, a Afubra concentra, como única entidade, a representação de todo o país. A Afubra é um membro muito forte dentro da associação em nível global.
O senhor já conhece Santa Cruz e a região? Para a ITGA, continua sendo um grande polo regional quando se trata de falar em tabaco?
Sim, é muitíssimo importante, principalmente se formos ver no contexto global, em termos de produção. Santa Cruz do Sul, levando em conta que é a região onde se tem a maior produção do Brasil, é ainda mais e ocupa um lugar de destaque.
José Javier Aranda tem 55 anos e é natural da província de Salta, na Argentina. É produtor de tabaco, atividade que herdou da família e está na quinta geração. Seu filho José Victor, de 24 anos, já garantiu a sucessão da propriedade de 40 hectares. Ele conta que neste ano, em função das precipitações de granizo, deve produzir em torno de 60 mil quilos do tipo Virgínia. Além do tabaco, dedica-se à criação de gado.
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A produção na província argentina de Salta está condicionada à infraestrutura necessária para curar o tabaco. Uma das iniciativas para tentar aumentar essa capacidade é a construção de um maior número das chamadas estufas comunitárias que beneficiam os pequenos produtores. A margem de produção, atualmente, varia entre 35 milhões e 40 milhões de quilos. A intenção é aumentar esse volume, porque há terra e condições para produzir.
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Cláudia Priebe
Cláudia Priebe é natural de Candelária (RS). Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) desde 2005, onde também concluiu especialização MBA em Agronegócios, em 2008, começou a atuar na área ainda em 2002. Sua primeira experiência foi no meio impresso, no Jornal de Candelária, local em que, por mais de dois anos, desenvolveu atividades como repórter, fotógrafa e revisora. Entre 2005 e 2008 atuou no grupo das Rádios Sobradinho AM 1110 e Jacuí FM 97,3, em Sobradinho (RS). Nesse período desenvolveu atividades como redatora, repórter de rua, locutora e produtora de programas jornalísticos, além de fazer apresentações de eventos promovidos pelas duas emissoras. Em 2008 retornou para o meio impresso, desta vez para o jornalismo especializado, e atuou como jornalista freelancer da Editora Gazeta, da Gazeta Grupo de Comunicações. De 2009 a 2015 integrou a equipe da Folha de Candelária, também em Candelária, tendo acumulado as funções de repórter, fotógrafa, revisora e subeditora nos três primeiros anos e a edição geral, coordenando uma equipe de outros quatro repórteres, nos três anos finais. Nesse mesmo período prestou serviços para a Cassol Publicidade e Propaganda, de Candelária, na redação semanal das sessões da Câmara de Vereadores de Candelária. Entre os anos de 2015 a 2023 atuou como assessora de imprensa do Sindicato dos Empregados no Comércio de Santa Cruz do Sul, sendo responsável pela comunicação interna e externa da entidade, bem como pela produção e edição de materiais gráficos diversos. Em 2023 retornou para a Gazeta Grupo de Comunicações, onde atualmente se dedica à produção e edição de conteúdo para os cadernos especiais do jornal Gazeta do Sul e de conteúdos patrocinados para o Portal Gaz, atendendo clientes de segmentos como comércio, indústria e prestação de serviços. Eventualmente, atua, também, como revisora do jornal.