O índice de inclusão de registros por inadimplência em Santa Cruz do Sul caiu ao menor patamar já registrado, em 20 anos de levantamento. O percentual de notificações durante julho alcançou 10,16%, contra a média de 20% geralmente informada pelo comércio local. Para o sindicato lojista, o fenômeno pode representar a redução no volume de venda a crédito e a quitação antecipada de parcelas por parte do consumidor.
O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Santa Cruz do Sul (Sindilojas), Mauro Spode, afirma que há pelo menos duas décadas acompanha de perto a evolução dos números da inadimplência no município. Do ano de 2000 para cá, o valor apurado pela entidade junto aos órgãos de proteção ao crédito nunca foi tão baixo.
No levantamento solicitado pela Gazeta do Sul ao Sindilojas, o volume de inadimplência durante o período da pandemia de Covid-19 teve uma redução gradual. Em abril, no início, o valor mais alto registrado foi de 16,5%. Em maio, 15,2%; junho, 14,85; e 10,16 em julho.
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“Esse desempenho pode representar dois comportamentos distintos. Um deles ligado à possibilidade de uma redução nas operações feitas com crediário próprio”, comentou Spode. O presidente do sindicato afirma que, temendo a inadimplência, lojas de grande e médio porte – que operam no sistema crediarista e às quais referem-se os percentuais divulgados pelo Sindilojas – tendem a reduzir a sua oferta de crédito. “Essa pode ser uma das explicações, uma vez que as vendas de cartão de crédito são maiores hoje em dia”, ressaltou.
Um outro quesito – avaliado como bastante positivo pela entidade – pode estar associado ao comprometimento do consumidor com o pagamento de contas. A volta do funcionamento do comércio não essencial, em 20 de abril passado, ilustra essa possibilidade. Na época, as filas em frente às lojas, para o pagamento de prestações, mostraram que o compromisso com o crédito é também uma característica do santa-cruzense. “Naquela época, várias pessoas adiantaram prestações, temendo um novo fechamento de lojas e a impossibilidade de realizar pagamentos”, salientou Spode.
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Consumo mais consciente, aponta economista
Se a pandemia do novo coronavírus promete transformar o mundo, ou pelo menos criar um “novo” normal, no que se refere ao consumo o efeito da Covid-19 já sinaliza para uma nova tendência. A economista Cíntia Agostini, da Universidade do Vale do Taquari (Univates), acredita que o medo do desemprego e da falta de renda pode ter afetado o comportamento dos consumidores.
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Segundo ela, o direcionamento ao pagamento de parcelas antecipadas – como apontou o presidente do Sindilojas – mostra que a preocupação com a adimplência parece ter tocado o consumidor. “O medo do desemprego, por exemplo, pode ter alterado a forma como o consumidor vê suas dívidas, pagando até de forma antecipada e evitando um possível atraso.”
Cíntia observa ainda que, por causa dessa nova realidade, a forma de consumir tende a se modificar. O compartilhamento e locação de bens têm se mostrado como alternativas contemporâneas. “As pessoas estão aprendendo a consumir melhor, reduzindo a compra individual para formas de uso coletivo. Essa característica também pode impactar na redução da inadimplência”, frisou a economista da Univates.
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Comparativo
No comparativo com Porto Alegre, o percentual de inadimplência em Santa Cruz é ainda menor. Segundo dados do Sindilojas, o índice da Capital atingiu o maior patamar também em abril, quando registrou 20,8%. Seguindo a tendência santa-cruzense, o volume foi caindo ao alcançar a marca dos 17,78%, ainda bem acima do registrado em Santa Cruz.
Já na comparação com a média estadual, Santa Cruz também fica abaixo. Em abril, o índice de dívidas em atraso era de 19,08%. No último mês de julho, o total de inadimplentes no Estado era de 15,68%.
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