Santa Cruz do Sul

Santa Cruz mantém trabalho constante no combate à dengue nos bairros

Uma guerra silenciosa. É assim que Francine Braga, coordenadora do Departamento de Vigilância e Ações em Saúde da Secretaria de Saúde de Santa Cruz do Sul caracteriza o trabalho realizado para combater a dengue no município. Ela, juntamente com Juliana Hoffmeister, chefe do setor de Endemias, coordena uma equipe de 38 pessoas que realizam um trabalho minucioso na caça ao Aedes aegypti em todos os lugares da cidade. 

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As visitas domiciliares são feitas por demanda. Os chamados pontos estratégicos são vistoriados mensalmente para que o mosquito transmissor de dengue, chikungunya e zyka não se prolifere. A partir das visitas, os agentes de combate a endemias (ACEs) procuram por possíveis focos do mosquito, recolhem amostras e deixam dicas e recomendações para residentes de diversas localidades. Os operários, que acompanham os agentes, pulverizam larvicidas e inseticidas onde é necessário. 

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Para mostrar esse importante trabalho realizado por equipes da administração municipal, a reportagem da Gazeta do Sul acompanhou a rotina dos agentes em um dia de visitação domiciliar em pontos estratégicos do município. Na manhã do dia 10 de fevereiro, foram visitados uma empresa de comércio de sucatas, uma residência e um cemitério, locais já monitorados anteriormente. 

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Controle minucioso em toda a cidade

Perto das 9 horas da manhã, uma camionete deixou o Departamento de Vigilância em Ações em Saúde, no centro de Santa Cruz, em direção ao primeiro local que seria vistoriado naquela sexta-feira ensolarada e de muito calor. O primeiro destino foi uma empresa que comercializa sucatas, às margens da BR-471, no Distrito Industrial.

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Por ser um território com objetos onde o mosquito pode se proliferar, duas agentes coletaram material e um operário pulverizou inseticida em toda a extensão da localidade. Segundo Francine, ferros-velhos e cemitérios são locais que não podem ser eliminados. “Por isso, é realizada a remediação de 15 em 15 dias nesses pontos com a aplicação de veneno”, afirma.

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Para a cobertura de toda a cidade, são deslocados 30 agentes que produzem os chamados mapas de calor. Nesses documentos são detalhados e mapeados os pontos onde há mais proliferação. “Indo pelo menos uma vez ao mês nos locais, é possível fazer uma checagem completa e orientar cada pessoa acerca dos criadores da dengue. Conseguimos fazer um levantamento muito grande da cidade, e colocamos tudo em um banco de dados. Se alguém me pedir dados sobre um bairro ou uma rua, nós vamos saber. É uma espécie de raio-x muito pertinente que temos do município”, explica.

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Após a vistoria e com as orientações repassadas aos funcionários da empresa de sucata, a próxima parada foi a casa de Ivana de Magalhães, moradora do Bairro Santuário. Por ter um pátio grande e com pontos estratégicos, Ivana recebeu a visita dos agentes pela segunda vez no mês, após terem sido encontrados criadouros do Aedes em bromélias próximas ao seu quintal.

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Na visita do dia 10, a equipe acabou encontrando novas larvas, que foram retiradas e encaminhadas ao Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Lacen). A moradora irá aguardar algumas semanas para saber o resultado; enquanto isso, realiza um controle diário de seu terreno.

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Ivana, moradora do Bairro Santuário, recebe orientações da agente de endemias | Foto: Bruno Pedry

Segundo Ivana, o trabalho da vigilância é excelente. “Eles olham tudo na minha casa. Flores, piscina, comedouros dos cachorros, tonel que recolhe água da chuva para molhar minhas frutíferas e até folhas dos coqueiros, que formam uma bolsa e juntam água da chuva involuntariamente”, conta.

A moradora diz ser importante a realização do trabalho para que as orientações sejam repassadas para outras pessoas. “Eles ensinam procedimentos de que às vezes não tínhamos nem noção. Eu sabia algumas orientações básicas, mas em alguns locais eu só fui aprender agora. Não é somente em vasos de flores e água de piscina que pode ocorrer a proliferação”, ressalta Ivana.

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O último local em que a equipe da Vigilância e Ações em Saúde fez a vistoria naquela manhã foi o Cemitério Santo Antônio, no Bairro Arroio Grande. No espaço, além dos vasos com flores, eles checaram qualquer tipo de abertura e brecha que pudesse ter água parada. O trabalho foi finalizado com a aplicação de larvicida entre os túmulos, com objetivo de frear qualquer infestação do mosquito. 

Daniela Lopes é uma das ACEs que realizaram as visitas. Ela conta que boa parte da população cuida de seus espaços, mas há situações externas que exigem o monitoramento mensal ou em um período de tempo menor. “A proliferação sempre aumenta no calor. Mesmo com a seca, estamos encontrando larvas em alguns lugares.”

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A resistência dos moradores muitas vezes é um empecilho para os agentes. “Sempre pedimos para que as pessoas cuidem de seus pátios, revisem após a chuva e, se possível, deixem a equipe do Endemias entrar. Há muitas pessoas resistentes, mas queremos apenas fazer nosso trabalho e ajudar na saúde de todos.”

Redução em 70% dos casos

Além das visitas domiciliares, pelo menos dez agentes da equipe realizam bloqueios. A ação funciona assim: após uma pessoa dar entrada em um posto de saúde ou emergência de hospital com sintomas da doença, o Departamento de Endemias é notificado. Os agentes recolhem informações suficientes sobre o morador para que sejam realizados o bloqueio e a procura do mosquito no local onde ele reside. “É um trabalho observatório e dinâmico. Temos essas estratégias para ir onde há casos confirmados. Foram essas ações que nos levaram a reduzir em 70% os casos e zerar as mortes”, comemora Francine. 

Segundo dados da Vigilância e Ações em Saúde, em 2021 houve 5.048 casos confirmados de dengue no município e cinco óbitos. Já em 2022, o cenário foi diferente. Além de zerar o número de mortes, os casos foram reduzidos para 1.657, sendo 459 diagnosticados por laboratório.

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Neste ano, até o momento, foram 121 notificações, com dois casos positivos, 48 descartados e 65 aguardando resultados. Diante da situação controlada, não há previsão de novos mutirões pela cidade. “Mas estamos sempre de olho. Vamos alinhar agora, no começo do ano, junto com a Secretaria de Meio Ambiente, calendários de limpeza nos bairros para que isso não aconteça”, adianta a coordenadora. 

No início do ano passado, a Vigilância Sanitária adquiriu um nebulizador veicular e mais dois costais, num investimento de R$ 30 mil, com o objetivo de dar mais agilidade no combate ao mosquito. Em produtos químicos para aplicação e outros equipamentos, foram investidos cerca de R$ 250 mil. “Passamos larvicidas que não agridem o meio ambiente, colocamos em piscinas, caixas d’água abertas e em qualquer outro ponto onde possa haver foco dos mosquitos. A vistoria é detalhada em cada canto em que haja água parada limpa.”

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Opérarios utilizam equipamento costal que aplica inseticida em superfícies onde pode ocorrer a reprodução | foto: Bruno Pedry

Na semana passada, uma empresa japonesa com atuação no Brasil escolheu Santa Cruz para fazer a demonstração de um equipamento moderno e de longo alcance para aplicação de produtos. “Escolhemos a cidade pelo fato de a equipe técnica da Vigilância Sanitária ser pioneira por soluções inovadoras e sustentáveis”, disse o biólogo César Mollendorff, gerente em saúde pública da Sumitomo Chemical. A aplicação foi realizada no Bairro Progresso, em parceria com a Secretaria de Obras e Infraestrutura, por ser um local com maior número de focos de Aedes aegypti.

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A prefeita Helena Hermany diz que, devido aos investimentos realizados e às ações pontuais em bairros mais afetados, o município conseguiu zerar o número de mortos por dengue. “A saúde é nossa prioridade. Temos uma equipe técnica muito qualificada, temos agentes de endemias que passam de casa em casa para fazer um trabalho de prevenção e orientação aos moradores. É um conjunto de ações planejadas que nos trouxeram bons resultados.” 

“Nosso objetivo é vigiar a saúde das pessoas”

Conforme Francine Braga, os projetos e investimentos da vigilância elevaram Santa Cruz nos patamares de cuidado com a saúde. “Estruturamos todo o setor, houve um grande incremento e temos a situação plenamente controlada. Claro que o mosquito tem que ser vigiado o tempo todo, é uma guerra silenciosa. Ainda que Santa Cruz esteja com números bons, se a gente relaxar, eles vão voltar. É um trabalho de orientação de segunda a sexta. Acredito que um dos grandes trabalhos nesses últimos anos é o controle da dengue na cidade”, reitera a coordenadora.

Francine: números bons, mas sem relaxar | Foto: Bruno Pedry

Além do combate à dengue, a Vigilância e Ações em Saúde atua em qualquer situação que possa trazer perigo para a vida humana. “Nosso objetivo é vigiar a saúde das pessoas. Temos fiscais que cuidam de todos os estabelecimentos, inclusive das imunizações. É um serviço amplo”, conclui.

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Entrevista – Cristiane Pimentel Hernandes, médica infectologista e docente do Curso de Medicina da Unisc

Cristiane Pimentel Hernandes, médica infectologista e docente do Curso de Medicina da Unisc | Foto: Bruno Pedry
  • Gazeta do Sul – O que é a dengue? A dengue é uma doença infecciosa, febril, aguda, causada por um vírus (DEN) e transmitida a partir da picada de um mosquito (Aedes aegypti).
  • Quais os tipos da doença? Quem já teve dengue uma vez pode ser contaminado de novo? A infecção pode ser assintomática ou apresentar sintomas, que vão desde sintomas leves até a dengue grave, também conhecida como hemorrágica. Existem quatro tipos de vírus da dengue, DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4. Assim, as pessoas podem se infectar até quatro vezes na vida.
  • Quais as outras doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti? Como a pessoa pode identificar o mosquito? O mosquito Aedes aegypti também é o transmissor de outras infecções virais, como zika e chikungunya. Esse mosquito já foi o transmissor da febre amarela urbana; porém, desde 1942 o Brasil não registra casos desse tipo de febre amarela. O Aedes aegypti tem como características a cor café ou preta e listras brancas no corpo e nas pernas. Seu ambiente de reprodução é água limpa e parada, e o clima quente e úmido. Ele voa a uma altura média de 1,5 metro do chão, sendo seu horário de maior atividade o início da manhã e o final da tarde.
  • Quais são os sintomas? A primeira manifestação da dengue geralmente é a febre (maior que 38 graus), de início abrupto e com duração de dois a sete dias. A pessoa também pode apresentar dor de cabeça, cansaço, dor no corpo e nas articulações e dor atrás dos olhos. Vômitos e diarreia também podem se fazer presentes. Manchas avermelhadas pelo corpo aparecem na grande maioria dos casos, atingindo a face, o tronco e os membros. Após a fase febril, grande parte dos pacientes recupera-se gradativamente, com melhora do estado geral e retorno do apetite. Porém, algumas pessoas podem ter o ressurgimento da febre ou o surgimento dos sinais de alarme após o terceiro ou quinto dia, indicando a evolução para a forma grave da doença. Os sinais de alarme são os seguintes: dor abdominal; vômitos persistentes; acúmulo de líquidos; pressão baixa; sonolência e/ou irritabilidade; sangramento de mucosas; entre outros.
  • Como é feito o tratamento? Não há tratamento específico. A medicação é apenas para controle dos sintomas, com analgésicos e antitérmicos (paracetamol e dipirona). Devem ser evitados os salicilatos (AAS) e os anti-inflamatórios, já que seu uso pode favorecer o aparecimento de sangramentos. Os casos graves necessitam de suporte hospitalar.
  • Pode haver sequelas no paciente? A recuperação acontece aos poucos, não deixando sequelas ao paciente.

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