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Santa Cruz do Sul é ambiente propício para empreender

Não é novidade que a pandemia criou um cenário instável e de grandes adversidades para quem toca o próprio negócio. A crise, que resultou em demissões, fez também com que muitos buscassem alternativas para o sustento. Desta forma, empreender tornou-se uma forma de subsistência, de desafio pessoal e, mais do que isso, de descoberta de talentos nunca antes explorados.

Entretanto, não foram apenas novos empreendimentos que surgiram durante a crise. Os negócios encontraram em Santa Cruz do Sul um solo fértil também para a expansão. Como forma de incentivar os novos empreendedores, o município conta com a lei 6.227. A prática agrega positivamente para o desenvolvimento econômico, principalmente pelo retorno de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), além, claro, da geração de empregos, que movimenta a economia de forma geral.

A inclinação à maior busca por autonomia não fica apenas em teorias. Números do Banco do Povo de Santa Cruz do Sul mostram que somente nos primeiros seis meses de 2021 a procura e a liberação de crédito já superaram todo 2019 e 2020.

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Município dispõe de incentivos físicos, tributários e financeiros

A lei 6.227 autoriza a Prefeitura a conceder incentivos físicos, tributários e financeiros às empresas industriais, comerciais e prestadoras de serviços que vierem a se instalar no município. O titular da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo, Márcio Martins, explica que para acessar os incentivos as empresas devem estar instaladas na cidade ou expandindo suas atividades.

“É pedida uma carta de intenções na qual irão constar dados da empresa, como geração de emprego, faturamento e previsão de crescimento. Ela é submetida a uma comissão que avalia a viabilidade do projeto, bem como a autorização para ser concedido o auxílio. Se aprovado e o incentivo for tributário, ainda necessita de aprovação pela Câmara de Vereadores”, esclarece o secretário.

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Além disso, o município conta com o Berçário Industrial, que é destinado a empresas que estão começando suas atividades do zero. “São ideias que podem ser colocadas em prática sem que o empreendedor precise se preocupar com custos básicos, como aluguel. É feita uma avaliação do projeto do empreendimento e, caso haja local disponível, a sala é cedida.”

Para Martins, Santa Cruz é um solo fértil para o empreendedorismo. “Somos a sexta economia do Estado, temos uma localização privilegiada, aeroporto, infraestrutura, educação e segurança de excelente qualidade, e uma legislação renovada, que atende às necessidades dos empresários.” O empreendedorismo, de acordo com o titular da pasta, agrega principalmente com o retorno de ICMS gerado pelo município, bem como na criação de empregos, movimentando o comércio local.

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Encaixe certo entre inovação e praticidade

Para os irmãos Otávio Leitão, de 25 anos, e João Vogt, de 23, empreender virou uma opção na metade do ano passado, quando notaram que as próprias experiências e ideias poderiam explorar um bom mercado. Foi assim que surgiu a Encaixe, empresa cuja produção é feita atualmente no Berçário Industrial de Santa Cruz do Sul e que preza pela praticidade e funcionalidade.

Otávio é graduado em Engenharia Mecânica, enquanto João estuda Design de Produto. Os dois são de Santa Cruz, mas residiam em Porto Alegre, em um apartamento. Em um dia de ócio, o irmão mais novo começou a desenhar móveis. “Conforme eu ia projetando, ia colocando na rede social, e o pessoal elogiando muito. Quando fizemos e levamos lá para o apartamento, postamos e o pessoal começou a pedir orçamento. Aí vimos uma oportunidade”, comenta o jovem.

De acordo com Otávio, a Encaixe tem uma série de diferenciais. “O intuito era criar uma empresa contemporânea, com um produto que tivesse o menor impacto possível para o meio ambiente. Os nossos são elaborados com madeira de reflorestamento. Usamos a pintura eletrostática, porque ela não tem solvente, que é algo prejudicial para o colaborador.” Além disso, os móveis produzidos são práticos e de fácil montagem.

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A empresa, que começou suas atividades durante a pandemia, fez até com que Otávio pedisse demissão do emprego fixo para investir na ideia. “A gente vive reclamando. Quando se tem a oportunidade de empreender e fazer aquilo em que a gente acredita, é o que vale no final das contas. O processo de chegar em um objetivo é melhor do que querer estar em uma posição. É viver a trajetória”, define.

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Os irmãos Otávio e João criaram a empresa Encaixe, atualmente no Berçário Industrial, mirando fazer produtos com baixo impacto no ambiente

Duas paixões em um só espaço

Os profissionais que vivem de eventos estão entre os mais prejudicados pelas restrições impostas pela pandemia. Foi assim com Rúrica Brião, de 40 anos, e Valdir Kappaunn, de 45. O casal, que trabalha em uma empresa de fotografias e filmagens, se viu desafiado quando, do dia para a noite, precisou pensar em uma alternativa.

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Com dois filhos pequenos, de 5 e 9 anos, foi preciso entrar em ação. Valdir trabalhou como motorista de aplicativo. Ele e a esposa também cozinharam feijoada para vender. Mas foi a lembrança de um curso interrompido que fez com que o rumo das coisas mudasse. “O Valdir já tinha iniciado um curso de barbeiro, só que, como nossa demanda era muito grande, ele trancou”, conta a esposa. Foi aí que o curso foi retomado. “Estou muito feliz, poderia ficar 24 horas cortando cabelo e fazendo barba”, comemora o profissional.

Mesmo com a pausa dos eventos, o trabalho de fotografia não parou, já que o casal também atua com ensaios. Hoje, o Espaço VR, localizado na Avenida Euclydes Kliemann, 780, alia em uma sala as duas profissões.

Rúrica e Valdir uniram o trabalho com fotografias e barbearia em um ambiente

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Primeiro semestre com índices positivos

O primeiro semestre deste ano já superou os números de 2019 e 2020 no Banco do Povo de Santa Cruz do Sul. Em todo o ano de 2019 foram 174 contratos liberados, e em 2020, 195. Enquanto isso, apenas os primeiros seis meses de 2021 já tiveram 199 empreendedores beneficiados com recursos. Além disso, somente neste primeiro semestre foram liberados R$ 3,6 milhões. O montante ultrapassa todo o valor de 2019 (R$ 1,8 milhão) e de 2020 (R$ 1,7 milhão).

Para o coordenador do Banco do Povo, Paulo Mans, os resultados se devem ao incentivo do Poder Público. “Foi criado o Fundo Garantidor, e a Prefeitura continuou subsidiando a taxa de juros para os pequenos empreendedores. Isso fez a diferença para se alcançar esse número.” Mans considera que tais valores podem representar a retomada de uma economia abalada pela Covid-19. “Com a vacinação avançando, a procura por crédito está cada vez maior”, informa.

O Banco do Povo trabalha com duas linhas de crédito, uma voltada a quem está começando, mas com experiência no negócio, e outra para empresas maiores, já estruturadas. O coordenador explica que o banco funciona como uma assessoria. “Centralizamos as informações para melhor encaminhar o empreendedor. Em 2021, houve aumento de pessoas empreendendo, buscando alternativas, se adequando a esse novo ambiente”, ressalta. A inadimplência no Banco do Povo de Santa Cruz está em 0,87%.

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O primeiro semestre deste ano já superou os números de 2019 e 2020 no Banco do Povo de Santa Cruz do Sul

Expansão no ramo de massas

Remando contra a maré, o empresário Rodrigo Weber, de 39 anos, expandiu seus negócios mais de uma vez durante a pandemia. Atuante no ramo de fabricação de massas, molhos e outros produtos congelados há cerca de cinco anos, mas sem espaço físico para vendas, em julho de 2020 ele abriu uma loja da Sabor Prediletto na Rua Sete de Setembro, 683.

Já em 2021, Rodrigo resolveu investir no desejo de abrir um restaurante na praça de alimentação do Shopping Santa Cruz. “Deu super certo. Como lá no Shopping já tinha casa de massas, continuamos no mesmo segmento, só que agregando algo, levando meu conceito de um produto mais natural e saudável. É possível escolher o tipo de massa que você quer, o molho, os ingredientes, e montar o prato na hora”, comenta sobre seu novo empreendimento, o restaurante La Casona.

Rodrigo enfatiza o apoio que recebeu do Banco do Povo. “Eles fazem parte da minha história. Sempre, em qualquer dificuldade, desde o começo, prontamente estenderam a mão. De repente, se não fossem eles, eu nem estaria aqui hoje”, diz.

Além da venda de congelados, Rodrigo Weber assumiu restaurante: duas expansões em meio à pandemia

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Saber identificar as boas oportunidades

Afinal, qualquer pessoa pode empreender, ou existe um perfil específico? O coordenador da Incubadora Tecnológica e do Parque Tecnológico da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Rafael Kirst, explica que a atividade requer competências e habilidades. “Ter um perfil empreendedor ajuda, mas é possível, por meio do estudo e qualificação, aprender as ferramentas necessárias para se tornar um bom empreendedor. O mais importante é estar disposto a aprender”, responde.

Contudo, abrir o próprio negócio requer uma observação abrangente do mercado. “Realizar uma sólida pesquisa de mercado e buscar validar os principais aspectos do negócio. Abrir qualquer empreendimento sempre pressupõe riscos, mas mesmo em um momento de crise, boas oportunidades podem ser identificadas”, diz Kirst. “O principal ponto é entender as dores do cliente. Empreendedores que têm essa clareza conseguem adaptar seus produtos e serviços de forma a se manterem relevantes e superar a concorrência. Se for possível pensar em um negócio inovador, melhor ainda: isso pode tornar a concorrência irrelevante”, assinala.

A diretora de Inovação e Empreendedorismo da Unisc, Andreia Valim, salienta que a crise gera desconforto e, com um olhar atento, é possível identificar oportunidades. “O empreender é um ato de coragem e é necessário ter uma resolução pessoal grande. É importante que o empreendimento esteja vinculado ao propósito de vida do empreendedor, para que os desafios sejam superados, para que se busquem oportunidades e apoio adequados.”

O agendamento no Banco do Povo pode ser feito pelos telefones (51) 2109 9270 e (51) 3713 1288. O horário de atendimento é das 8 horas às 11h30 e das 13h30 às 16h30.

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