Em 1991 eu ingressava na vida escolar. Meu sonho era estudar, ir à escola, ter tema de casa e fazer/ter colegas/amigos. Me espelhava no meu irmão mais velho. No entanto, no bairro em que morávamos não havia educandário. Nas proximidades tinham duas escolas, uma municipal, a São Canísio, e outra estadual, a José Mânica. A segunda, bem maior e com capacidade para receber mais alunos, acabava por acolher a maioria dos estudantes do bairro em que eu morava. Fui para lá, assim como meu irmão e vizinhos da rua. Lembro bem do primeiro dia, da mochila com os materiais (bem pesada, mas que fiz questão de carregar), de minha mãe me levando pela mão e da minha felicidade em estar ali.
Já naquela época a escola se dividia em: o prédio velho e o prédio novo. Sim, há 30 anos, a mesma estrutura que ruíra já estava fadada ao fim trágico e triste que teve. Estudei em revezamento, um ano no prédio novo, um ano no prédio velho, até a metade da quarta série, quando mudei de escola. Mas as lembranças são latentes do querido Mânica. O prédio velho, que desde aqueles tempos já falavam que ia ser demolido, abrigava, além das salas de aulas, a direção, a secretaria, a biblioteca, o refeitório e um porão. A biblioteca ficava bem no fim do corredor, em uma sala mais ampla. Foi lá que registrei minha lembrança escolar, com meu blusão verde e o cabelo que eu mesma cortei.
No refeitório, além do pãozinho caseiro, que adorava, tinha a “Cacá”, a tia da merenda. Quem passou pelo Mânica lembra desta figura tão emblemática e acolhedora, mas que também botava ordem na gurizada. Lembro uma vez em que, por dificuldades financeiras do Estado (algo lhe parece familiar?), racionaram a merenda. Em casa, comentei com a mãe que “nunca mais” ia poder comer na escola e fiquei triste, pois amava a merenda. A Cacá soube da história e até hoje rimos ao lembrarmos disso, porque meio que “escondido” eu seguia merendando feliz!
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Recordo também das aulas no porão, entre mesas e cadeiras para conserto e/ou descarte, que tinha um ar mal-assombrado para as crianças menores, através de histórias contadas pelos alunos mais velhos. São memórias tão boas que somente a escola pode deixar nos alunos. Foi ali também que aprendi a ler e escrever minhas primeiras palavras. A cartilha “Alegria do Saber” era nosso livro da primeira série, com exercícios e historinhas. O caderno de alfabeto, com nossas fotos coladas nas letras correspondentes ao nome; as brincadeiras de roda no pátio e as atividades na quadra de cimento, tudo vivenciado no José Mânica.
Apesar das dificuldades, afinal, todos os dias, reunidos em grupos seguíamos para o Mânica, em uma longa caminhada que ainda tinha o desafio de atravessar três faixas da BR-471 para chegar à escola. As lembranças são boas. Este perigo inclusive foi pauta para matéria na TV à época. Um menino foi atropelado indo para escola. Fomos todos acomodados às margens da rodovia pela repórter, Fabiana Piccinin, mais tarde professora e amiga na faculdade, que ordenava a turma para a entrevista. Com tantas recordações, como não se entristecer ao ler que alunos da Escola Estadual José Mânica estão em salas modulares, que contêineres estão sendo utilizados e o provisório se tornou permanente há mais de 9 anos.
Menos mal que nos últimos dias, por mobilização de pais e equipe diretiva, que acionaram a justiça, houve a sinalização positiva de que um novo prédio deve ser construído e o antigo reformado. Mas, infelizmente, é preciso ver para crer, pois promessas não faltaram desde que a escola veio ao chão, literalmente. Sigamos! Salvemos o Mânica, para que mais alunos tenham boas histórias para contar e este capítulo seja encerrado de uma vez.
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