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Sala dos espelhos

Tenho apreço e respeito pela prática política social e partidária, meios de construção da história e dos destinos de uma nação.

Recorrentemente, de modo a justificar momentos de estagnação e depressão, fala-se muito de nossas origens multiétnicas, da trágica e não superada escravidão negra, das persistentes diferenças regionais e das profundas desigualdades sociais.

Esta realidade multifacetada reflete-se, como espelho, em nosso comportamento dúbio e relutante nas oportunidades de enfrentamento e tentativa de superação das adversidades. 

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Pior: a imagem refletida funde-se com esse comportamento, e, como sala dos espelhos – aquela de parque de diversões –, reproduz-se ininterruptamente e cada vez mais disforme.

Consequentemente, já não sabemos mais quem somos, nem nos encontramos ou identificamos racionalmente. Trabalhamos, pensamos, agimos, reagimos, opinamos, criticamos sobre imagens distorcidas.  

Assim desfocados, somos vocacionados para a transferência de responsabilidades, ora culpando o passado, ora responsabilizando a má-sorte e quase sempre a política (os políticos), esta personalidade principal  e imagem refletida de todos nós. 

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A propósito dos políticos, parece, sempre, que ascendem sobre nossos destinos como se fossem “sem pai nem mãe e privilegiados por votos fantasmas que ninguém sabe de onde surgem”. E depois, de anjos protetores e sedutores, transformam-se em demônios e algozes das esperanças coletivas.

Mas, persiste meu otimismo político. Ainda que alertado pelo cético amigo de longa data cuja frase mais veemente não me sai da cabeça: “Por que tu achas que o Brasil deva dar certo? Por que deveria dar certo? Inúmeras civilizações na história da humanidade não deram certo!”

Será que o sujeito tem razão? Objetivamente, o que estamos fazendo para que o País dê certo? E por que insistimos em achar que deva dar certo ao natural? Não será delírio coletivo, imaginação nossa? Não parece uma imagem distorcida?

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Afinal, as coisas não acontecem naturalmente ou porque são destinadas. O destino é algo a ser construído, objetiva e racionalmente. 

E, então, o que fazer? Não será chegada a hora de sair da sala dos espelhos? Retornar e os quebrar, eliminando as imagens distorcidas?

O filósofo alemão Ernst Bloch (1885-1977), em seu livro O Princípio Esperança, disse: “A esperança fraudulenta é uma das maiores malfeitoras da humanidade.”

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