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Sala de emergência

Sem precisar ter concorrido, fui eleita por alguns familiares, de forma unânime, para ser a acompanhante oficial em consultas médicas e incursões hospitalares. Isso, talvez, por ser solteira e não ter obrigações com filhos e marido. Ou pela minha capacidade de manter a cara de paisagem em situações tensas. Ou pela habilidade de “me virar” com facilidade. Pode ser, também, que por nada disso, mas simplesmente por eu ter certa flexibilidade em ajustar as escalas de trabalho, caso precise ficar ausente. O fato é que o título já rendeu os mais diversos acompanhamentos pelas salas de espera. É importante salientar que, de vez em quando, até rola uma bonificação gastronômica, como os merengues coloridos que ganhei da tia ao acompanhá-la na endoscopia. Rimou.

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A última experiência, por sua vez, foi na metade de agosto, quando acompanhei minha mãe numa consulta em Porto Alegre. A dupla do interior ganhando a capital, na busca do atendimento via IPE. Eram para ter sido apenas algumas horas, mas o médico mudou o curso das coisas quando decidiu interná-la para cirurgia. Assim começou a saga no Hospital Ernesto Dornelles. Antes de mais nada, aqui cabe um parêntese sobre o atendimento recebido. Desde a portaria até a sala de recuperação, fomos tratadas, por TODOS os profissionais, com total atenção, cordialidade e respeito. Isso, ainda, em meio a uma estrutura em obras, e salas de atendimento lotadas.

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Da experiência, é claro, como ouvinte e observadora, pincelei frases de sujeitos que dividiram, comigo ou conosco, curtos espaços de tempo. – “Vocês viram uma senhora, com um chapéu, passar por aqui? É a minha esposa… Na verdade, é uma velha com uma coisa em cima da cabeça. Mas se eu disser isso, hoje, é capaz de me prenderem” – senhor, aparentando mais de 70 anos, procurando a companheira pelos corredores. – “Piso, só na Tumelero” – Enfermeira que atendia um grupo de pacientes aguardando por leito. – “Eu já vou ficar feliz se sair com ela viva daqui” – Filho, na sala de espera do bloco cirúrgico, aguardando o resultado da cirurgia da mãe de 87 anos. – “Acho que eu desmaiei. Não lembro de nada.

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Acordei e vim pra cá. Sim, sozinha” – Mulher, na faixa dos 40/50 anos, morando só, na capital. – “O problema nem é o trabalho, mas o bebê de nove meses que tenho em casa” – Mulher, na faixa dos 30 anos, com internação prevista para dez dias, tendo cumprido apenas três. – “Eu deixo de comer uma bala porque me sinto mal se não posso dar o mesmo para os meus filhos” – Motorista de aplicativo em meio a uma conversa sobre o salário do Neymar. – “R$ 350,00 para uma noite?” – Mulher, na fila do elevador, sobre o preço da diária do hotel. – “Desculpa ficar de costas para vocês” – Segurança da área de emergência que precisou se posicionar à nossa frente por alguns instantes. – “Deu tudo certo!” – Filho, sorrindo, saindo do elevador, após saber o resultado da cirurgia da mãe de 87 anos. Em tempos de discussões acerca do Setembro Amarelo, perambular pelos corredores de um hospital pode ser uma grande aula de vida. Uma injeção de que, “sim, não estamos sós em nossas dores”.

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E que possamos viver grandes aprendizados e escolher melhor os mestres (e as companhias) que desejamos ter por perto. Nunca aprendi grandes coisas com influencers em suas mansões. Por muitas vezes, meus principais professores foram anônimos ocupando cadeiras das salas de espera de um hospital.

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Guilherme Bica

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Guilherme Bica

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