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Sair mundo afora – nomadismoou tradição germânica?

No livro do centenário da imigração alemã de Santa Cruz (1949), encontrei a primeira estrofe de uma conhecida poesia de Joseph von Eichendorf, de 1822, que foi transformada em canção popular em 1833.

Wem Gott will rechte Gunst erweisen,
Den schickt er in die weite Welt,
Dem will er seine Wunder weisen
In Berg und Tal, Wald und Strom und Feld
A quem Deus quer demonstrar sua verdadeira benevolência,
Este Ele conduz mundo afora,
Deus quer lhe mostrar suas maravilhas
Em montanhas, florestas, em correntezas e campinas.

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Este poema foi publicado por Eichendorf em sua novela “Aus dem Leben eines Taugenichts”, que trata do filho sonhador de um moleiro que o pai manda sair mundo afora, sair de seu lugar de viver, caminhar por diferentes lugares, para que conheça o lado sério da vida.

Encontrei o poema, reproduzido na página 17 do livro do centenário de Santa Cruz. Lá ele foi interpretado como sendo uma tradição de nomadismo do povo germânico, presente nos imigrantes vindos a Santa Cruz: “A velha tradição germânica do nomadismo se repetia naqueles alemães, que, em 1849 e 1850, vinham se estabelecer na Colônia Santa Cruz”.

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O dicionário Aurélio define por “nômade” a “pessoa que não tem habitação fixa; itinerante.” “Nomadismo”, portanto, significa uma forma de vida de pessoas sem um lugar para chamar de seu. Pessoas que vagam de lugar em lugar sem neles promover melhorias, apenas se alimentam daquilo que a natureza lhes oferece.

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Podemos chamar os imigrantes alemães de nômades? Vejamos: desde o século 12 até o século 18, jovens costumavam sair de casa, caminhar para além das cercanias de seu lar; de lugar em lugar, iam exercitando na prática um ofício e, com isso, ampliavam seus horizontes de mundo. Essa experiência prática era condição sine qua non para depois serem admitidos numa “Meisterprüfung”, um exame de admissão, para serem mestres em um ofício/profissão. Enquanto os jovens estavam “auf der Walz ” – em suas caminhadas, além de seus aprendizados, iam conhecendo aldeias, cidades e, sob orientação de diferentes mestres, iam construindo e ampliando seus conhecimentos e saberes práticos.

Na Alemanha é comum jovens saírem de casa, se associarem a um projeto social no exterior, para vivenciarem na prática aquilo que, mais tarde, pretendem estudar numa universidade. Diversos jovens já vieram a Santa Cruz com essa finalidade. Com acolhimento na Unisc, fui professora de língua portuguesa e cultura local para eles. Também a antiga tradição de fazer longas caminhadas em contato com a natureza continua muito viva na Alemanha.

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Em finais de semana, é comum as famílias fazerem caminhadas com os filhos enquanto cantam e contemplam a natureza. Ou grupos de amigos, ou mesmo pessoas sozinhas costumam fazer longas caminhadas em contato com a natureza – wandern – fazer caminhadas. E, ao término desses passeios, fazer uma pausa numa Kaffeehaus para saborear um bom café com cuca ou num Biergarten, para saborear uma cerveja com Brezel. Eu mesma já vivenciei isso diversas vezes em solo alemão.

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Além disso, haveremos de considerar que o povo germânico cultiva uma expressão bem peculiar, conhecida desde o século 15 – HEIMAT. Nessa palavra germânica está imbricada o termo “heim/ lar” – ou seja, denomina o lugar onde se vive, onde a gente se sente em casa. Concluindo: nômades não se fixam, não constroem um lugar, para se sentirem em casa. Entendo os imigrantes como um povo com longa tradição de sair mundo a fora, para ampliar seus horizontes. Acredito que essa tradição, parte da alma germânica, deve lhes ter facilitado, em certa medida, a tomada de decisão para emigrar e vir construir aqui uma nova Heimat.

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