Imagine poder visitar uma vila germânica típica do século 19, com construções feitas com a técnica enxaimel e abertas para entrada nos ambientes internos. Isso é possível a pouco mais de 60 quilômetros de Santa Cruz do Sul, no Deutsche Kolonie Park, o Parque Histórico de Lajeado. O local foi idealizado no fim dos anos 1990 pelo então secretário de Cultura, Waldemar Richter, que teve a ideia após visitar dezenas de localidades do interior dos municípios do Vale do Taquari para realizar o desfile em comemoração ao centenário de Lajeado.
Hoje, o local funciona como um grande espaço cultural a céu aberto, com acesso gratuito diariamente para todos os interessados. Além disso, sedia diversos eventos musicais, artísticos, gastronômicos, seminários, feiras e festivais relativos à cultura e ao turismo.
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Já serviu também como cidade cenográfica, onde foram gravadas diversas cenas do filme A Paixão de Jacobina. Dirigido por Fábio Barreto e lançado em 2002, o longa contou a história de Jacobina Mentz Maurer e a revolta dos Muckers.
No início da década de 1990, enquanto era vereador de Lajeado, Waldemar Richter recebeu a tarefa de organizar um desfile histórico alusivo ao centenário do município, que seria comemorado em janeiro de 1991. Para tanto, ele visitou dezenas de comunidades no interior dos municípios de Teutônia, Forquetinha, Santa Clara do Sul, Lajeado e muitos outros. Em suas andanças, identificou muitas casas construídas com a técnica enxaimel e que estavam abandonadas, algumas em estado avançado de deterioração.
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Durante as visitas, mais de 200 edificações foram fotografadas. “Eu via com frequência alguma construção desaparecer e ficava pensando o que poderia fazer a respeito. Havia casas que estavam desabitadas há mais de 20 anos”, comenta. Por muitos anos, o Deutsche Kolonie Park permaneceu como um sonho para Richter, até o momento em que assumiu a Secretaria da Cultura, em 1997.
Após apresentar o projeto ao então prefeito Claudio Pedro Schumacher, o Parque Histórico saiu do papel e começou a ganhar forma. De volta aos interiores, Richter procurou as famílias proprietárias dessas residências para obter autorização para desmontá-las e transferi-las ao recém-criado espaço.
“Os colonos tinham uma forma muito organizada de construção, de modo que todas as tábuas eram numeradas em ordem com algarismos romanos”, recorda. Com essa facilidade inesperada e o auxílio de diversas empresas e instituições da região, que custearam as transferências e o restauro de todos os prédios, o sonho se tornou realidade.
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A inauguração do Parque Histórico de Lajeado ocorreu no dia 8 de novembro de 2002, em um espaço de 20 mil metros quadrados feito para retratar uma autêntica colônia alemã. Além das casas tradicionais, a infraestrutura conta com escola, moinho, ferraria e prensa de cana-de-açúcar.
Tudo foi construído genuinamente com a técnica enxaimel, pelos imigrantes alemães e por seus descendentes, entre os anos de 1860 e 1910. O processo de identificação, transferência e restauração ainda permitiu a realização de estudos aprofundados sobre os materiais e as técnicas empregados naquela época.
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Para quem sai de Santa Cruz do Sul, o Parque Histórico de Lajeado fica a 62 quilômetros de distância. Nesse trajeto, o motorista paga dois pedágios: R$ 4,10 na RSC-287, em Venâncio Aires, e R$ 6,30 na RSC-453, em Cruzeiro do Sul. O parque fica na Avenida Lourenço Mayer da Silva, no Bairro Altos do Parque, às margens da BR-386. Fica aberto todos os dias, das 8 horas às 17 horas nos dias úteis e das 9 horas às 17 horas em sábados, domingos e feriados. Informações podem ser obtidas pelo telefone (51) 3982 1242.
Antes de ser oficialmente inaugurado e aberto para o usufruto da população, o Parque Histórico de Lajeado foi cenário para algumas cenas do filme A Paixão de Jacobina. Dirigido por Fábio Barreto e lançado em setembro de 2002, o longa-metragem teve no elenco estrelas da teledramaturgia nacional, como Thiago Lacerda e Letícia Spiller, entre outros. Baseado no romance Videiras de Cristal, do escritor gaúcho Luiz Antônio de Assis Brasil, conta a história de Jacobina Mentz Maurer, líder de um movimento sociorreligioso centrado no atual município de Sapiranga.
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Os Muckers, como ficaram conhecidos os seguidores da seita, são uma parte importante da história da colonização germânica no Rio Grande do Sul. Segundo informações do Museu Histórico de São Leopoldo, eram colonos que ocupavam o chamado Morro Ferrabrás, na colônia Padre Eterno, área localizada entre Novo Hamburgo, Taquara e Gramado. Sem receber assistência por parte do Estado, essa população vivia uma situação de decadência social.
Esse cenário de abandono propiciou o surgimento de lideranças alternativas, como João Jorge Maurer e sua esposa, Jacobina Mentz Maurer, que interpretavam a Bíblia e eram vistos como curandeiros por parte da população da colônia. Assim, a comunidade passou a se organizar em torno do casal, que realizava cultos domésticos.
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Com o tempo, esses colonos passaram a retirar os filhos das escolas comunitárias e se afastaram da vida em sociedade. Tudo isso passou a gerar desconfiança e rejeição dos demais moradores. A partir de 1873, a relação entre os Muckers e a polícia de São Leopoldo ficou conturbada. João Maurer chegou a ficar preso por 45 dias.
Na sequência, tanto os Muckers como opositores passaram a incendiar residências do lado oposto, dando início a uma série de atentados. Em 28 de junho de 1874, sob o comando do coronel Genuíno Sampaio, o Exército atacou a casa dos Maurer, mas enfrentou resistência, em um combate que resultou em seis mortos e 30 feridos.
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Depois de diversas outras tentativas frustradas, em uma das quais o coronel Sampaio acabou morto, em 2 de agosto de 1874, sob o comando do capitão Santiago Dantas, o Exército atacou o reduto dos Muckers pela última vez. Com informações privilegiadas fornecidas por prisioneiros, os militares obtiveram sucesso e mataram 17 pessoas, entre elas Jacobina. João Maurer fugiu e nunca mais foi encontrado.
O episódio ganhou relevância por evidenciar as diferenças religiosas entre os colonos e a população local, bem como as inúmeras dificuldades enfrentadas pelos imigrantes germânicos no Brasil.
Enquanto amadurecia a ideia do Deutsche Kolonie Park, Waldemar Richter viajou à Alemanha para conhecer e se inspirar em empreendimentos existentes naquele país. Um deles foi o Rheinland-Pfälzisches Freilichtmusem, na cidade de Bad Sobernheim, na Região Sudoeste. “Fui recebido pelo diretor do parque em duas ocasiões para tomar um café e conhecer. Então, aproveitei para entender o funcionamento e por que eles mantêm um parque histórico se ainda possuem cidades inteiras intactas”, conta Richter.
Após o sinal verde do prefeito de Lajeado para o lançamento do projeto do Parque Histórico, o primeiro desafio enfrentado por Richter foi selecionar as 20 construções que seriam desmontadas e transferidas. “Tínhamos que procurar as famílias e ver quem queria doar; outros pretendiam vender. Algumas casas em boas condições tinham entraves com inventário. Foram várias situações”, relembra.
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Mesmo morando em Forquetinha, a poucos quilômetros do Parque Histórico de Lajeado, Richter buscou construir em sua casa miniaturas das edificações presentes no local. Tudo isso em nome do orgulho de seu trabalho e também para ter uma recordação. Entre 2019 e 2020, o escultor Iteno Gressler da Silva, de Campo Bom, construiu réplicas de todas as 20 casas e das demais estruturas.
“Pensei em fazer essas miniaturas porque o parque custou muito esforço, trabalho e investimento. Foram tantos quilômetros percorridos voluntariamente que merecem essa recordação”, afirma. Nos dias atuais, já afastado da vida política e dedicado às pesquisas e à produção literária, Waldemar Richter recebe com prazer em sua casa todos aqueles que buscam conhecer seu legado. Além da maquete, é possível conhecer ainda a biblioteca, a igreja e o museu construídos no mesmo terreno com o mesmo objetivo: preservar a história da colonização germânica no Vale do Taquari.
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