ads1
GAZ – Notícias de Santa Cruz do Sul e Região

“Saí para buscar meus filhos”, diz homem preso no domingo

Prisões ocorreram após fiscalização em campo de futebol e desacato às autoridades

A prisão em flagrante de três pessoas às 16h30 do último domingo, 7, em uma partida de futebol clandestina no Bairro Várzea, durante o período de lockdown imposto pela Prefeitura de Santa Cruz, segue repercutindo. Na segunda-feira, 8, Eberton Ricardo da Luz, de 37 anos, um dos presos na ocasião, procurou a redação da Gazeta do Sul para dar a sua versão dos fatos. Ele conta que foi atingido duas vezes por tiros de arma de choque, e teve a casa invadida por agentes da Guarda Municipal e policiais da Brigada Militar (BM).

“Tenho dois filhos menores, de 8 e 12 anos, que tinham ido para o campo. Quando deu todo o tumulto, eu saí atrás deles para buscá-los e trazê-los para casa. Um dos dois havia deixado o chinelo dele mais longe, e eu fui buscar. Nisso, um guarda municipal veio com uma moto pra cima de mim e perguntou se eu estava jogando futebol. Falei que não, que só tinha ido buscar o chinelo do meu filho. Aí ele me agarrou pela roupa e começou a me puxar, e rasgou toda minha camiseta”, contou Eberton.

Publicidade

LEIA MAIS: Partida de futebol clandestina acaba com três pessoas presas

Ele disse que não estava usando máscara de proteção no momento da abordagem. “Eu estava na hora errada e no lugar errado. Não tinha como estar de máscara, porque eu estava em casa, e quando gritaram que a polícia estava vindo eu saí correndo pra buscar meus filhos, nem lembrei de máscara.”

Publicidade

Eberton mostra os ferimentos ocasionados pela pistola | Foto: Arquivo Pessoal

O santa-cruzense conta que, no momento em que conseguiu sair, após sua camiseta ter sido arrancada, o guarda municipal deitou a motocicleta no chão e apontou uma pistola Spark para ele. “Ele mandou eu parar, falei que estava indo pra casa, não tinha feito nada de errado. Nisso, ele efetuou o primeiro disparo”, afirmou.

Segundo o homem, a irmã e o cunhado dele se aproximaram para ajudá-lo, e ele foi levado para dentro de casa, que fica a cerca de 40 metros do campo de futebol, situado na Rua Evaldo Bender. “Quando eu entrei, eles vieram atrás, arrebentaram a porta chutando, e começaram a invadir. O brigadiano me algemou, e eu, já sem reação por estar algemado, levei outro tiro de pistola de choque pelo guarda municipal”, relatou o homem de 37 anos.

Publicidade

LEIA MAIS: Dois são presos em aglomeração no Bairro Schulz

Publicidade

Dardos que atingiram Eberton | Foto: Arquivo Pessoal

“Minha casa ficou toda quebrada”
O tumulto continuou na Rua Evaldo Bender. Segundo Eberton Ricardo da Luz, o cunhado, de 32 anos, também foi algemado pelos policiais por ter interferido. Ainda de acordo com ele, devido a empurrões ocorridos dentro da residência, a irmã, de 32 anos, que também foi presa pelos policiais em um momento posterior, ficou machucada. O trio foi encaminhado à Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA), onde foi enquadrado pelos crimes de lesão corporal, desacato, desobediência e resistência, sendo liberado mais tarde.

Embora tenha sido levado ao hospital antes de ser encaminhado à DPPA, em procedimento de praxe nas prisões feitas por agentes de segurança, Eberton contou que, em razão da dor, ele próprio retirou os dardos metálicos que foram descarregados pela pistola de choque em seu corpo, na altura do abdômen. “Eu tenho oito filhos, pensa no desespero deles. Minha casa ficou toda quebrada depois que invadiram. Na delegacia, nem sequer deixaram dar a nossa versão dos fatos, porque, segundo eles, nós só poderíamos falar com a presença de advogado.”

Publicidade

LEIA MAIS: Fiscalização abordou 329 pessoas e realizou 3 prisões em flagrante

Publicidade

Responsável pela DPPA, o delegado Paulo César Schirrmann esclareceu que as três pessoas presas em flagrante preferiram não se manifestar no local, somente em juízo, e assinaram um documento nesses termos. “Instaurei um termo circunstanciado, que fica na DPPA e será remetido ao Poder Judiciário nos próximos dias”, afirmou Schirrmann. Em torno de 20 pessoas estavam junto ao campo de futebol no momento da abordagem. A maioria delas correu para uma área de mata, que fica nas proximidades do local.

“Me perguntaram por que eu não corri, que eu deveria ter corrido, igual aos outros. Eu disse que não tinha corrido porque não tinha feito nada de errado, não devia nada, só tinha ido buscar meus filhos. Já não posso trabalhar por causa da pandemia. A gente luta pra ter um pouco de alimento, o resto de comida que tinha viraram tudo, eu parecia um assassino que estavam atrás”, afirmou Eberton, que trabalha com pinturas e mora no bairro junto da esposa e oito filhos.

Publicidade
Publicidade

© 2021 Gazeta