Quatro horas da manhã de domingo. Chove. Devagar. Gota após gota. Unindo céus e terras em umidades virtuosas. Respeitosamente. Do jeito que Krenak percebe a natureza. Talvez da forma como Bento Espinosa (1632-1677) a compreendia. Para o filósofo de Amsterdã, excomungado por suas ideias, tudo o que existe é constituído por uma única substância, em que Deus e Natureza sintonizam imanência em processo e no propósito.

Por certo, algo próximo do pensamento de Einstein (1879-1955), que proclamava que seu Deus era o de Espinosa, no sentido de que a divindade vive em cada um de nós, na flora, na fauna, nos vales e montanhas, nas águas e nos ares. Também o confrade Luiz Coronel, da Academia Rio-Grandense de Letras (ARL), reconhece no universo o corpo de Deus, ao modo de Espinosa e Einstein. Pensadores e cientistas, a exemplo de Chardin (1881-1955) e Rambo (1906-1961), não desconstituem a sacralidade.

Sacralidade entoada por Hermann Hesse (1877-1962) na leitura da confreira Lissi Bender observando as árvores; no plantio de centenas de espécies arbóreas, cuidadosamente cultivadas pelo presidente de nossa Academia de Letras, Romar Beling (e também por seu pai, Laurindo; por sua mãe, Lira; e pela Daniela); na paixão de Josiane Rovedder pela natureza; no ativismo naturalista de Tatiana Straatmann; na genuína preocupação com as árvores, também no ambiente urbano, bem expressa por Rose Romero, Carlos Winterle e tantos mais; na percepção de Airton Ortiz, presidente da ARL, de que são as árvores que proporcionam a melhor sombra; na canção Que mundo maravilhoso, que, na voz de Louis Armstrong (1901-1971), louva o verde das árvores, e no incomensurável amor de Francisco de Assis (1182-1226) pelos irmãos Sol, Lua e todas as criaturas.

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Ailton Krenak, ambientalista, filósofo e escritor, alcançou a Academia Brasileira de Letras. Não chegou sozinho. A natureza o substancia. A mesma natureza, uníssona em suas diversificadas manifestações, igualmente nos abraça. Não é por acaso ou por simples oportunidade que em diversos pontos do Cinturão Verde são praticados atos espiritualizados. Muito menos casual é a universalidade evolutiva que se consagra em cada criatura, seja rochosa, vegetal ou animal. Rochas respiram e crescem, plantas e animais unem-se em simbiose colaborativa; enfim, a coexistencialidade se faz em fluxo, por vezes evidente; por outras, inimaginável. A sagrada natureza sacraliza nossa própria coexistência, o que pode ser experienciado por cada um de nós. Respiramos o ar de Ailton Alves Lacerda Krenak. Como ele, originário, ativista, simples e sábio, todos podemos ser, com nossos equívocos e virtudes.

Datas deste mês de abril

  • Dia 10: foram empossados, pela prefeita Helena Hermany, os conselheiros de Gestão Socioambiental, atendendo ao disposto na Lei nº 9.597, de 12 de março de 2024. O Conselho, auxiliar da administração pública, tem “como objetivo examinar, esclarecer e propor ações relacionadas ao Cinturão Verde e outros assuntos de relevância relacionados com o meio ambiente e com o futuro de Santa Cruz do Sul”.
  • Também no dia 10, pela manhã, na Escola Educar-se, aconteceram falas integradoras acerca do Cinturão Verde e do futuro de uma cidade socioambiental.
  • Dia 19, às 9 horas, no auditório da PGM, está prevista a apresentação, pelas secretárias municipais do Meio Ambiente, Simone Schneider, e do Planejamento, Karianne Pacheco, e suas equipes, do “Estado da Arte”, à luz dos atuais conhecimentos e conteúdos sobre o meio físico (geomorfologia, geologia, drenagem, clima, solos), biológico (flora, fauna, habitats), socioeconômico e situação fundiária do território Cinturão Verde.

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    Vale lembrar que os eventos e as iniciativas que envolvem o Movimento pelo Cinturão Verde são públicos. Será uma grande oportunidade para o aprimoramento e o acréscimo de novas informações, que podem vir de você. A necessidade de ações protetivas e de compensação, no contexto socioambiental da cidade e da região, ao tempo em que urgem, pressupõem sólido conhecimento e consenso colaborativo.

Ricardo Gais

Natural de Quarta Linha Nova Baixa, interior de Santa Cruz do Sul, Ricardo Luís Gais tem 26 anos. Antes de trabalhar na cidade, ajudou na colheita do tabaco da família. Seu primeiro emprego foi como recepcionista no Soder Hotel (2016-2019). Depois atuou como repositor de supermercado no Super Alegria (2019-2020). Entrou no ramo da comunicação em 2020. Em 2021, recebeu o prêmio Adjori/RS de Jornalismo - Menção Honrosa terceiro lugar - na categoria reportagem. Desde março de 2023, atua como jornalista multimídia na Gazeta Grupo de Comunicações, em Santa Cruz. Ricardo concluiu o Ensino Médio na Escola Estadual Ernesto Alves de Oliveira (2016) e ingressou no curso de Jornalismo em 2017/02 na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). Em 2022, migrou para o curso de Jornalismo EAD, no Centro Universitário Internacional (Uninter). A previsão de conclusão do curso é para o primeiro semestre de 2025.

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