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Ruídos ensurdecedores

Sentir-se ferido, fragilizado diante de uma grave ameaça, e não encontrar ajuda nem compreensão de ninguém: eis uma experiência pela qual não gostaríamos de passar. As dificuldades pesam mais quando não são compartilhadas, a dor solitária é mais aguda. É o que constata o escritor Louis, protagonista de É Apenas o Fim do Mundo, filme de 2016. Após 12 anos longe da mãe e irmãos, que vivem no interior da França, ele decide reencontrá-los para dar uma notícia importante.

Só que velhos rancores entre todos, hostilidades e mágoas nunca resolvidas tornam a reunião familiar um tormento, com cenas até violentas. Assim, torna-se impossível a Louis dizer o que já sabemos desde o início: ele vai morrer, tem uma doença terminal. Veio apenas buscar uma reconciliação que se mostra inviável.

E se os ruídos podem ser ensurdecedores entre pessoas do mesmo sangue, o que dizer de estranhos que não têm em comum nem a origem social? Em outro filme, este brasileiro e intitulado Praça Paris, de 2017, uma psicanalista atende semanalmente, em um programa de serviço comunitário, Glória, que trabalha como ascensorista na Universidade Estadual do Rio de Janeiro. A relação entre psicólogo e paciente pressupõe a famosa empatia, tentar colocar-se no lugar do outro para entendê-lo; mas até que ponto alguém de classe média-alta consegue “se ver” na pele de quem habita a parte de baixo da pirâmide socioeconômica? Camila, a psicóloga, tem dificuldade e até medo de compreender o mundo de Glória, vítima de violência doméstica, da criminalidade nas ruas e da própria polícia.

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E quantos são capazes de ajudar uma criança de 11 anos, grávida em decorrência de um estupro? Como a própria menina se faz entender perante uma autoridade convicta de que ela tem condições de ser mãe? O que ela pôde absorver, naquela audiência, das perguntas da juíza que lhe negou um aborto permitido por lei?

As pessoas que rejeitam o aborto em qualquer contexto têm sua posição sobre o caso de Santa Catarina. Mas é justo pôr em risco a integridade física de uma criança, cujo corpo nem está desenvolvido para a gestação? Sim, a vida acima de tudo, mas a dela vale menos? Quem se coloca no seu lugar?

VEJA MAIS TEXTOS DO COLUNISTA LUÍS FERNANDO FERREIRA

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Naiara Silveira

Jornalista formada pela Universidade de Santa Cruz do Sul em 2019, atuo no Portal Gaz desde 2016, tendo passado pelos cargos de estagiária, repórter e, mais recentemente, editora multimídia. Pós-graduada em Produção de Conteúdo e Análise de Mídias Digitais, tenho afinidade com criação de conteúdo para redes sociais, planejamento digital e copywriting. Além disso, tive a oportunidade de desenvolver habilidades nas mais diversas áreas ao longo da carreira, como produção de textos variados, locução, apresentação em vídeo (ao vivo e gravado), edição de imagens e vídeos, produção (bastidores), entre outras.

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