Vivemos literalmente a era do barulho, da sonzeira, da gritaria. Em muitos ambientes, o silêncio recebe cartão vermelho porque se torna incômodo, insuportável. Impõe-se preencher esse oco intrometido, inútil, capaz até de fazer com que nos encontremos conosco mesmos. Curtir o silêncio da noite, de um parque, de um sítio bucólico, de uma rua deserta, tudo isso não cabe nos projetos de vida modernos. Tem que haver agito, senão a graça fenece, nada tem sentido.
Dá para iniciar estas observações por vários ângulos. Opto por lugares como restaurantes e salões ou espaços de festa. Os frequentadores chegam, se acomodam e entabulam uma conversa agradável, bem civilizada. Sem demora, porém, abrem-se os microfones, acionam-se os aparelhos, puxam-se os instrumentos e então encerrou-se o diálogo. Ou se grita até machucar as cordas vocais, ou se fica em silêncio, deixando aos ouvidos a tarefa de suportar.
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Vamos às ruas. Não sei se é impressão minha ou os carros infestados de “som” diminuíram. Há muitos, ainda, e seus proprietários ou condutores não querem saber, metem decibéis insuportáveis janelas afora, num aparente manifesto de autoafirmação. Se gostam tanto do seu repertório, bem que poderiam subir os vidros e degustar sozinhos a sua arte. Mas, nem em dia de chuva ou de frio intenso fazem isso. É preciso exibir o seu status. Com certeza, há casos em que a parafernália de som vale mais do que os rebaixados veículos que pilotam.
Até hoje não vi sequer um desses carros tunados ser dirigido por mulheres. Penso que há um recado nisso. É preciso preservar a serenidade, a sensibilidade afetiva, o respeito às pessoas com as quais convivem. Elas sabem o quanto essas atitudes verdadeiramente agressivas machucam os outros, são indesejadas, caracterizam quem pouco se importa com o seu entorno, para quem a prevalência é demonstrar o seu poder.
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Com a chegada do verão, a febre sobe. Hoje, já existe uma atuação mais severa das autoridades, mas há não muito tempo apreciar a tranquilidade da praia, por exemplo, ouvir o som do mar, observar em silêncio seus sincronizados movimentos era praticamente impossível. Dezenas de carros, lado a lado, disparavam seus estridentes rugidos, inviabilizando o direito à paz e ao descanso de quem ali se encontrava. Sempre imaginei que, se tanto amam essa exibição insana, por que não buscam uma praia deserta? Não o fazem porque precisam de público para avaliar o seu poderio, avalizar sua cultura.
Outro ruído em franca ascensão é o das descargas abertas de motos que circulam pela cidade. Impressiona como não existe fiscalização para isso. Houve um tempo em que, na hora do licenciamento (acho que era isso), todos os veículos passavam por inspeção. Qualquer irregularidade ou alteração na versão original bloqueava a liberação até que o problema se resolvesse. Compreendo que ter um fiscal em cada rua seja algo inviável. Então, que prevaleça a boa educação de todos os condutores.
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Sei que é um pouco amarga esta reflexão, porque há muitas pessoas que não se incomodam com isso. Quando os foguetes foram proibidos em nossa cidade, não aprovei. Hoje, não me fazem falta e compreendo quão benéfica foi essa decisão. A exemplo de carros turbinados de ruídos, os foguetes trazem satisfação aos seus usuários, não se importando com o sofrimento que proporcionam aos outros.
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