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RSC-287: a conta chegou

Tenho uma aposta a fazer. Não sei como vou pagar, mas confio que não vou perder. Nos próximos dois, cinco ou dez anos não vai se falar de assunto algum que se sobreponha no jornal, no rádio, no portal, em qualquer plataforma, às obras de recuperação e duplicação da RSC-287. Por um simples motivo: o impacto que essas intervenções impõem à vida de milhares de pessoas todos os dias.

Quarenta anos atrás, final de uma sexta-feira, embarquei no ônibus para participar de um congresso em Santa Maria. Chovia e a estrada, ainda não pavimentada, era um poço de lama. Levamos mais de três horas para chegar ao destino.

Depois disso, tudo mudou rapidamente. Se a memória não me trair, foi um financiamento do Banco Mundial que oxigenou as finanças do Estado para que se executasse o asfaltamento da principal ligação do centro do Estado com a região metropolitana.

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Por muitos anos esta rodovia cumpriu o seu papel. Mas os tempos mudaram, o fluxo de veículos se multiplicou, os caminhões ganharam envergadura e alguns rodados a mais, viraram enormes baús e pesados bitrens e a estrada continuou a mesma. Um tapa-buracos aqui, uma camadinha de asfalto ali, e tudo parecia de acordo com os padrões de uma rodovia pedagiada.

Só que não. A conta chegou.

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A região abraçou como prioritária a duplicação dessa estrada. A obra está projetada, mas ainda nem começou. E já tumultua, por conta do contrato de concessão, a vida das pessoas todos os dias, porque está estabelecido que a concessionária precisa antes recuperar a pista existente. E isso implica em escavar o pavimento para repor material que corrija e dê consistência à estrutura da rodovia.

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É diferente de uma operação tapa-buracos, precisamos entender. Intervenção na estrutura não permite liberação de pista após o término do expediente. E o incômodo pare e siga se estende durante a noite e, inclusive, nos fins de semana, quando máquinas, caminhões e cones se alinham ao lado da rodovia parcialmente bloqueada, como a dizer aos motoristas exaustos e estressados pelo atraso: “não nos perturbem!”

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Não tenho espaço aqui para dar voz a tantos segmentos afetados pelas intervenções. Às transportadoras e aos autônomos que não conseguem cumprir prazos de entrega; às empresas de ônibus e aos particulares que amargam prejuízos e insatisfação de usuários por conta de atrasos que variam de uma a duas horas no trajeto a Porto Alegre; aos estudantes que não conseguem chegar a tempo de responder chamada na universidade e a outros que até já desistiram de se aventurar nesse insólito desafio.

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Tudo isso ainda sem falar nos milhares de pessoas que transitam pela rodovia todos os dias para trabalhar, para uma consulta, uma audiência, ou um simples passeio. E como se quatro décadas não tivessem passado, levam uma ou duas horas a mais do que o previsto para chegar ao destino.

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O que fazer? Me socorri junto a técnicos, especialistas na área, para tentar achar uma luz. O que ouvi não é animador. A concessão feita pelo Estado prevê um cronograma de recuperação (que está sendo executado) e posterior duplicação da rodovia.

O que isso significa? “Antes de ficar bom, vai piorar!” – disse-me um expert no assunto. Mas emendou: não precisa ser com tanto desconforto e sofrimento. Um planejamento bem-feito e uma gestão inteligente amenizam em muito o impacto sobre os usuários da rodovia.

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Regras básicas: concentrar as obras em pontos específicos e agilizar ao máximo a execução. As intervenções no mesmo trecho não podem durar meses, como vem acontecendo. Precisam ser rápidas e eficientes, ensinou. De preferência, que sejam implementadas à noite e até em fins de semana que não coincidam com o término de algum feriadão. Vai custar mais caro? Vai. Mas isso não é problema do usuário da estrada. É ônus de quem assumiu a concessão e direito de quem paga a conta.

É assim que se procede em países europeus. E é por isso que nos indignamos por ficarmos 40 minutos, uma hora ou mais parados sem opção, prensados sobre a pista entre centenas de veículos, à espera de um alento. Quando finalmente conseguimos avançar a trote, não raro vem a derradeira decepção: nenhum movimento, nenhuma equipe trabalhando na pista obstruída. Nos poupem!

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Guilherme Andriolo

Nascido em 2005 em Santa Cruz do Sul, ingressou como estagiário no Portal Gaz logo no primeiro semestre de faculdade e desde então auxilia na produção de conteúdos multimídia.

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Guilherme Andriolo

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