Regina Duarte divulgou fake news. Em sua conta no Instagram, ela compartilhou um vídeo falso do deputado português André Ventura e criticou o governo brasileiro por, segundo ambos, não ter aceitado a ajuda humanitária dos portugueses para o Rio Grande do Sul. Conforme o próprio Instagram a notícia é inverídica e, por isso, ao material da atriz foi anexada a seguinte mensagem: “Informação falsa. Checada por verificadores de fatos independentes.” Regina não pediu desculpas. Não alegou, como às vezes acontece nesses casos, ter sido também vítima. Ela sequer retirou a postagem.
Há um limite para o ódio? Parece que não, mas deveria. Ao menos em tragédias dessa magnitude, era de se esperar bom senso. Que nada. Para além dos discursos edificantes e da adesão às campanhas de solidariedade, existem aqueles que fazem qualquer coisa para ver o circo pegar fogo. A meta é, invariavelmente, prejudicar adversários, sejam eles reais ou imaginários. Mesmo que isso agrave ainda mais a situação. Mesmo que isso reforce o obscurantismo que assola o País. O que se lê de asneiras sobre as enchentes nas redes sociais é quase tão assustador quanto as águas.
Enlouquecemos todos?
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É tudo tão bem feito que qualquer pessoa pode ser enganada. Eu já fui. Você também pode ter sido. E para completar a confusão geral, tendemos a achar que as notícias falsas são sempre obra de nossos adversários. Só o “outro lado” produz e dissemina as fakes. Eu e os amigos que pensam como eu estamos do “lado honesto”. Ah, tá.
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Viver na fantasia de que pertencemos à parcela do bem, e que só os do outro time fazem maldades, é meio infantil. E também um tanto cômodo. E ainda assim não é o pior. O pior é saber que estamos diante de uma inverdade e, sem nenhum sofrimento moral, mandar ela adiante com um simples “enviar”. Deliberadamente, intencionalmente.
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Como essas pessoas dormem? A possibilidade de suas ações prejudicarem os esforços pela reconstrução do Estado não pesa em suas consciências? Ou elas veem somente os ganhos substanciais que o desastre pode lhes trazer no futuro? Não por acaso, temos ouvido uma estranha defesa da liberdade de expressão. “Tenho o direito de colocar o que quiser em meu perfil.”
Esse discurso manipulador com fachada libertária é mais um engodo que precisamos administrar nesses dias sombrios. Como se todas as histórias estapafúrdias não passassem de um método político, uma forma aceitável de disputar os votos daqui a algumas semanas. Eu discordo. A todos deve ser permitido professar suas posições, ideológicas ou não. Mas o que se está fazendo, ante a dimensão da catástrofe, beira à perversão. É preciso muita maldade, falta total de empatia para alimentar sem culpa a indústria da desinformação. E, tristeza das tristezas, eles não param.
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