Os principais jornais do país deram a posse de Rosa Weber na Presidência do Supremo na primeira página. De uns anos para cá, a troca de presidente do Supremo tem virado notícia. No século passado, era limitada a uma nota em página interna. Talvez tenha começado essa exposição quando o presidente Marco Aurélio mandou instalar a TV Justiça, para divulgar os julgamentos em plenário.
Cresceu quando Joaquim Barbosa assumiu a presidência e participou de memoráveis debates sobre o mensalão. Ele renunciou de repente e até hoje ninguém sabe por quê. Como presidente do Supremo, Lewandowski entrou para a história ao presidir o julgamento de Dilma, quando foi rasgado ao meio o parágrafo único do artigo 52, ficando a condenada elegível, e o povo de Minas teve que completar a condenação.
Depois veio Carmen Lúcia, anunciando aos quatro ventos, no dia da posse, que “cala-boca já morreu”. Mal imaginava que mais tarde um cala-boca forte partiria do Tribunal guardião das liberdades de pensamento e de expressão. Toffoli marcou a presidência criando um inquérito sem Ministério Público, com base num artigo do Regimento Interno, derrogado pela Constituição.
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Depois veio Luiz Fux, cheio de boas intenções. No discurso de posse, reconhecia as críticas de “judicialização da política” e “ativismo judicial”. Diagnosticou que o Supremo estava exposto “a um protagonismo deletério” – e conclamou os pares “a darmos um basta na judicialização vulgar e epidêmica de temas e conflitos em que a decisão política deva reinar”.
Fux ficou dois anos na presidência vendo o protagonismo deletério só aumentar. Agora entra Rosa Weber, reafirmando na posse que o Judiciário não age ex officio. Sendo assim, como irá conviver com um inquérito interno que desconhece o devido processo legal? E assume em tempos de quebra do sistema acusatório: a acusação, a PGR, não vê crime mas o juiz Moraes não arquiva o inquérito. O juiz continua polícia e promotor – algo impossível em Direito.
Rosa Weber é primeiro lugar no vestibular e em todo curso de Direito da Federal de Porto Alegre. Como vice de Fux, vinha revezando com ele o encargo de administrar o Supremo. Encargo que não representa autoridade sobre os demais ministros. São onze cabeças, onze supremos. Pode conclamar aos pares, como fez Fux, mas não pode obrigar. Lembro do tempo em que ministros do Supremo mandavam para o arquivo as questiúnculas políticas que os partidos sem força no Legislativo enviavam ao Tribunal. Terá ela consciência dos desvios?
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No discurso de posse, o que fez foi defender a autonomia do Supremo, embora tenha mencionado “excessos de poder e comportamentos desviantes”, mas sem se referir ao próprio Tribunal. O mais conveniente resgate para o Supremo seria o autorresgate. Seria preciso dominar vaidades e egos.
E aplacar a tentação de fazer leis, quando os legisladores decidem não fazer. Rosa Weber disse que o Judiciário dá a última palavra, até para conter as maiorias parlamentares. É bom lembrar que o Supremo não pode inventar leis; se os legisladores, com mandato popular, não quiserem legislar sobre o tema. E muito menos agir como superiores à própria Constituição.
Rosa Weber só terá um ano, porque será aposentada em 2 de outubro do ano que vem. Um ano para aplicar as boas intenções dela em relação à democracia, às liberdades, ao direito e ao Judiciário. Ficará rósea a imagem do Supremo?
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