ATUALIZAÇÃO: Romeu Neumann: “Declinei de um procedimento necessário de cautela, checar a autenticidade da afirmação”
Nosso presidente reiterou, dias atrás, uma posição que já vem defendendo faz tempo. “Que mal tem em um adolescente se apropriar de um celular (que não é dele, obviamente) para – sei lá! – talvez comprar umas cervejinhas ou se sentir inserido em condições mais igualitárias em seu meio.” Mais ou menos assim: uma jovem está esperando o ônibus depois de uma longa jornada de trabalho, avisando a mãe que está tudo bem e que já vai chegar, quando passa um malandro correndo, a joga no chão, e foge com seu celular.
Digamos que ela tem três, seis, talvez dez parcelas do celular para pagar. E ela vai ter que trabalhar – e se expor todos os dias, nas ruas, nos ônibus – para honrar seu compromisso. Quanto ao malandro? Deixa pra lá! Não vai faltar gente que faça coro: “É uma vítima! Temos que humanizar estas situações e não punir estes coitados.” Muito bem!
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Eu desafio desde o mais alto mandatário do País até o mais humilde funcionário do Palácio da Alvorada a declararem publicamente que não se importam que lhes furtem os chinelos, os sapatos, as gravatas, o celular, seja o que for. Digam – eu quero ouvir! – que temos que ser “mais humanizados”, mais condescendentes com os que nos roubam.
Digam isso, em forma de consolo, ao jovem casal que recém comprou o básico para sua moradia, parcelando cotas além do alcance do orçamento doméstico e que, ao final de uma jornada extenuante de trabalho, encontra seu lar devassado, seus pertences ainda não pagos subtraídos por marginais (ops, desculpem), vítimas da sociedade.
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Digam isso ao agricultor que plantou, cuidou da sua lavoura durante meses, rezou pedindo proteção quando as tempestades fustigavam suas plantas indefesas e que, ao final, com a safra no galpão, acordou atordoado pelo pesadelo de ver seu trabalho, e de sua família, levado embora a reboque de safados impunes, sumariamente absolvidos pelo sistema que nos governa.
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Aliás, diferente das excelências – são tantos ministérios que faltam aviões disponíveis na FAB – que se esbaldam por praias paradisíacas ou redutos eleitorais, muitos trabalhadores que conheço preferiram ficar em casa durante o recesso do Carnaval. Sabem por quê? Para tentar proteger seu modesto patrimônio.
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Juro, não queria mais falar das nossas agruras, até porque é inútil. Nada vai mudar, nada vamos recuperar e ninguém vai ser punido. Roçadeiras, aparelhos de ar-condicionado, compressor de ar, ventiladores, botijões de gás, colchões, televisão, aparelho de som, lustres, ferramentas, uma lista interminável de perdas que fazem a gente se sentir idiota quando um governante pisoteia a honra de gente trabalhadora e despreza o direito constitucional de sermos donos, pelo menos isso, do que conquistamos e construímos com nosso trabalho.
Quem sabe chegará o dia em que alguém se preocupe em humanizar o trabalho e não o crime; em dar valor à honradez ao invés de pedir likes para a pilantragem. Se os que nos governam tivessem um tempinho, por certo veriam que tem muita gente honesta, batalhadora e honrada que não se rende a uma narrativa, mas vive por uma convicção.
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