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Romeu Neumann: “46 anos depois”

Foi num reencontro casual com um amigo que há muito não via que me dei conta de que este início de novembro me remetia a algum momento importante do passado. Claro, lembrei que foi depois de um fim de semana estendido pelo feriado como esse que me apresentei para meu primeiro dia de trabalho na Gazeta do Sul.

Gravei essa data porque 1978 era o ano do centenário de Santa Cruz do Sul e da 3ª Festa Nacional do Fumo (Fenaf). Estava começando minha trajetória profissional, ainda inseguro quanto ao meu futuro no mercado de trabalho, quando recebi o convite do André Jungblut para integrar a equipe da Gazeta.
Me esbaldei – nem devia contar isso – e, com todo o vigor da juventude, passamos o feriadão na praia e nos refestelamos até o último mergulho para, enfim, já tarde da noite, tomarmos o rumo de casa. A viagem de volta poderia ter sido roteiro para um filme de suspense, aventura e muita adrenalina. Mas chegamos inteiros, quase 5 horas da manhã, dia amanhecendo.

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Nem deu tempo de dormir. Me estiquei por uns instantes no sofá, tomei um banho, alguns goles de café, e fui para meu primeiro dia de trabalho na empresa que marcaria em definitivo a minha vida. Para ser sincero, não lembro de pormenores das horas que se sucederam. Nem dos dias seguintes. Mas tenho muito presente na memória o desafio que estabeleci para mim mesmo: “eu preciso aproveitar esta oportunidade e fazer meu futuro nesta empresa”, repetia insistente e reiteradamente.

E assim se passaram quatro décadas de constante aprendizado, de promoção profissional e de realização pessoal. Até hoje tenho que me conter para não abusar de visitas aos amigos e ao ambiente de trabalho que frequentei por tanto tempo.

Isso remete a uma inevitável constatação: a forma como a nova força de trabalho se posiciona frente ao seu futuro e sua ambição profissional é totalmente diferente da visão que os da nossa geração depositamos sobre a mesa dos que nos acolheram com seu voto de confiança. Para muitos de nós, os padrões de sucesso profissional consistiam em “dar certo”, crescer, sermos promovidos e, de preferência, nos aposentarmos na mesma empresa.

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Isso foi ruim? Penso que não. O foco nos fez crescer e a cadeira que um dia ambicionamos na hierarquia da empresa serviu de motivação e energia na dura luta do dia a dia. A verdade é que o mundo mudou e o que para nós era paradigma de sucesso – estabilidade, segurança e crescimento profissional dentro da empresa que nos acolheu – hoje se traduz em ousadia, competitividade, ambição. No mesmo ambiente empresarial, ao lado do concorrente ou em um projeto autoral, aposta na intuição e na prospecção do mercado.

Quatro décadas de experiência no mercado me credenciam, se me permitem, a emitir um juízo: diploma, currículo, talento, ambição são credenciais importantes. Mas não se sobrepõem à pessoa – seus valores, seu caráter, sua honradez. São coisas que não se ensina e não se aprende.
É o que se é. O resto se conquista.

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Guilherme Bica

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Guilherme Bica

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