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DIRETO DA REDAÇÃO

Romar Beling: “Vilela pode ter saído da vida, mas viverá para sempre como a lenda que é”

Velório de Fernando Vilela inicia na tarde deste domingo

A notícia da morte de Fernando Vilela Monteiro, para todos nós simplesmente o Vilela, assim, com a familiaridade e a inexplicável intimidade dos que se conhecem desde sempre, e sempre se conheceram, foi um grande baque para a comunidade de Santa Cruz do Sul e da região, tão logo se espalhou na noite de sábado. O Vilela era uma lenda, com seu jeito sempre irreverente, mas na mesma medida determinado a empreender projetos, muitos deles grandes projetos. Um ser de coração imenso, profundamente devotado a sua família e seus amigos, e orgulhoso deles.

Quis o destino que na reta final de 2023 ele idealizasse (e foi ele quem o idealizou) um novo espaço para dar visibilidade a ações e projetos voltados à terceira idade, ou à maturidade ativa, público para o qual já direcionara sua energia e empenho em outras iniciativas. Ao longo dos dias, aparecia na Redação da Gazeta, conversava com um e com outro, insistia comigo (inclusive em muitas ligações por telefone), buscava convencer a todos que uma coluna devia ser criada para o fim de divulgar tudo que se relacionasse a essa faixa da população.

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Depois de sucessivas reuniões, consensuou-se que, efetivamente, essa coluna seria concretizada, mas faria mais sentido lançá-la tão logo se chegasse a 2024, e não promover a estreia dela na reta final do ano, quando a população estaria mais ocupada com os preparativos das festas. No final, assim ocorreu, e a coluna “Longevidade”, tão ansiosamente acalentada por Vilela, e em favor da qual mobilizara tanta energia, estreou na edição da Gazeta do Sul da segunda-feira passada.

Como era de se esperar, nessa data o Vilela fez um périplo de agradecimentos pela Redação, sorriso radiante estampado no rosto, de tal forma estava entusiasmado por ver concretizado esse espaço, integralmente voltado aos temas da maturidade ativa. Durante a semana, mais vezes visitou a Redação. Em todas, vinha conversar comigo. Numa delas, estava eu em meio à edição de uma página. Postou-se na minha frente e, em alto e bom som, como era de seu feitio, mais uma vez agradeceu efusivamente por termos levado a sério a ideia dele e a proposta de que essa seção fosse criada no jornal.

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Mesmo que outros possam ter intuído ou compreendido que os leitores da terceira idade mereciam seção voltada a seus interesses, essa coluna de fato é obra do Vilela. Ele foi o mentor dela. Nessa última visita à Redação, cumprimentou-me e encaminhou-se à mesa de outros colegas, falando com eles daquele jeito sempre bonachão dele, sem pedir licença, como se dissesse “eu sou o Vilela, e não tem essa de pedir licença!” – e não precisava mesmo.

Então o vi dirigindo-se para o corredor da porta que dá acesso às rádios, em passos curtos, lentos. Acompanhei fixamente a caminhada dele, já não com a agilidade de outros tempos, quando dava passadas enérgicas; abriu a porta, avançou, e a porta se fechou atrás dele. Foi a última imagem, o último vislumbre que tive dele. De uma lenda. Já era uma lenda quando avançou pelo corredor em direção às rádios. Eu é que não podia saber que seria a última vez que o veria com vida. E acabara de me cumprimentar, tão efusivamente, como dezenas de vezes fizera, e se despedira. Um último aperto de mãos. Para mim, Vilela pode ter saído da vida, mas viverá para sempre como a lenda que é.

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Uma lenda que se presentificou na nossa rotina na Gazeta há muitos, muitos anos, algo que se perde nas brumas do tempo. Desde o tempo em que mobilizava a todos com seu entusiasmo em torno do basquete, e da atividade física como um todo. Talvez nem todos tenham presente, mas os versos do canto de torcida “O Corinthians do Ary Vidal vai ser campeão nacional” têm a sua lavra. Da mesma forma, tantas, tantas outras iniciativas. Até chegar à seção “Longevidade”. Vilela de fato foi longevo; chegou aos 79 anos, quase octogenário.

Feliz da vida, leu a primeira coluna. Certamente poderia ter lido muitas, muitas colunas ao longo de meses e anos, e avançar ainda mais na maturidade que, no caso dele, sempre foi mesmo muito ativa. Mas o destino escreve de um jeito que a nenhum de nós é dado saber, prever ou intuir. Vilela empenhou-se em favor da seção chamada “Longevidade”, e ela se concretizou. Cabe agora aos seus demais parceiros na iniciativa tornar esse mesmo espaço longevo. Esse sem dúvida era o desejo dele.

Agora, cumpriu-se sua jornada entre nós, na Terra, portas terão sido calorosamente abertas para ele no céu. Já se pode imaginá-lo chegando, com aquele passo gingado e, cofiando o bigodão, apresentando-se: “Eu sou o Vilela!”. Ao que será acolhido com um sorriso aberto e a expressão: “Ora, ora, e quem não sabe quem tu és? Tu és uma lenda!”. Descansa em paz, querido companheiro da comunicação Vilela!

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