Romar Beling: ecos intensos que vem do passado

Parece que foi ontem, mas lá se foram 30 anos. Em junho de 1992, o Brasil sediou um dos mais importantes eventos de cunho ambiental, que se fixou no imaginário de todos os que na época puderam acompanhar os debates e seus desdobramentos. A 1ª Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, nomeada de Eco-92, transcendeu, e muito, aqueles dias, a ponto de seguir reverberando ainda na atualidade.

E não é para menos. A tomar por base temas e aspectos colocados na ordem do dia durante aquele evento, é de se perguntar por que não soubemos, enquanto nação e enquanto humanidade, levar exatamente a sério as advertências acerca da necessidade urgente de mudar a forma de se relacionar com os recursos naturais, com a natureza. Trinta anos depois, é provável que uma Eco-2022 resultaria em muito mais pavor do que os dados e índices apresentados no começo dos anos 90. Não é possível a ninguém ignorar que as alterações climáticas têm implicado em modificações igualmente drásticas na produção de alimentos e nas perspectivas de sobrevivência de inúmeras espécies, em particular a humana.

A Gazeta do Sul recupera as circunstâncias da realização da Eco-92 e ouve lideranças que dela participaram. É o caso do geólogo e ambientalista José Alberto Wenzel, colunista da Gazeta do Sul (seu artigo, aliás, circula nesta edição, na página 21). Por ter acompanhado os debates no Rio, Wenzel coteja o que então ouviu com a realidade que hoje nos cerca.

E, por falar em colunas, esta edição registra uma estreia: é a do bispo emérito de Bagé dom Gílio Felício, desde sua infância radicado em Santa Cruz do Sul, que se une ao time de articulistas da Gazeta. Por circunstâncias do destino, em sua primeira coluna, que pode ser lida na página 18, dom Gílio acaba por recordar de sua relação com dom Sinésio Bohn, bispo emérito de Santa Cruz do Sul, que faleceu na quinta-feira e foi sepultado nessa sexta-feira. É a memória sendo ativada em momentos que ficam na história da espiritualidade.

Passo seguinte, ao mencionarmos a estreia de dom Gílio, temos a satisfação de destacar a continuação da série Presença Negra, aos cuidados do colega jornalista (e colunista) Luís Fernando Ferreira. E ele resgata do passado uma passagem impressionante: da entrevista que o fundador e diretor da Gazeta do Sul, sr. Francisco José Frantz, fez pessoalmente com Tia Inácia, no Bom Jesus, no distante ano de 1954, quando o jornal recém tinha nove anos. O motivador? Tia Inácia, uma ex-escrava, estava em vias de completar… 129 anos! Isso mesmo. Não por acaso, seu nome hoje está integrado a um dicionário de seletas personalidades negras brasileiras que entraram para a história. Ela morreu dois anos após a entrevista (aos 131). Mas isso quem conta com mais detalhes é Luís Fernando, na página 38.

Em todas essas indicações, fica inerente a constatação: o papel de um jornal, a par de registrar os fatos contemporâneos, é também preservar a memória. Boa leitura, e bom final de semana!

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