Uma menina em vias de completar 12 anos, que reside com sua família em uma propriedade rural, precisa aprender a lidar com a descoberta de que seu irmão mais novo, em tratamento de saúde, é terminal. Esse é o elemento central em torno do qual se estrutura a narrativa em uma das mais surpreendentes (e vigorosas) estreias literárias em realidade de Rio Grande do Sul. O romance Dias de se fazer silêncio, de Camila Maccari, atualmente está disponível em segunda edição pela mineira Autêntica Contemporânea. Projeta-se assim para o Brasil (e, seguramente, em breve para o exterior) uma obra que inicialmente fora lançada pela Bestiário, em 2020.
O entusiasmo que marcou a acolhida dessa obra junto a leitores e à crítica fica de pronto saliente diante do sucesso em certames literários. O romance foi finalista do Prêmio AGES (da Associação Gaúcha de Escritores), do Prêmio Academia Rio-Grandense de Letras e do Prêmio Mozart Pereira Soares, e venceu o Prêmio Açorianos de Literatura na categoria Narrativa Longa, o mais prestigioso em âmbito de Estado. Essa atenção de parte do júri é plenamente justificada.
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Uma vez que lida com um tema central muito sensível, o de uma criança sendo confrontada com a dura realidade da morte iminente de alguém a quem é muito ligada, naturalmente requer coragem para escrever, ainda mais em se tratando de ficção. Camila equilibra-se à perfeição, e com absoluta verossimilhança, ao descrever os sentimentos da pequena Maria. Esta mora com os pais, agricultores, e o irmão mais novo, Rui, em uma casa que se pode chamar de geminada, em localidade interiorana. Na outra metade da casa moram um tio, irmão do pai, e sua esposa, além do primo Germano.
Quando Rui precisa ser submetido a um tratamento de saúde na cidade, entre idas e vindas de casa para o hospital, a rotina é colocada em suspenso. Enquanto auxilia os familiares a dar andamento às tarefas domésticas, em certa ocasião ela capta a informação de que Rui seria “terminal”. É a partir desse momento que todas as emoções se intensificam e se multiplicam, e em que se revela a capacidade indiscutível de Camila de prender a atenção do leitor, e de comovê-lo.
Dias de silêncio, mas com esperança
Formada em Comunicação Social, Camila Maccari nasceu em Sarandi, em 1992, e reside em Porto Alegre, onde atua como jornalista e redatora publicitária. Conforme comentou em entrevistas, o ingresso na literatura não chegava a ser projeto imediato em sua vida, mas seu romance de estreia, Dias de se fazer silêncio, evidencia que a habilidade na escrita sem dúvida a direcionaria para essa área.
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Foi durante o mestrado em Escrita Criativa na PUCRS que desenvolveu aquele que se transformaria em seu livro de estreia, com o aval do professor Luiz Antonio de Assis Brasil. Salienta que o romance estava concluído em 2017, mas não se animou a publicá-lo logo. Isso só aconteceu em 2020, quando saiu pela Bestiário.
O estilo de Camila revela segurança e sensibilidade. É uma estratégia em sintonia com o desafio de descrever a intimidade de uma personagem que, se habita a infância, está no limiar da adolescência e é confrontada com dramas da vida adulta. Entre muitas passagens comoventes estão as visitas à família da parteira da localidade. Em meio à dor, é como se esta tivesse a missão de fazer renascer a esperança em Maria e nos demais, sob a liderança clara das mulheres (os homens atuam de maneira periférica). Assim, os dias de fazer silêncio podem ser superados através da habilidade de enunciar (ou de verbalizar) os sentimentos.
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